segunda-feira, 25 de abril de 2011

Passione, por Carlos Antunes


Título original: Passione
Realização: John Turturro
Elenco: John Turturro, Mísia, Fiorello e Lina Sastri

Aquilo a que Turturro chama uma Aventura Musical é uma experiência cinematográfica apaixonada e inrotulável.
O filme mistura um relato pessoal, imagens de arquivo e a teatralização de algumas letras de músicas.


Turturro partiu à procura da música de Nápoles de uma forma original, cruzando-as com os arranjos de música de outras latitudes.
Isso não proporciona apenas um entendimento das relações que há entre a música de geografias diferentes, do grau de familiaridade entre os sons dos países junto ao Mediterrâneo (e não só), mas algo muito mais importante, uma relação do espectador estrangeiro com uma sonoridade local muito específica.


Para quem não conhece Nápoles e a sua música, reconhecer um ponto de origem facilita a chegada a uma música deliciosa.
A música torna-se numa visão ainda "estrangeira" de quem quer penetrar na alma da cidade.
Conjugam-se as identidades de quem vê e do que é visto, como de quem canta e do que é cantado.
Seria impossível Turturro filmar como um local e dar uma descoberta fiel a quem nunca lá esteve, tal como lhe seria impossível dar algo a descobrir aos próprios habitantes de Nápoles se se limitasse a fazer um documentário vulgar.
O seu mérito é ter conjugado duas forma de olhar a cidade, dando a qualquer espectador algo de novo.


Mais do que a música - fantástica, fascinante, inesquecível - fica a ironia e a paixão de um local que canta de forma a melhor olhar a própria vida.
Numa das cidades em que imaginamos facilmente a vida a suplantar a ficção, a representação - ora burlesca, ora arrebatada, ora sensual - das letras cantadas torna o conteúdo e o sentido da música mais perceptível e mais sentido.
A imagem serve a música, adensa-a e torna-a universal, apesar da sua língua ser sempre o italiano.


Talvez Passione esteja longe de ser um filme tal como esperamos entendê-lo. Poderia ser um musical encontrado vagueando pelo interior de uma cidade.
Algo como um concerto filmado in loco e representado como uma verdadeira comédia de costumes, por vezes operática, outras simplesmente irónica.
É uma experiência, uma aventura tal como Turturro a designou. Basta aproveitar o passeio e a descoberta.



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