segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Capitão América: O Primeiro Vingador, por Carlos Antunes

  

Título original: Captain America: The First Avenger

Capitão América: O Primeiro Vingador proporciona a mesma sensação da leitura da banda desenhada - sobretudo tal como ela era na altura em que começou a ser publicada - como tem sido raro nos filmes que vêm preparando caminho para The Avengers.
Tem o benefício de se inserir num período em que tem de justificar menos ligações a uma modernidade realista e no qual a distinção entre heróis e vilões era mais evidente.
Daí vem uma maior liberdade que permite misturar, sem artíficios estranhos, o humor e a dureza.
Para Joe Johnston este parece mesmo ser o cenário ideal com o retorno aos filmes de aventuras com que se familiarizou. Desde logo com os nazis como oponentes da sua personagem principal tal como no que era o seu melhor filme até agora, The Rocketeer.
Como nesse filme - e nos Star Wars e Indiana Jones em que participou como responsável pelos efeitos visuais - ele pode explorar a aventura em vez da acção. E até visualmente consegue sublinhar a genealogia deste filme e acrescentar os traços dos filmes de guerra que estão embrenhados na memória cinéfila.
A inserção de elementos extraordinários no seio de um período histórico bem conhecido é um risco mas é também uma fonte de liberdade se considerarmos que o público terá uma aceitação do papel da imaginação em vez de uma exigência de plausabilidade mínima.
Dos poucos momentos em que surge é possível ver na Feira do Futuro os traços do que viria a ser a reinvenção aventurosa daquele período (pensemos num exemplo ainda recente, como Sky Captain and the World of Tomorrow).
E quando o uniforme colorido surge na frente de batalha, entre os soldados, dá um sentido de divertido destom que é plausível pela forma como foi construída a chegada a esse ponto.
São muitas comparações para um filme que acaba por valer por si mesmo à conta do empenho de Chris Evans e da secundarização de Tommy Lee Jones e Hugo Weaving. Qualquer um deles os dois não está a fazer mais do que já sabíamos que eram capazes, mas ainda o fazem bem.
São muitas comparações para um filme a que não se assinala nada sobremaneira original e que, mesmo assim, resulta em refrescar o tom do que está a contar.
O filme é sempre mais interessante quando se foca em Steve Rogers e não no Capitão América, ou pondo de outra forma, quando explora uns traços de construção de personagem e não tem de resolver a trama com as sequências de acção do último terço do filme. E isso também contribuiu para o apreço do filme.
E era desnecessário, por exemplo, incluir o interesse romântico para um personagem que acabaria por desaparecer por 60 anos. Como era desnecessário manter uma série de referências que só interessam a quem já era fã da BD.
Essas são as condições que se aceitam ao ir ver este género de filmes e das quais não se pode reclamar (demais). Até porque neste caso resultam, de maneira inesperada, em dar um pouco mais de sabor ao filme.


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