terça-feira, 13 de setembro de 2011

Burke & Hare, por Carlos Antunes



Título original: Burke and Hare
Realização: John Landis
Argumento: Piers Ashworth e Nick Moorcroft
Elenco: Simon Pegg, Andy Serkis e Tom Wilkinson

Uma dupla de realizadores ingleses que chegaram a tempo de apresentar no início da sessão um divertido trailer disseram que Burke & Hare era particularmente divertido nas suas referências inglesas.
Para mim foi motivo de breve receio que o humor se diluísse longe do público que lhe conhece as raízes, mas o filme mostra uma e outra vez que viaja bem para fora das ilhas Britânicas.
O humor do filme é universal, baralhando o físico e o verbal. E se nos falham referências, nem por isso rimos menos.
Uma comédia sobre a morte depende de que o público goste o suficiente das personagens que as executam para lhes perdoar os crimes.
Entre Simon Pegg e Andy Serkis não há risco dessa empatia falhar. São ambos comediantes dotados (já sabíamos isso no caso de um e é bom descobri-lo no caso do outro) sem deixarem cair o grau de humanidade das suas personagens que evita que sejam meros palhaços.
São personagens que estão no engenhoso negócio da sobrevivência e a venda de cadáveres é apenas mais uma forma desse negócio. Daí até à criação própria do material para o negócio é um passo.
Ajudado, claro, pelo incentivo de mulheres, figuras igualmente importantes que em nome do amor levam Burke e Hare para o caminho do homicídio, abertamente ou nem tanto assim.
São dois personagens censuráveis mas também adoráveis... Pobres coitados um pouco iludidos que só deixam sair a sua esperteza quando lhes interessa para não se arriscarem ter mais trabalho na vida.
Eles os dois, com o acompanhamento de um elenco bem escolhido e de um óptimo nível, executam na perfeição os seus momentos cómicos - nem sempre inovadores, mas eficazes.
Momentos cómicos que, felizmente, não tornam o filme numa sucessão de sketches. O argumento é desenvolto o suficiente para garantir a ligação eficaz de todos os momentos, ainda que nem sempre utilize o caminho mais inteligente para tal.
Argumento que dá ainda a oportunidade de Landis enveredar por terrenos um pouco mais dramáticos em direcção ao final, não deixando um gosto desagradável de uma comédia que perdeu toda a sensibilidade (e, até, sensatez) com o tema da morte em série em nome do dinheiro fácil.
Este é o tipo de filme que todo o público acima dos 25 anos tem na sua mente como um bom momento pessoal de um tempo de cinema mais descontraído. Em muitos casos com um outro filme, precisamente, de John Landis.
O realizador volta a dar-nos aquilo porque gostávamos dos filmes dele. Podemos já não ter a mesma disponibilidade para o aceitar tal como era antigamente, mas parece-me que a maioria do público vai reagir bem à experiência.


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