sábado, 10 de setembro de 2011

O Caçador de Trolls, por Carlos Antunes


Título original: Trolljegeren
Realização: André Øvredal

A reacção geral, à saída da sessão, é de desapontamento. A audiência esperava terror e não o sentiu.
De facto, Trolljegeren não é um filme de terror. É muitas outras coisas, mas não um filme de terror.
Mesmo quem está pouco familiarizado com a mitologia destas criaturas, terá, pelo menos, a vaga familiaridade proporcionada pela trilogia The Lord of the Rings e por um dos primeiros filmes da saga Harry Potter. Daí deveriam antever que estas criaturas são pouco convincentes como figuras de terror, já que lhes falta inteligência e destreza.
As figuras dos trolls andam pelo filme mas à sua frente andam temas e figuras muito mais interessantes.
Anda um velho caçador de personalidade vincada e dom para leading man que atira ao lixo muitos anos de trabalho, a par com a solidão e a desconfiança a que foi votado, que o obrigam a carregar o peso de muitas mortes de seres mal estimados.
Anda uma história que quando ganha ritmo combina bem o confronto grandioso e o drama individual, preenchendo o filme com momentos de aventura genuína onde as regras estão longe de serem agradáveis mas o seu desenrolar se torna atraente.
Anda uma reinterpretação moderna das bases dos mitos sobre trolls, com visões mais racionais e científicas para os fenómenos maravilhosos de antigamente. Uma reinterpretação que passa pela própria referencialidade a um imaginário que só um norueguês entenderá na totalidade.
Anda até um olhar postal sobre uma Noruega de paisagens imensas onde se pode facilmente sonhar com criaturas que ultrapassam a nossa compreensão racional do mundo.
Ainda para mais, anda tudo isto num filme carregado de humor, um humor que é universal e que se bate directamente contra a realidade burocrática e a mentalidade servil dos funcionários públicos ou da própria população.
Ninguém deixou passar os momentos de riso quando é preenchido o formulário que de matança de um troll, um rasto de papel que contraria o secretismo dominante, ou quando o funcionário olha para um círculo de postes de alta tensão e admite que nunca pensou porque não levavam energia a lado algum.
Apesar destas nuances que preenchem tudo o que não é mera aparência no filme, as pessoas não passaram para lá da ideia que tinham do que seria o filme.
Só encarando que o filme está repleto de elementos que o afastam do terror, seriam capazes de ver que o problema do filme é de outro tipo: a sua forma de compilação de imagens em bruto.
A ideia pode ter funcionado, pela sua mistura de estranheza e atracção, ao ser comercializado no seu país natal como um documentário sobre trolls. Criaturas de um imaginário vulgar que, no entanto, ninguém vê como eventual motivo para uma abordagem cinematográfica, certamente impossível no campo documental.
O filme é, todo ele, uma enorme partida às expectativas de um público alvo muito específico e, por isso, para o resto do público mundial o esquema de montagem a partir de filmagens genuínas é apenas uma forma à qual se exige um funcionamento à prova de erro.
Na sua maioria o esquema resulta, ainda que os riscos sejam grandes quando os seus limites de credibilidade são manipulados de forma a conseguir efeitos cómicos - a aparição da rapariga muçulmana - ou apenas visuais.
No entanto, sem ele, teria sido possível evitar o final abrupto e insatisfatório e explorar mais livremente os melhores aspectos do filme - o lado aventuroso e a personalidade do caçador - sem ter de obedecer a uma limitação estrutural que contraria a ideia de Hitchcock e que preenche o filme com as partes chatas da vida.
Sinto, desde a primeira vez que testemunhei este esquema narrativo, que ele é pobre e desviante à própria ideia de cinema, pelo que ter conseguido extrair tanto de bom do filme é sinal de que ele tem uma força de ideias dentro dele que conseguem ir superando a ideia primária que chamou a atenção para ele.
Quero com isso dizer que é um filme digno de muita atenção e poucas expectativas herméticas.


1 comentário:

  1. po cara vc tem uma fala dificil, pessoal aqui da minha turma leu varias vezes pra entender e solidificar a sua opiniao, ma sta valendo.
    o filme é bom
    Abraços

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