sábado, 10 de setembro de 2011

Hostel 2, por Carlos Antunes


Título original: Hostel: Part II
Realização: Eli Roth
Argumento: Eli Roth
Elenco: Lauren German, Roger Bart, Heather Matarazzo, Bijou Phillips, Richard Burgi e Jay Hernandez

Hostel 2 vem provar que há sequelas melhores que o original!
O que, francamente, não era difícil visto que Hostel foi uma das mais excruciantes e dolentes experiências cinematográficas nos (pelo menos) últimos dez anos. A primeira metade a meio caminho entre um soft-core e um American Pie sem graça e a segunda metade uma gratuidade gore sem interesse. No total, hora e meia sem qualquer esboço de narrativa, sem qualquer ideia de cinema e sem qualquer interesse.
Mas voltemos à sequela que é o que aqui nos traz. O filme começa por nos trazer de volta a personagem de Paxton para sabermos que ele vem sendo assombrado por pesadelos e que, mesmo refugiado num lugar recôndito, acabará morto.
Esta sequência inicial, com cerca de 15 minutos, tem a intenção de proporcionar ao espectador uma sensação de familiaridade, mas na verdade não contribui em nada para o filme. Aliás, prejudica-o, consumindo tempo que estaria muito melhor empregue no desenvolvimento de algumas ideias de que falarei mais abaixo.
Depois, três americanas a estudar Arte em Roma são convencidas pela sua modelo a viajarem às melhores termas da Europa. Simultaneamente, dois americanos, amigos, vivendo uma vida banal, procuram uma nova excitação depois de já terem percorrido todos os parísos sexuais do globo.
Eli Roth, apercebendo-se que o modelo do primeiro filme se havia desde logo esgotado a si mesmo, soube enveredar aqui por uma alternativa válida, explorando em paralelo o caminho das vítimas e dos utentes do serviço de morte.
Daí que os que os que gostaram de Hostel devido ao seu gore, acabarão por sair daqui um pouco desapontados, visto que esse aspecto está aqui reduzido, suplantado por uma caracterização mais extensa (embora não sem falhas) quer das personagens quer do ambiente que as rodeia.
Entre as raparigas, a “líder” é uma menina milionária, bastante sensata. As outras são o oposto uma da outra, uma extremamente extrovertida e sexualmente activa, a outra introspectiva e ingénua. Entre os dois amigos, um apresenta-se sedento de “acção” enquanto o outro parece assustado com a ideia de matar alguém.
O caminho de ambos os grupos acabam por se cruzar ainda antes das salas de morte, numa festa local que celebra a violência e o paganismo, o medo e o Mal.
É esta uma das ideias mais interessantes do filme, quando Roth mostra que a violência está sediada na própria concepção da Humanidade, sendo fonte de entretenimento. Toda a cena desta festa é discreta mas eficaz.
Já as restantes boas ideias acabam por ter pouco tempo para se desenvolver, culpa dos tais 15 minutos iniciais. O leilão das vítimas, por exemplo, é um acontecimento vertiginoso que não permite compreender se os licitadores são milionários sem mais nada a experienciar na vida ou pessoas tão normais como o próprio espectador.
Também o jogo de aproximação entre assassino e vítima acaba por ficar algo curto e demasiado discreto, visto que a ligação entre a personagem de Lauren German remete-nos para a mulher de Roger Bart pela sua aparência, o que ajuda a compreender a motivação dele e a sua transformação. E é, infelizmente, com as personagens que volta a haver falhas.
No final ao analisá-las, vemos que no fundo elas são sempre ou “pretas” ou “brancas” e nem mesmo as respectivas metamorfoses conseguem dar-lhes o tom de cinzento desejado. Há um sentido de funcionalidade e obrigatoriedade nessas transformações.
A excepção parece ser a personagem de Bart que, é a única personagem que não é rica e mimada ou simplesmente um estereótipo que permite à narrativa avançar, mas verdadeiramente um homem comum que chega à posição de assassino devido à vida que leva.
Para a memória ficam os bons trabalhos de Lauren German e Roger Bart e, sobretudo, duas cenas. A primeira, a provar que uma foice e um corpo desnudo podem ser um conjunto de brutal (literalmente) sensualidade, A segunda, a cena final, demonstrativa do apagamento da emoção no ser humano e uma das mais cómicas e pungentes do ano.


Publicado originalmente a 17 de Agosto de 2007

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