terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pintu terlarang, por Carlos Antunes


Título original: Pintu terlarang
Realização: Joko Anwar
Argumento: Joko Anwar
Elenco: Fachry Albar, Marsha Timothy e Ario Bayu

Este é um filme que merece uma certa simpatia ainda que não mereça admiração. Um filme com uma sucessão de bons segmentos que não se conjuga num todo.
Traz-nos reminiscências de Cronenberg e Lynch sem ir directamente aos mesmos lugares onde os dois realizadores vão buscar inpiração ou tentar os mesmo efeitos demenciais (sem sentido perjorativo mas com sentido admirativo) com que a demonstram.
É um filme que parte de um ponto em que explora o fantasma da culpa - e a sua perturbada preservação física - cujo conhecimento o resto do mundo adora cobiçar.
Os motivos de terror que esse início apresenta seriam suficientes para um filme muito interessante, mas antes que alguma espécie de conclusão - ou sequer de verdadeiro desenvolvimento - seja obtida com o tema este é deixado para trás.
Outro toma-lhe logo o seu lugar, com afinidades claras mas sem uma ligação lógica. Trata-se do voyeurismo moderno da dor, o entretenimento macabro feito da realidade.
O tema vira-se, então, para o thriller e este passa a ser o bloco mais importante do filme - tornando virtualmente inconsequente o longo pedaço inicial - que volta a perder o foco de uma conclusão do seu tema quando se encaminha pouco discretamente para um desfecho que tem menos a ver com o tema do que com a individualidade do atormentado protagonista.
O exagero sanguinolento desse final, bem filmado - como todo o filme, aliás - mas sem nenhum respeito por qualquer realismo que ajude a sedimentar o filme dá uma resolução que existe por si só, com pouca atenção ao que a precedeu, algo que nesse momento se torna um problema recorrente do filme.
Mas esse não é o verdadeiro final. Falta ainda abrir a porta do título - que esteve sempre coberta e que, por isso, sabemos que guarda a reviravolta que comporá tudo.
O verdadeiro final chega, então, mostrando-se facilista mesmo se compõe a temática comum a todos os segmentos: a infância como terreno fértil para o terror da idade adulta.
Mas este final é mais preguiçoso do que elegante. Uma reviravolta que se tem tornado demasiado comum e que pode ser usada sem critério claro pois é um deus ex machina que serve para qualquer efeito mas a (quase) todos desvirtua.
Reafirma que o terror existe apenas na mente e não pode ser físico. E isso deturpa também a leitura (social e humana) da culpa e da exploração dos terrores anteriores.
Quem ficou para lá dos créditos ainda pôde ver um trecho que torna ainda menos interessante o mistério desse final, antes pelo contrário, tornando banalíssimo.
No final, o mais memorável é mesmo o genérico inicial tão bem desenhado e musicado. Do resto ficou uma selecção de bons momentos espaçados.



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