sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Artista, por Tiago Ramos


Título original: The Artist (2011)
Realização: Michel Hazanavicius
Argumento: Michel Hazanavicius
Não há como negar que estamos perante um filme, no mínimo, mimoso. É inegável o seu carácter comovente, a sua estrutura feel good movie e o seu carisma. Mas não deixa de ser inegável também que o seu valor é altamente empolado pela crítica e premiações, na estrutura de um filme comum embrulhado nnesta onda revivalista e saudosista do cinema. Visto como uma homenagem ao cinema mudo, O Artista acaba por soar artificialmente ao, invés de encontrar uma personalidade própria, tentar emular êxitos passados através de clichés técnicos do cinema mudo e, narrativamente,  um misto entre Singin' in the Rain e Sunset Boulevard.

Não deixa de ser curioso como a narrativa do filme, consegue ser tão contrastante ao simultaneamente glorificar o passado na forma do cinema mudo como criticar as atitudes conservadoras (um George Valentin que resiste à evolução para o cinema sonoro). E se falamos em conflito não deixamos de estranhar quando vemos estéticas como a do cinema dos anos 20 (com um tratamento de som semelhante, por exemplo) em sintonia com close-ups das personagens mais consolidados nos anos 60 e planos rápidos e abertos, comuns dos anos 80. A nível interpretativo, o único e verdadeiro destaque é Jean Dujardin, que consegue efectivamente soar de forma genuína. O seu desempenho é um desempenho de cinema mudo, é expressivo e vivo. Já o de Bérénice Bejo não é particularmente interessante, já que é precisamente o mesmo de um filme actual, mas que depois beneficiou do preto e branco e ausência de som, na pós-produção. Michel Hazanavicius revela-se perito em pastiches, já que é comummente conhecido pelas paródias a James Bond, com os filmes do agente OSS 117 (interpretados por Jean Dujardin), mas mantém uma competência técnica bastante elevada.

É curiosa ainda esta onda recente de saudosismo no cinema que já se fez - especialmente numa altura em que Hollywood carece de originalidade - presente este ano em filmes como Midnight in ParisSuper 8, Hugo, The Muppets ou War Horse. É a eterna ilusão que a época dourada do passado (qualquer que seja) era bem melhor que os dias actuais. Essa celebração do passado idílico (que talvez afinal nem tenha existido) confunde-se precisamente com qualidades de uma grande obra. E dentro dessa confusão, aí sim, percebe-se o carinho e reconhecimento de O Artista, que apesar de tudo, não deixa de ser simpático como é.



Classificação:

4 comentários:

  1. Tal como já tínhamos falado, e apesar de eu dar uma "classificação menor", estamos mesmo de acordo acerca do filme.

    No cômputo geral, o desejo de nostalgia é tão grande que O ARTISTA parece tudo menos "nostálgico"...

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    1. E nem quis falar no que tantos apelidam como uma vitória do cinema estrangeiro em Hollywood... quando é um filme de produção francesa mas claramente à "pesca" de prémios americanos.

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  2. Li e ouvi opiniões muito diversas sobre esse filme. Ainda esta semana assistirei. Mas desde já me irrita muito essa "onda" saudosista que na verdade é uma desculpa para não ousar e criar (ou tentar, pelo menos) algo novo ou inusitado ou seja lá o que. E é bastante irônico que a grande novidade ou o sopro de criatividade seja um filme mudo ou que nos remeta ao passado idílico "que talvez afinal nem tenha existido", como você disse bem.

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  3. "O Artista": 4*

    O filme "O Artista" é uma lufada de ar fresco para a época em que estreou.
    Mas este "The Artist" não é perfeito.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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