sábado, 18 de fevereiro de 2012

Paixão, por Tiago Ramos


Título original: Paixão (2012)
Realização: Margarida Gil
Argumento: Margarida Gil
Elenco: Carloto Cotta e Ana Brandão

A paixão a que Margarida Gil se refere de forma tão literal é a sua definição teórica. É uma perturbação tão violenta quanto obsessiva, mais opressiva que libertadora, aprisionadora, claustrofóbica e fechada. Contudo o problema em Paixão e também em certa filmografia da cineasta portuguesa (que encerra em si tanto potencial ainda por libertar) é precisamente o formalismo teórico que é transportado de uma forma tão literal e pouco verdadeira, criando um objecto demasiado rígido que nunca faz o espectador acreditar. E mesmo que seja essa a intenção da autora, a verdade é que não o torna menos vazio. Aos actores nunca lhes é dado espaço de manobra para trabalharem o argumento e diálogos pouco além da pura declamação poética. E isso com grande pena para Carloto Cotta que é reduzido a um mero corpo (far-se-á a paixão apenas de corpos bonitos?) e Ana Brandão que, apesar da grande actriz que é, fica restrita a declamar frases mais ou menos vazias, entre a beleza e a superficialidade.

Contudo, a forma como essa teoria é filmada a par da notável e belíssima direcção de fotografia de Acácio de Almeida (A Sombra dos Abutres) faz de Paixão um filme repleto de belos quadros. E essa beleza faz o espectador sentir-se, a espaços numa dimensão paralela, simbólica, quase fábula. Artificialmente construída, como se fosse também a paixão todo essa plasticidade e fosse o filme mais para sentir do que para perceber. Toda uma dimensão sensorial entre uma história que entrelaça o conceito de vítima e predador, que os funde e confunde, que os une na mesma paixão obsessiva e perturbadora, quase encantatória. E tudo isso é bonito. E possível. Mas não deixa de ser um filme vazio. E lamentamos porque em tanta paixão havia espaço para melhor.


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