quarta-feira, 14 de março de 2012

Bellflower, por Tiago Ramos


Título original: Bellflower (2011)
Realização: Evan Glodell
Argumento: Evan Glodell
Elenco: Evan Glodell, Tyler Dawson e Jessie Wiseman

Com o aumento da possibilidade de acesso ilimitado a um sem-número de informações, a verdade é que hoje em dia é difícil não estabelecer comparações. Positivas ou não (podem destruir ou o aumentar o impacto de um filme), dificilmente resistimos a olhar para Bellflower de um ponto de vista comparativo. Sim, porque na filmografia recente existem duas interessantes obras que, se quiséssemos ser absolutamente sintéticos, poderiam resumir de certa forma (sempre redutora, claro) a sensação no final de Bellflower: é mistura de Drive (2011) e Blue Valentine (2011). Levantada agora a questão dúbia e quase irresistível (que não explicaremos e deixaremos para o espectador concordar ou não), damos um passo atrás e admitirmos que apesar de encontrarmos muitas e interessantes referências há aqui muita originalidade e irreverência. Sob o epíteto do novo cinema independente norte-americano, encontramos um objecto que curiosamente lhe resiste de forma corajosa. Não há meios termos em Bellflower. E daí que a apreciação global dele resultará precisamente em extremos: ou se gosta ou não. Mas é difícil não admitir que estamos perante um exercício de estilo vigoroso, enérgico e visualmente electrizante.

Do filme destaca-se de imediato fotografia saturada e de filtros amarelos fortes de Joel Hodge e uma fantástica banda sonora original de Jonathan Keevil, complementada com temas de Lykke Li, Chromatics e Santigold. Uma estética muito pessoal, um estilo quase trash, série-B, montado de forma dinâmica, de narrativa não linear e uma imagética muito forte. É verdade que grande parte do sucesso do filme é reflectido precisamente dessa forma arrojada e explosiva de mostrar as coisas, de mostrar referência pop (até a Mad Max) e embora o argumento não seja isento de falhas, apresenta-nos uma interessante e bela história sobre jovens adultos e o alcançar da maturidade. As interpretações dos protagonistas Evan Glodell, Tyler Dawson e Jessie Wiseman têm tanto de amador, quanto de genuíno, contribuindo para toda esta atmosfera singular, quase um misto entre um estilo documental e onírico.

Um filme negro, a espaços violento, que não tem receio de mostrar a visão única do seu autor, Evan Glodell (simultaneamente produtor, argumentista, realizador, actor e editor), um jovem claramente a manter debaixo de olho. Destrutivo, obsessivo, niilista e encantador.


Classificação:

1 comentário:

  1. Totalmente de acordo!

    Está aqui um dos melhores filmes a passarem por Portugal nesta primeira metade do ano... e quase ninguém o viu nem ouviu falar dele!

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