Ao terceiro dia, muito para ver por Cannes. Na competição oficial, o italiano Matteo Garrone regressa à competição depois de ter vencido o Grande Prémio do Júri com Gomorrah (2008), apresentando Reality que se move agora pelos terrenos da comédia italiana, mas sempre com sarcasmo e crítica ao mundo dos reality shows, do telelixo e da ânsia por celebridade. A crítica considerou que o filme "move-se com agilidade na comédia social à moda antiga", embora haja quem considere que o assunto já foi largamente explorado e "Garrone não tem nada mais a acrescentar". Aliás há quem ache "desapontador que Reality seja tanto ideológico como narrativamente leve, apesar de técnica e esteticamente sejam de topo", mas a maioria destaca o filme como "uma elegante revisitação da velha comédia italiana".
Também a competir pela Palma de Ouro, o austríaco Ulrich Seidl apresentou Paradise: Love que foi considerado como uma confirmação da "sua reputação agressiva oferecendo outro filme avassalador que provoca reflexões inéditas e estimulantes, ainda que fortes e polémicas" e que o filme "vagueia entre o verdadeiro e o falso sem perder tempo com moralismos ou evidências". Contudo muitos acham que "falha na tentativa de examinar temas como o sexo, raça ou o neo-colonialismo".
A secção Un Certain Regard apresentou o grande vencedor do prémio do Júri no Festival de Sundance 2012: Beasts of the Southern Wild. Filme que muitos consideram como um sério candidato à próxima temporada de prémios, incluindo os Óscares e que "renova a esperança no futuro do cinema norte-americana". A crítica encontrou semelhanças àquilo que chamam de "estética malickiana com um olhar poético e filosófico", num dos "filmes mais bonitos e tocantes dos últimos anos" e na "fabulosa prestação de Quvenzhané Wallis, de apenas 6 anos" e que alguns consideram merecedora de uma nomeação ao Óscar.
Também na mesma secção, o jovem canadiano Xavier Dolan regressa pela terceira vez, depois de ter vencido por duas vezes o prémio Regard Jeunes, com Laurence Anyways e onde pela primeira vez não integra o elenco. O jovem realizador "regressa ao seu estilo num filme com muito para gostar, mas também excessivo", destacando Melvil Poupad e Suzanne Clément que "trazem ao filme muito vigor, paixão e intensidade", com um "argumento tão impressionante quanto a sua realização, tão ambiciosa quanto admirável". Contudo apontam mais uma vez os seus estilos num "estilo demasiadas vezes consciente de si próprio, com uma voz demasiado pronunciada".
Nas sessões especiais destacam-se Mekong Hotel, de Apichatpong Weerasethakul (vencedor da Palma de Ouro em 2010 com Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives), um filme que "entre a realidade e a ficção vagueia por uma acção nem sempre muito linear", mas que na realidade é visto como um "ensaio destinado a retrospectivas e devotos"; e Polluting Paradise, de Fatih Akin, descrito como um "documentário ambiental que é na realidade mais uma ferramenta de campanha que uma reportagem objectiva".
Ao quarto dia de competição deu-se também a estreia de Lawless, novo filme de John Hillcoat, com "muita adrenalina, mas apesar de um grande elenco, não passa de um vulgar filme de gangsters". Sentimento aliás generalizado, há quem afirme que "tem poucas ideias dentro do seu estilo polido". Contudo e mesmo que a meio fique "emaranhado no seu argumento", há quem afirme que "graças ao seu elenco será um dos filmes mais memoráveis do ano".
Outro regresso do dia: o romeno Cristian Mungiu com Beyond the Hills, depois de ter vencido a Palma de Ouro em 2007 com 4 Months, 3 Weeks and 2 Days, num filme descrito como uma "história de amor totalitário e obsessivo que é igualmente uma poderosa crítica ao sistema político e social da Roménia, pós-Ceausescu", não deixando porém de haver quem considere o seu discurso "um pouco limitado e repetitivo". Elogia-se a "composição impecável e convicente".
Já na secção Un Certain Regard parece que quem surpreende a sério é a estreia de Brandon Cronenberg (filho de David Cronenberg) com Antiviral, considerado um "retumbante sucesso, dirigido com precisão e convicção". Apesar das comparações com o cinema de David Cronenberg com "ocasionais ecos visuais e conceptuais", Brandon "estabelece a sua própria voz".
"Mekong Hotel": 1*
ResponderEliminar"Mekong Hotel" é um dos piores filmes que vi ultimamente, é bastante confuso e muitíssimo aborrecido.
Cumprimentos, Frederico Daniel.