Título original: Corpo Celeste (2011)
Realização: Alice Rohrwacher
Argumento: Alice Rohrwacher
Elenco: Salvatore Cantalupo, Anita Caprioli, Renato Carpentieri e Yle Vianello
Do ponto de vista do espectador português há uma interessante visão em Corpo Celeste que é a da fácil identificação com a história. Principalmente porque o interior rural de Itália não é assim tão diferente do interior rural em Portugal, também ele muitas vezes religioso, com fortes ideias pré-concebidas e estereótipos e com uma maior intrusão dos habitantes das aldeias na vida dos moradores. Não que esse seja o destaque do filme, mas a sua contextualização em termos de ambiente é de facto importante para o desenrolar dos acontecimentos e beneficiam em muito a sua visualização. Porém aquilo que poderia ter sido apenas um retrato crítico de uma sociedade religiosa, tornou-se às mãos da estreante Alice Rohrwacher muito mais que isso: o retrato do crescimento e auto-descoberta de uma jovem protagonista de apenas treze anos. O corpo de Cristo que aquela Igreja quer orgulhosa e ostensivamente mostrar e que tanto a protagonista teima em perceber o seu significado, é também ele o corpo em mudança de uma jovem, presa a um corpo que não conhece, presa a um olhar alheio e rígido que não compreende. Uma jovem que não compreende o que está a sentir e que inicia a sua própria via sacra em plena auto-estrada, uma viagem de auto-descoberta que é também ela a revelação da hipocrisia social da comunidade em que vive.
O olhar de Alice Rohrwacher faz recordar o cinema de Lucrecia Martel na sua composição social, desconfortável e subtil. Assumindo um tom que inicialmente adquire uns ecos de comicidade não-propositada que vai subindo gradualmente num clima altamente tenso, perpetuado pelo olhar da jovem Yle Vianello, que mesmo sem grandes diálogos, carrega em si e num olhar quase opaco, toda a confusão do início da adolescência. À sua volta, o que facilmente para uns poderá parecer um ataque à religião católica, é menos isso que o questionamento de uma jovem perante aquilo que lhe é apresentado como dogma. Tanto no sentido religioso como no sentido físico. E aquela cerimónia de comunhão que lhe é imposta ocorre na realidade antes de acontecer no sentido literal: ocorre quando simbolicamente sente a libertação do seu corpo de menina, ocorre quando percebe que até Jesus era chamado de louco.
Corpo Celeste é um filme menos literal e mais simbólico do que aparenta. É na realidade um conto sobre a adolescência e o crescimento, visto pelo olhar de quem o sente e de quem o passa. É também o suficiente para ficarmos com uma jovem realizadora debaixo de olho.
Do ponto de vista do espectador português há uma interessante visão em Corpo Celeste que é a da fácil identificação com a história. Principalmente porque o interior rural de Itália não é assim tão diferente do interior rural em Portugal, também ele muitas vezes religioso, com fortes ideias pré-concebidas e estereótipos e com uma maior intrusão dos habitantes das aldeias na vida dos moradores. Não que esse seja o destaque do filme, mas a sua contextualização em termos de ambiente é de facto importante para o desenrolar dos acontecimentos e beneficiam em muito a sua visualização. Porém aquilo que poderia ter sido apenas um retrato crítico de uma sociedade religiosa, tornou-se às mãos da estreante Alice Rohrwacher muito mais que isso: o retrato do crescimento e auto-descoberta de uma jovem protagonista de apenas treze anos. O corpo de Cristo que aquela Igreja quer orgulhosa e ostensivamente mostrar e que tanto a protagonista teima em perceber o seu significado, é também ele o corpo em mudança de uma jovem, presa a um corpo que não conhece, presa a um olhar alheio e rígido que não compreende. Uma jovem que não compreende o que está a sentir e que inicia a sua própria via sacra em plena auto-estrada, uma viagem de auto-descoberta que é também ela a revelação da hipocrisia social da comunidade em que vive.
O olhar de Alice Rohrwacher faz recordar o cinema de Lucrecia Martel na sua composição social, desconfortável e subtil. Assumindo um tom que inicialmente adquire uns ecos de comicidade não-propositada que vai subindo gradualmente num clima altamente tenso, perpetuado pelo olhar da jovem Yle Vianello, que mesmo sem grandes diálogos, carrega em si e num olhar quase opaco, toda a confusão do início da adolescência. À sua volta, o que facilmente para uns poderá parecer um ataque à religião católica, é menos isso que o questionamento de uma jovem perante aquilo que lhe é apresentado como dogma. Tanto no sentido religioso como no sentido físico. E aquela cerimónia de comunhão que lhe é imposta ocorre na realidade antes de acontecer no sentido literal: ocorre quando simbolicamente sente a libertação do seu corpo de menina, ocorre quando percebe que até Jesus era chamado de louco.
Corpo Celeste é um filme menos literal e mais simbólico do que aparenta. É na realidade um conto sobre a adolescência e o crescimento, visto pelo olhar de quem o sente e de quem o passa. É também o suficiente para ficarmos com uma jovem realizadora debaixo de olho.
Classificação:
Estou precisando encontrar este filme para locação ou para compra do DVD e não encontro em lojas especializadas. Pode me dar uma dica de onde possa encontrá-lo? Obrigado!
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