Título original: La piel que habito
Realização: Pedro Almodóvar
Argumento: Pedro Almodóvar e Thierry Jonquet
A Pele Onde Eu Vivo começa num clima de especulação científica, explorando os limites literais do título, com a abordagem a uma pele humana geneticamente alterada que coloca em causa os limites éticos da ciência.
O primeiro terço do filme funciona num registo a que Almodóvar é estranho e isso nota-se na forma constrita como ele a filma, confundindo a frieza clínica que quer representar com uma falta de estilização.
Esta primeira parte quer estabelecer a personalidade do doutor Ledgard, amoral e obcecado, mas torna-se inútil quando Almodóvar introduz abruptamente o melodrama exagerado que é mais do seu apreço.
Um homem vestido de tigre arrasta consigo um excesso representativo que serve de muito pouco no competo geral do filme, mas que tem o seu pior efeito sobre a narrativa, já de si vaga e fragmentária.
Toda a cena serve apenas um resultado final que poderia ter sido atingido por outros meios, mais cínicos e convincentes, certamente mais de acordo com o que o filme aparentava ser.
Quando esse resultado se torna visível e Ledgard e a sua cobaia Vera estão na cama - superando a relação de domínio para se tornarem pares mas, sobretudo, para ver o médico ceder à tentação que se anunciava desde o início - Almodóvar dá o nó final na narrativa.
Um nó que não era possível desatar e que encurrala o sentido do filme porque destrói a dúvida cedo demais.
Almodóvar recorre às memórias sonhadas de ambas as personagens para revelar de que maneira os seus passados se cruzaram e, sobretudo, para revelar quem foram realmente e porque estão ambos presos mutuamente naquela clínica isolada.
O volte-face narrativo dá-se demasiado cedo e retira a possibilidade de manobrar em paralelo tempos narrativos, algo que era indispensável para o filme falar de perversidade, retribuição e da confusão entre ambos os conceitos.
O filme, depois, só pode mesmo encaminhar as personagens para o ponto em que já estavam antes, obrigando o público a sofrer durante muito tempo aquilo que uma dedução rápida já permitiu concluir.
Nesse período do filme Almodóvar insinua a sua exploração de temas que lhe serão mais pessoais, sobretudo a identidade do género e a adaptabilidade que se pode ter a qualquer um dos sexos sugerindo pois a sua convivência permanente em cada ser humano.
Mas aquilo que realmente fica para a memória desses momentos do passado de cada personagem é o protagonismo dado a mais uma interpretação musical, invasão agradável mas insensata de um tique que o realizador viu ser elogiado até uma suposta marca de estilo.
No momento final, de volta ao presente do início do filme, a conclusão só pode mesmo ser a de falso thriller tal como é apresentada. A forma mais banal de conclusão para um filme que se espraiou por tantas hipóteses para regressar à menos imaginativa e de menor significado, mas certamente a mais melodramática.
A Pele Onde Eu Vivo revela-se o ponto mais vincado de um declínio autoral de Almodóvar, um realizador em replicação dos seus próprios métodos, vícios e temas.
Um realizador que se torna cada vez menos rico à medida que, enquanto narrador, se torna cada vez mais complexo de uma forma mal estruturada que prejudica o filme (sobretudo pela quantidade de erros que cria e de buracos deixa pelo caminho).
O único elogio possível a este filme fica para a banda sonora de Alberto Iglesias, sugestiva dos ambientes que Almodóvar não soube criar por outros meios e que se infiltra por completo no espectador.
O primeiro terço do filme funciona num registo a que Almodóvar é estranho e isso nota-se na forma constrita como ele a filma, confundindo a frieza clínica que quer representar com uma falta de estilização.
Esta primeira parte quer estabelecer a personalidade do doutor Ledgard, amoral e obcecado, mas torna-se inútil quando Almodóvar introduz abruptamente o melodrama exagerado que é mais do seu apreço.
Um homem vestido de tigre arrasta consigo um excesso representativo que serve de muito pouco no competo geral do filme, mas que tem o seu pior efeito sobre a narrativa, já de si vaga e fragmentária.
Toda a cena serve apenas um resultado final que poderia ter sido atingido por outros meios, mais cínicos e convincentes, certamente mais de acordo com o que o filme aparentava ser.
Quando esse resultado se torna visível e Ledgard e a sua cobaia Vera estão na cama - superando a relação de domínio para se tornarem pares mas, sobretudo, para ver o médico ceder à tentação que se anunciava desde o início - Almodóvar dá o nó final na narrativa.
Um nó que não era possível desatar e que encurrala o sentido do filme porque destrói a dúvida cedo demais.
Almodóvar recorre às memórias sonhadas de ambas as personagens para revelar de que maneira os seus passados se cruzaram e, sobretudo, para revelar quem foram realmente e porque estão ambos presos mutuamente naquela clínica isolada.
O volte-face narrativo dá-se demasiado cedo e retira a possibilidade de manobrar em paralelo tempos narrativos, algo que era indispensável para o filme falar de perversidade, retribuição e da confusão entre ambos os conceitos.
O filme, depois, só pode mesmo encaminhar as personagens para o ponto em que já estavam antes, obrigando o público a sofrer durante muito tempo aquilo que uma dedução rápida já permitiu concluir.
Nesse período do filme Almodóvar insinua a sua exploração de temas que lhe serão mais pessoais, sobretudo a identidade do género e a adaptabilidade que se pode ter a qualquer um dos sexos sugerindo pois a sua convivência permanente em cada ser humano.
Mas aquilo que realmente fica para a memória desses momentos do passado de cada personagem é o protagonismo dado a mais uma interpretação musical, invasão agradável mas insensata de um tique que o realizador viu ser elogiado até uma suposta marca de estilo.
No momento final, de volta ao presente do início do filme, a conclusão só pode mesmo ser a de falso thriller tal como é apresentada. A forma mais banal de conclusão para um filme que se espraiou por tantas hipóteses para regressar à menos imaginativa e de menor significado, mas certamente a mais melodramática.
A Pele Onde Eu Vivo revela-se o ponto mais vincado de um declínio autoral de Almodóvar, um realizador em replicação dos seus próprios métodos, vícios e temas.
Um realizador que se torna cada vez menos rico à medida que, enquanto narrador, se torna cada vez mais complexo de uma forma mal estruturada que prejudica o filme (sobretudo pela quantidade de erros que cria e de buracos deixa pelo caminho).
O único elogio possível a este filme fica para a banda sonora de Alberto Iglesias, sugestiva dos ambientes que Almodóvar não soube criar por outros meios e que se infiltra por completo no espectador.
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Sem extras
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