segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Brave - Indomável, por Tiago Ramos


Título original: Brave (2012)
Realização: Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell
Argumento: Mark Andrews, Brenda Chapman, Steve Purcell e Irene Mecchi
Elenco de vozes (V.O): Kelly Macdonald, Billy Connolly, Emma Thompson e Julie Walters

Numa era em que mesmo nas mais simples produções encontramos uma boa equipa de efeitos visuais, não deixa de ser curioso em como, muitas das vezes, deixamos de apreciar o excelente trabalho técnico do filme. É o caso por exemplo de Brave, a mais recente produção da Pixar e que acompanha o poderio tecnológico a que a companhia já nos habituou. Mesmo não sendo narrativamente tão deslumbrante ou interessante quanto filmes anteriores como Toy Story 3 (2010), Up (2009) ou Wall·E (2008), é inevitável não começar esta crítica por elogiar o magnífico trabalho na composição dos ambientes medievais e épicos na Escócia, onde muitas das paisagens parecem reais ou especialmente no detalhe na criação dos cabelos ruivos da personagem, cujo trabalho é simplesmente assombroso e a merecer referência. Pena que no entanto, esse detalhe não se note tanto também na expressividade da face das personagens que, mesmo na protagonista Merida, é das mais simples dos últimos anos.

Embora na sua estrutura narrativa, Brave se assemelhe bastante ao habitual padrão dos filmes da Disney, insere contudo uma novidade: esta é a primeira heroína dos estúdios e que sobretudo escapa ao estereótipo da princesa dos contos de fadas. O filme desconstrói precisamente essa imagem da princesa e a fórmula da busca do príncipe encantado, dando à personagem um carácter único no panorama dos filmes de animação, o que acaba por se revelar uma escolha corajosa, mas também a consciência da mudança da sociedade contemporânea. Contudo, onde ganha pontos, o filme perde também no excessivo tempo inicial que utiliza para introduzir a história e as personagens, estabelecendo ainda a presença de alguns elementos que nunca chegam a ser explicados. A partir daí, Brave segue uma linha narrativa bastante linear o que, não merecendo descrédito per se, acaba por arrastar a história num marasmo, sem grandes conflitos emocionais e de resolução fácil e principalmente, com poucos traços humanos, algo a que a Pixar sempre esteve atenta. Mesmo quando a história se foca na ligação entre mãe e filha, com potencial para ficar ao nível da ligação paternal de Finding Nemo (2003), perde-se na forma óbvia e até moralista com que a apresenta. No outro reverso, quando a história tenta potenciar o lado cómico acabar por resumir-se a meros gags físicos, tão pouco divertidos quanto inúteis, até porque é precisamente o lado negro nunca visto num filme do estúdio que o torna atractivo (especialmente visível na banda sonora de Patrick Doyle ou no fantástico design de produção).

O 3D, embora competente especialmente ao transmitir a profundidade de campo nos planos abertos que exploram a geografia do território, por acabar por ser diminuído nas sequências mais escuras por uma projecção deficiente a nível luminoso. Destaque negativo ainda para, na dobragem portuguesa, a escolha de Daniela Ruah para a voz da protagonista que contrasta em muito com a habitual qualidade dos trabalhos de dobragem nacionais e em cuja voz é evidente a falta de expressividade, especialmente numa personagem tão dinâmica como esta.

Contudo e mesmo com todos os seus defeitos, Brave não deixa de merecer crédito pela forma corajosa como introduz uma protagonista feminina, num misto de Rapunzel de Tangled e Katniss Everdeen de The Hunger Games, pondo de lado o romance habitual em filmes do género. Olhando para trás, talvez seja o filme com a estrutura mais infantil do estúdio nos últimos anos e que faz com que, perante toda a complexidade emocional de outros trabalhos, seja notável a inferioridade. Mas quem disse que agora todos os filmes de animação têm de ser (também) adultos?


Classificação:

2 comentários:

  1. Por acaso nunca tive grande expectativa quanto a este novo projecto da Pixar. Não sei bem porquê mas as imagens, para além de serem de facto atractivas, nunca me espelharam grande profundidade. Posso estar enganado (e oxalá esteja) mas pelos vistos, e dado as críticas que tenho lido, não me enganei mesmo. Ainda assim, gostei da crítica, apela a ver o filme, ainda que evidencie as muitas falhas do mesmo - o que é de salutar.


    Cumprimentos,Jorge TeixeiraCaminho Largo

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    1. Obrigado pelas palavras e pelos habituais comentários. O teu blogue já está nos meus feeds, vou começar a seguir! :)

      Abraço.

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