Realização: Drew Goddard
Argumento: Joss Whedon e Drew Goddard
Por um longo período parece que estamos perante um filme perspicaz sobre a fórmula de terror usada nos Estados Unidos da América.
Um filme que perante a taxa de 100% de sucesso do Japão afirma "Nós estamos em segundo lugar, esforçamo-nos mais" deverá estar a ser irónico com os filmes a que ameçava ser equiparado.
Mas isso é publicidade que o filme faz a si próprio, posicionando-se como o próximo grande filme de terror: capaz de ser cerebral perante o género sem deixar de proporcionar bom entretenimento.
E se o filme precisa de se elogiar, de se publicitar perante o público que até já está a vê-lo (ou será perante o público cuja opinião é publicada em jornais?), então já falhou.
Mesmo assim atrasa tal conclusão com umas quantas exibições de humor e alguma descomplexada "alegria no trabalho" proporcionada por mortes violentas numa humana desumanização de quem está a tentar salvar o mundo.
Essas são as personagens que interessavam e não passam de representantes anónimos satisfazendo interesses invisíveis e tentando obter satisfação - através de uma ronda de apostas - da rotina vazia que os aguarda.
São os deuses de tempo imemoriais que exigem um bom espectáculo de matança. E as regras ditam que devem morrer as personagens de sempre - a tonta atraente, o desportista, o tipo inteligente, o palhaço do grupo e a virgem (ou o que der para arranjar) - na ordem de sempre.
Mas, curiosamente, no Japão as regras ditam que morram muitos sem limitações de espécie alguma: crianças atacadas na sala de aula por um espírito maligno.
Então o bom espectáculo que os deuses - o público americano, supõe-se - exigem é a repetição do modelo, ano após ano, com a exibição de um par de seios e comportamento mentecapto para "apimentar" o cenário.
Por mais que o filme queira dizer fazer algo de irónico sobre o seu género, no momento em que muda de cenário e vai de encontro ao centro de controlo do espectáculo que temos estado a ver, o filme demonstra que é igual a todos os outros filmes.
Já não importa que criaturas irão surgir para atormentar os jovens que partem de fim de semana. Nem importa porque estas criaturas se erguem. Só importa que o resultado final seja o de corpos mutilados para gáudio dos deuses.
Há criaturas para todos os gostos, alvo de apostas e de pouco mais, guardadas num sistema a pedir para ser colocado em causa com o grande botão vermelho disponível para ser pressionado por qualquer um.
Estão lá para dar a morte a quem se arranjar para aparecer no filme - as personalidades moldam-se a uma nota só, portanto pouco importam - e não precisam de origens inteligíveis.
E mortes é o que o filme proporciona, com um descaramento a querer passar por esperteza. Descaramento de se fazer diferente apenas por colocar o espectador como cúmplice do determinismo do argumento.
Como se acreditássemos que a experiente equipa fosse capaz de deixar a matança descarrilar, que é como quem diz, como se acreditássemos que os autores do filme o deixassem elevar-se acima da matança.
Não bastam as citações aos filmes em que se inspirou para fazer de The Cabin in the Woods algo mais do que um típico modelo de filme de terror, tão mais desengraçado quando lhe falta uma personalidade estética que o distinga.
Tal como tenta provar que o ganzado permanente é o único inteligente o suficiente para encarar o jogo em que está metido, o filme só demonstra que por mais que se faça esperto não alcançará nada mais do que os restantes dos seus pares cinematográficos, pois em vez de quebrar convenções o filme apenas as usou com uma roupagem diferente.
Entre o que John Carpenter construiu e o que Wes Craven desconstruiu, há muito espaço livre para estes divertimentos, só não se queira dizer que The Cabin in the Woods é o que de melhor ainda se consegue pensar para - e sobre - o slasher por estes dias.
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