domingo, 2 de setembro de 2012

Bonsai, por Tiago Ramos


Título original: Bonsái (2011)
Realização: Cristián Jiménez
Argumento: Cristián Jiménez
Elenco: Diego Noguera, Nathalia Galgani e Gabriela Arancibia

Não é uma obra-prima, mas Bonsai é um dos filmes mais delicados do ano. Uma adaptação sensível do difícil romance homónimo de Alejandro Zambra e que traz à luz do dia a nova onda do cinema chileno (o também chileno De jueves a domingo venceu a edição do IndieLisboa em que este Bonsai também competia). Tendo como ponto de partida o livro Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, o filme antecipa um romance entre dois jovens, um que à partida sabemos logo condenado. «No fim, Emilia morre e Julio não» diz-nos o narrador. Porque não é tanto o fim que nos interessa como o seu processo. Porque a forma inteligente como a narrativa é construída faz-nos não nos interessar tanto com o seu fim. Cristián Jiménez traz-nos um filme sobre o coming of age com a delicadeza e sensibilidade de poucos. São referências culturais, umas atrás das outras, umas mais justificadas que outras, umas menos acidentais que outras, mas sempre com a mesma sensibilidade. É um filme sobre o amor, o primeiro. É também filme sobre a sua perda, sobre o crescimento pessoal e sobre as relações humanas. Se bem que a metáfora ao bonsai pode ser cliché, não deixa de cativar pelo romantismo que introduz e pela estética minimalista com que aborda um assunto tão importante como o amor e a vida. O filme é também ele um bonsai, criado com muito carinho e paciência, numa abordagem que pode ser pretensiosa, mas que é simultaneamente disfarçada com sensibilidade, num bom equilíbrio entre drama e humor.

Diego Noguera carrega bem consigo toda a sensibilidade, dramatismo e humor que o filme exige. Uma interpretação delicada que revela um actor principiante, mas capaz de trilhar um longo caminho. Bonsai não é um filme sobre Proust. Quando no início um professor pergunta se todos já o leram, todos levantam as mãos, assim como o protagonista que o faz por vergonha, por não o ter lido. Aqui ninguém leu Proust e o próprio realizador admite que não os leu todos, mas não deixa de ser curiosa a forma como, a espaços, Bonsai evoca a memória de Proust, a memória associada às coisas físicas, a memória dos livros, das plantas, da música e dos corpos. A memória das nossas escolhas e de como elas nos pesam, a memória da melancolia. Cristián Jiménez traz-nos tudo isso, mesmo sem se esforçar em demasia, porque a forma terna como nos apresenta uma história tão simples é suficiente para que a nossa própria mente faça o resto. «No fim, Emilia morre e Julio não».


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