segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Jerichow, por Tiago Ramos


Título original: Jerichow (2008)
Realização: Christian Petzold
Argumento: Christian Petzold
Elenco: Benno Fürmann, Nina Hoss e Hilmi Sözer

Curioso como um filme de há quatro anos atrás se aplica tão bem no contexto sócio-económico em que estamos inseridos. Sejam essas as razões ou não para que tenha agora obtido uma distribuição (limitada) no nosso país, a verdade é que uma oportunidade única de conhecer o cinema do alemão Christian Petzold, numa nova versão menos romantizada e menos íntima, mais mais pessoal, de O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes de James M. Cain, já por várias vezes adaptada ao cinema. Um cinema realista, social, com o desemprego e a crise económica como pano de fundo, onde até a protagonista afirma não se poder amar sem dinheiro. A ideia do realizador parece ser aproximar a imagem da dependência económica à luz não só da comunidade em geral, mas também das pessoas individualmente e como isso afecta também os seus sentimentos. É essa afectação que provoca a alienação das personagens entre si e entre o espectador: não há aqui sedução neste triângulo amoroso, não há intensidade, não há emoção. Há antes a busca desesperada pelo dinheiro, como factor de liberdade.

É em torno das personagens e da sua construção narrativa que o cineasta constrói uma atmosfera fria e ríspida que trespassa todo o filme. É uma estética rígida a que Christian Petzold nos traz, num local quase inóspito da Alemanha contemporânea, com figuras mais alegóricas que humanas, numa estrutura propositadamente linear. Não que com isto dizer que as personagens sejam básicas, já que da construção linear das mesmas criam-se arquétipos complexos cheias de subtilezas políticas, geográficas e emocionais, num olhar sobre o capitalismo pós-reunificação. A dualidade do dinheiro tanto como opressor como libertador é o que mais custa neste olhar desinspirado do amor e nesta conclusão de um futuro incerto, tão assombroso como desesperante.


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