quinta-feira, 13 de setembro de 2012

The Butterfly Room, por Carlos Antunes


Título original: The Butterfly Room
Realização: Jonathan Zarantonello
Argumento: Paolo GuerrieriLuigi Sardiello e Jonathan Zarantonello
Elenco: Barbara Steele, Ray Wise e Erica Leerhsen

Perante o elenco reunido não sobram dúvidas que o realizador do filme bem tentou reunir um grupo elogiável de scream queens das últimas cinco décadas que aqui reduzem os homens a meros tolos.
Nem todas acabam homenageadas da forma que mereciam, embora também seja verdade que nem todas mereciam o mesmo grau de homenagem (estou a pensar em Erica Leerhsen). Maioritariamente estão reduzidas a papéis que não ultrapassam o passeio pela periferia da narrativa.
Para Barbara Steele sim, a homenagem resulta ao máximo, relembrando-nos de uma actriz com talento para papéis que raramente (se alguma vez) lhe terão sido dados.
A sua incorporação da velha senhora atormentada e atormentadora merece figurar ao lado das que nos lembramos de What Ever Happened to Baby Jane? - um exemplo definitivo mas não demasiado arriscado.
Olha-se para Barbara Steele caracterizada e lembra-nos Joan Crawford enquanto interpreta com alguma da irascibilidade de Bette Davis.
É a história que não a acompanha no seu trabalho, confusa na sua estrutura mas evidente nos seus intentos.
O realizador disse que seria um thriller, mas tem muito pouco de tal. A dúvida nunca está instalada, a expectativa não atemoriza porque a pergunta em suspenso não é "O que se seguirá?" mas "Quando acontecerá?".
Os fios da história, durante um longo período, parecem não se entrelaçar, esticados em direcções tão diferentes que depois se reflectem na própria definição da personagen de Steele.
Ela é uma mulher que se transforma em fria assassina por uma obsessão com a filha que quer mas há muito não pode ter. Obsessão que a torna numa fria e bizarra psicopata cuja determinação em manter a sua sala das borboletas trancada não deixa dúvidas sobre aquilo a que se dedicou.
Tudo consequência de um único acto de raiva dirigido à filha muitos anos atrás...
Os largos degraus de violência que a personagem escala não se encadeiam de uma forma lógica e consequente. O filme segue em direcção à violência mais sedento do que equilibrado.
O realizador dispersou-se, não tendo decidido antecipadamente por um tom único no terror que queria infligir.
Entre a bela frieza da eternização das cores uma borboleta e a violência distribuída à martelada, tudo tem de ficar a cargo de Barbara Steele que mesmo assim sustenta uma personagem deliciosa na sua incoerência.
À sua volta e apesar de tudo, a história fecha-se numa lógica limpa mas não eloquente, como era inevitável.
Mais do que os muitos fios puxadas em direcções opostas, é a sua articulação que vai tornando embaraçoso o comportamento quase errático das personagens que parecem vazias do seu sentido de lógica perante a cronologia dos eventos.
Desconfio que a intenção do realizador em fazer um thriller (americanizado) embateu com uma sensibilidade (italiana) para o giallo de poucos meios mas muita vontade. E terá sido isso que criou um limbo cinematográfico geral.
Não fosse, pois, a interpretação de Steele, este era um filme para esquecer. Assim lembra-nos que há senhoras que sabem fazer muito mais do que gritar!


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