Realização: Maya Kosa e Sérgio da Costa
Argumento: Maya Kosa e Sérgio da Costa
Na exploração das pegadas já para lá dos campos limítrofes do documentário o DocLisboa premiou um cruzamento de documento pedagógico com ficção psicanalítica.
Ficção apenas porque é escrita e interpretada embora na sua essência seja uma rememoriação dos tempos de infância num lugar para o qual Elsa voltou também para descobrir um espaço que conhece cada vez menos, ainda que lá tenha nascido.
As Caldas Da Rainha tornam-se local de pequenos teatros como sonhos adultos montados sobre o entendimento de criança.
São teatros a evocar uma recuperação de um espaço a que Elsa pertence e de que se foi perdendo; que se fazem acompanhar da observação dos que ali permanecem desde sempre, plantados à sombra das árvores que também só ali existirão.
O espaço agora estranho é apreendido através de um roteiro orientado cheio de guias que explicam as histórias do local.
Da lenda de Dona Leonor às questões técnicas do Hospital Termal, tudo é narrado no seio do quotidiano como se fosse uma realidade guardada aos habitantes mas por eles relatada a todos para s (re)conquistar para o seu pequeno paraíso.
Nessa inserção da extemporaneidade que rompe com a vulgar observação, os realizadores conquistam alguns dos seus momentos mais interessantes, criando um sentido de acolhedor absurdo como se a narrativa da lenda local fizesse realmente parte dos anúncios dos horários das camionetas.
Um acolhimento total que reforça no visitante - Elsa e o espectador - o sentimento de estranheza mas acaba por lhe proporcionar um sentimento de pertença.
O que os realizadores melhor assumem a partir dessa forma aumentada da realidade é o inevitável humor assaz irónico, traduzido primeiro em risos inibidos do público até que o desconforto (perante o género do filme, sobretudo) deixe de servir de controlo às gargalhadas.
O humor desse olhar acaba por confortar o espectador que vê naquele mundo antiquado e regulado motivo real de algum gozo. Mas é a presença da individualidade de Elsa que leva o espectador a comprometer-se com o que está a ver, tornado o gozo em regozijo.
O público dá por si muitas vezes a olhar para Elsa a olhar para os locais que mudaram porque mudou o seu olhar.
O efeito - dádiva, talvez - maior do filme para com o público é o de tornar um elemento equiparado à emigrante que reolha para as Caldas da Raínha e com ela descobre os mistérios enclausurados mas depois abertos a todos.
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