Realização: Valeria Sarmiento
Argumento: Carlos Saboga
Elenco: Nuno Lopes, Soraia Chaves, Marisa Paredes, John Malkovich, Carloto Cotta, Victória Guerra, Marcello Urgeghe, Jemima West, José Afonso Pimentel, Mathieu Amalric, Melvil Poupaud, Filipe Vargas, Adriano Luz, João Arrais, Gonçalo Waddington, Albano Jerónimo, Joana de Verona, Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Michel Piccoli e Chiara Mastroianni
Há em muitos planos de Linhas de Wellington uma estética muito próxima à de Raúl Ruiz. Depreenda-se pois na direcção tomada pelas rédeas de Valeria Sarmiento uma espécie de última homenagem ao talento do cineasta que por diversas vezes filmou e colaborou em produções portuguesas, a sua derradeira experiência conjunta foi em Mistérios de Lisboa (2010), morrendo antes de poder começar a preparar este Linhas de Wellington. Há porém uma homenagem impossível de não notar, uma vontade própria de filmar como quem dança um bailado, a câmara dinâmica a pairar sobre este mosaico de histórias tal como uma visão aproximada daquela que Raúl Ruiz teria caso tivesse efectivamente realizado este filme (pelo menos assim o achamos).
A este Linhas de Wellington falta-lhe porém a chama do cineasta chileno que Valeria Sarmiento, por mais boa vontade que tenha, não consegue emular. O que por um lado pode ser bom, pela tentativa de criar uma identidade própria, mas que simultaneamente não o consegue fazer de forma efectiva, acabando forçosamente por cair na comparação. Há porém que elogiar grande parte do poderio da produção do filme, desde a fotografia de André Szankowski, passando pela direcção artística de Isabel Branco, até à banda sonora de Jorge Arriagada. Produção rara no nosso país e que aproveita a rica História portuguesa para dar o mote para outras estórias que percorrem o filme. Nada contra as suas intenções, até de certo modo honrosas, mas que o argumento de Carlos Saboga nem sempre sabe acompanhar. Ao adoptar um tom folhetinesco que, embora por vezes forçado até ao limite, acabava por resultar na sua adaptação de Mistérios de Lisboa, de Camilo Castelo Branco, o filme acaba por perder grande parte do seu poder narrativo. Uma história a que lhe falta a dose certa de dramatismo (não raras vezes força e alivia nos momentos errados) e por vezes também o foco, não se sabendo sempre qual a intenção do mesmo. Uma história repleta de personagens e momentos onde é notável a falta de emoção que deveria existir e que só existe nos magníficos planos do êxodo daqueles portugueses anónimos que percorrem o país, em fuga, mas sempre com esperança.
Vejamos as inúmeras histórias soltas e que poderiam ter um desenlace mais coeso (talvez se estejam a guardar para a versão televisiva de 180 minutos) ou o desfile de actores de luxo e das histórias das suas personagens, potencialmente interessantes, mas que não atingem o clímax necessário. Veja-se a interessante cena que reúne a uma mesa Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, fascinante do ponto de vista cinéfilo e interessante naquele breve momento em que se faz uma analogia sincera ao pensamento do português que sente saudades daquilo que nunca teve, mas gostava. Fascinante, é certo, mas amiúde tão breve e insuficiente que faz o espectador pensar na necessidade de existir. Ou os divertidos momentos na presença de um John Malkovich no papel de um General Wellington. Divertido, é verdade, mas não menos verdade é o facto de reduzir um estratega militar a um mero cartoon de si mesmo. É o mesmo problema que afecta grande parte do elenco, especialmente o internacional, que é muitas vezes limitado apenas a sucessivos cameos (interessantes, mas restritos). É o argumento ambicioso de Carlos Saboga que faz Linhas de Wellington perder metade da força que poderia ter atingido. Não podemos descurar, no entanto, o talento do elenco aqui envolvido e quase difícil de ser enumerado, mas é impossível não referir por exemplo a grande revelação que é a jovem Victoria Guerra (que consegue fugir às limitações que os papéis em televisão normalmente lhe impõem), a doce energia da presença da espanhola Marisa Paredes ou também da competência dos portugueses Nuno Lopes e Carloto Cotta.
Linhas de Wellington, é no fim, um esforço honroso e clássico em dramatizar um épico evento da História portuguesa. Visualmente elegante e erudito, mas excessivamente preenchido com histórias e presenças adicionais desnecessárias, um pouco como, no filme, as pinturas de Henri Lévêque que o General Wellington insistia em descartar.
Há em muitos planos de Linhas de Wellington uma estética muito próxima à de Raúl Ruiz. Depreenda-se pois na direcção tomada pelas rédeas de Valeria Sarmiento uma espécie de última homenagem ao talento do cineasta que por diversas vezes filmou e colaborou em produções portuguesas, a sua derradeira experiência conjunta foi em Mistérios de Lisboa (2010), morrendo antes de poder começar a preparar este Linhas de Wellington. Há porém uma homenagem impossível de não notar, uma vontade própria de filmar como quem dança um bailado, a câmara dinâmica a pairar sobre este mosaico de histórias tal como uma visão aproximada daquela que Raúl Ruiz teria caso tivesse efectivamente realizado este filme (pelo menos assim o achamos).
A este Linhas de Wellington falta-lhe porém a chama do cineasta chileno que Valeria Sarmiento, por mais boa vontade que tenha, não consegue emular. O que por um lado pode ser bom, pela tentativa de criar uma identidade própria, mas que simultaneamente não o consegue fazer de forma efectiva, acabando forçosamente por cair na comparação. Há porém que elogiar grande parte do poderio da produção do filme, desde a fotografia de André Szankowski, passando pela direcção artística de Isabel Branco, até à banda sonora de Jorge Arriagada. Produção rara no nosso país e que aproveita a rica História portuguesa para dar o mote para outras estórias que percorrem o filme. Nada contra as suas intenções, até de certo modo honrosas, mas que o argumento de Carlos Saboga nem sempre sabe acompanhar. Ao adoptar um tom folhetinesco que, embora por vezes forçado até ao limite, acabava por resultar na sua adaptação de Mistérios de Lisboa, de Camilo Castelo Branco, o filme acaba por perder grande parte do seu poder narrativo. Uma história a que lhe falta a dose certa de dramatismo (não raras vezes força e alivia nos momentos errados) e por vezes também o foco, não se sabendo sempre qual a intenção do mesmo. Uma história repleta de personagens e momentos onde é notável a falta de emoção que deveria existir e que só existe nos magníficos planos do êxodo daqueles portugueses anónimos que percorrem o país, em fuga, mas sempre com esperança.
Vejamos as inúmeras histórias soltas e que poderiam ter um desenlace mais coeso (talvez se estejam a guardar para a versão televisiva de 180 minutos) ou o desfile de actores de luxo e das histórias das suas personagens, potencialmente interessantes, mas que não atingem o clímax necessário. Veja-se a interessante cena que reúne a uma mesa Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, fascinante do ponto de vista cinéfilo e interessante naquele breve momento em que se faz uma analogia sincera ao pensamento do português que sente saudades daquilo que nunca teve, mas gostava. Fascinante, é certo, mas amiúde tão breve e insuficiente que faz o espectador pensar na necessidade de existir. Ou os divertidos momentos na presença de um John Malkovich no papel de um General Wellington. Divertido, é verdade, mas não menos verdade é o facto de reduzir um estratega militar a um mero cartoon de si mesmo. É o mesmo problema que afecta grande parte do elenco, especialmente o internacional, que é muitas vezes limitado apenas a sucessivos cameos (interessantes, mas restritos). É o argumento ambicioso de Carlos Saboga que faz Linhas de Wellington perder metade da força que poderia ter atingido. Não podemos descurar, no entanto, o talento do elenco aqui envolvido e quase difícil de ser enumerado, mas é impossível não referir por exemplo a grande revelação que é a jovem Victoria Guerra (que consegue fugir às limitações que os papéis em televisão normalmente lhe impõem), a doce energia da presença da espanhola Marisa Paredes ou também da competência dos portugueses Nuno Lopes e Carloto Cotta.
Linhas de Wellington, é no fim, um esforço honroso e clássico em dramatizar um épico evento da História portuguesa. Visualmente elegante e erudito, mas excessivamente preenchido com histórias e presenças adicionais desnecessárias, um pouco como, no filme, as pinturas de Henri Lévêque que o General Wellington insistia em descartar.
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