domingo, 11 de novembro de 2012

Força Ralph, por Tiago Ramos


Título original: Wreck-it-Ralph (2012)
Realização: Rich Moore
Argumento: Phil Johnston, Jennifer Lee e John C. Reilly
Elenco de vozes (versão portuguesa): Pedro Laginha, Alexandre Carvalho, Ana Vieira, Carla García e José Raposo

Há duas tendências que se têm evidenciado no cinema, não sendo exclusivas da nossa época, são porventura bem notórias nos últimos anos: a proliferação dos anti-heróis e a nostalgia. Os casos são mais que muitos e bem visíveis (nem são necessários identificar), mas Força Ralph chega precisamente com uma consistente união destas duas tendências e precisamente vindo de um estúdio que parece ter encontrado a melhor fusão possível entre a nostalgia e revivalismo dos seus tempos áureos com a originalidade e inventividade dos novos tempos. A primeira longa-metragem de Rich Moore (que conta, no entanto, com um elogiável currículo na área da animação televisiva) é um dos filmes mais originais que poderemos ver este ano, mas também um dos mais genuínos na emoção que transmite, capaz de cativar tanto as novas gerações, como as mais antigas. Numa época em que o revivalismo circunda todas as áreas e onde o vintage se tornou moda, o filme consegue ganhar pontos por fazer uso dessa nostalgia. Especialmente a de uma geração que se identifica com uma altura em que os jogos de vídeo eram ainda a 8-bits ou em que existiam casas de jogos com uma variedade específica praticamente inexistente hoje em dia. Faz isso por fazer divertidas referências a personagens e outros jogos (Pacman, Sonic the Hedgehog, Mario Brothers, Street Fighter, Frogger, Diablo ou Q*Bert, entre outros) ou por fazer recordar uma época passada.

Mas o mais interessante e que faz Força Ralph se destacar é que a sua narrativa vai bem mais além dessa sequência nostálgica de referências ou de um revivalismo do passado inconsequente. Esse tipo de argumento é apenas um entre a consistência que o filme surpreendentemente apresenta e que o material promocional não deixava sequer antever. Estamos perante um filme que, a par da sua brilhante concepção e design gráfico, dos seus gags absolutamente inventivos e criativos, vai desenvolvendo as suas personagens num sentido crescente. Notemos o protagonista masculino que parte de um vilão casmurro para um interessante anti-herói altruísta ou a protagonista feminina que começa por ser apenas uma menina irritante para terminar com um interessante background psicológico que vai bem mais além que essa característica inicial. Onde filmes como Toy Story (1995) beneficiam das suas características físicas de bonecos para cativar o espectador, parecia pouco credível que personagens virtuais como Ralph ou Vanellope conseguissem criar o mesmo nível de identificação e compaixão para com o espectador. Mas a surpresa é que o argumento consegue transformar esse sentido virtual num realismo sensato capaz de cativar o espectador. As personagens são adoráveis inadaptados que lutam para viver mais além daquilo que a sociedade lhes impõe e quem melhor que nós, espectadores, para nos identificarmos com esse tipo de fraquezas e deficiências que se podem revelar forças inesperadas?

Apesar da sua versão portuguesa deixar a desejar no que diz respeito à dobragem da voz de algumas personagens (ao contrário da maioria das dobragens portuguesas actuais) e do 3D não acrescentar nada de particularmente interessante - embora também não seja invasivo - Força Ralph tem capacidade para se tornar um clássico instantâneo dos estúdios da Disney tão original quanto divertido, mas tão comovente como genuíno, capaz de unir duas gerações tão distintas.


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