Realização: Ang Lee
Argumento: David Magee
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Tabu, Gérard Depardieu e Rafe Spall
Desde cedo na sua carreira que Ang Lee sempre foi um contador de histórias. Não interessa muito que tipo de história seja - pelas mãos do cineasta já passaram muitas e de géneros completamente diferentes - mas encontramos sempre uma câmara importada com as personagens, com as suas vidas e o que as levou ali, partindo de um conflito. E A Vida de Pi não é excepção. Temos pois, novamente, um cineasta preocupado com as personagens e a sua história, mas desta vez num tom de fábula que lhe assenta curiosamente bem. Ang Lee segura bem as rédeas do filme, dirigindo-o com elegância e simpatia, e comprovando a sua mestria habitual com a câmara, como por exemplo naquela magnífica cena da tempestade em alto mar (uma das melhores cenas do ano), em que somos conduzidos a um abismo assombroso e poético de emoções extremas. E a doçura com que a câmara segue as personagens, principalmente a que dá nome à história, nunca seria completa sem a talentosa equipa que o rodeia. Destaque óbvio e evidente para a assombrosa direcção de fotografia de Claudio Miranda (não só se rege só pelos efeitos visuais, como muitos o acusam), com grande contraste e saturação de cores, entre o azul do oceano que ocupa grande parte da acção e o espaço que o rodeia - criando também algumas das mais belas sequências do cinema este ano; mas também para o trabalho em CGI que revela um avanço magnífico na tecnologia em favor da narrativa - não podemos deixar de falar no perfeito trabalho na criação de um tigre completamente digital, mas não por isso menos natural. O 3D que Ang Lee usa (em potencial, completamente justificado dado o carácter da história) é bastante competente, se bem que por vezes subaproveitado, a não ser na estrondosa sequência inicial. E não esquecer a banda sonora de Mychael Danna, uma das mais belas do ano e que se integra bem no carácter de fábula da narrativa.
Mas um filme não é só o seu visual ou a destreza do seu realizador. E é na narrativa que o espectador poderá encontrar o seu calcanhar de Aquiles. Não que não seja simpática a história, resultante de um entretenimento familiar cativante, mas é também ela limitada a um único objectivo: o levantamento de questões filosóficas e existenciais que se tornam bastante cansativas. Fá-lo até arrogantemente: tenta simular que dá ao espectador a oportunidade de escolher em que acredita (a sequência final, por exemplo, parece fazê-lo), mas na verdade limita-se a apresentar o seu único ponto de vista ("vais ouvir uma história que te vai fazer acreditar em Deus"). É aí que a história se esgota - no seu sermão moral e religioso, disfarçado pela condescendência e que nunca consegue transmitir completamente a experiência agonizante do seu protagonista. O seu sermão, já mais que ouvido, suaviza o tom mais cru que poderia ganhar, especialmente quando grande parte da sua duração é ocupada por alguns momentos extensos demais e que podiam ser aproveitados em favor de algum arrojo. A Vida de Pi é uma experiência positiva (especialmente a nível visual), mas que facilmente se esgota na sua tendência moralizante.
Desde cedo na sua carreira que Ang Lee sempre foi um contador de histórias. Não interessa muito que tipo de história seja - pelas mãos do cineasta já passaram muitas e de géneros completamente diferentes - mas encontramos sempre uma câmara importada com as personagens, com as suas vidas e o que as levou ali, partindo de um conflito. E A Vida de Pi não é excepção. Temos pois, novamente, um cineasta preocupado com as personagens e a sua história, mas desta vez num tom de fábula que lhe assenta curiosamente bem. Ang Lee segura bem as rédeas do filme, dirigindo-o com elegância e simpatia, e comprovando a sua mestria habitual com a câmara, como por exemplo naquela magnífica cena da tempestade em alto mar (uma das melhores cenas do ano), em que somos conduzidos a um abismo assombroso e poético de emoções extremas. E a doçura com que a câmara segue as personagens, principalmente a que dá nome à história, nunca seria completa sem a talentosa equipa que o rodeia. Destaque óbvio e evidente para a assombrosa direcção de fotografia de Claudio Miranda (não só se rege só pelos efeitos visuais, como muitos o acusam), com grande contraste e saturação de cores, entre o azul do oceano que ocupa grande parte da acção e o espaço que o rodeia - criando também algumas das mais belas sequências do cinema este ano; mas também para o trabalho em CGI que revela um avanço magnífico na tecnologia em favor da narrativa - não podemos deixar de falar no perfeito trabalho na criação de um tigre completamente digital, mas não por isso menos natural. O 3D que Ang Lee usa (em potencial, completamente justificado dado o carácter da história) é bastante competente, se bem que por vezes subaproveitado, a não ser na estrondosa sequência inicial. E não esquecer a banda sonora de Mychael Danna, uma das mais belas do ano e que se integra bem no carácter de fábula da narrativa.
Mas um filme não é só o seu visual ou a destreza do seu realizador. E é na narrativa que o espectador poderá encontrar o seu calcanhar de Aquiles. Não que não seja simpática a história, resultante de um entretenimento familiar cativante, mas é também ela limitada a um único objectivo: o levantamento de questões filosóficas e existenciais que se tornam bastante cansativas. Fá-lo até arrogantemente: tenta simular que dá ao espectador a oportunidade de escolher em que acredita (a sequência final, por exemplo, parece fazê-lo), mas na verdade limita-se a apresentar o seu único ponto de vista ("vais ouvir uma história que te vai fazer acreditar em Deus"). É aí que a história se esgota - no seu sermão moral e religioso, disfarçado pela condescendência e que nunca consegue transmitir completamente a experiência agonizante do seu protagonista. O seu sermão, já mais que ouvido, suaviza o tom mais cru que poderia ganhar, especialmente quando grande parte da sua duração é ocupada por alguns momentos extensos demais e que podiam ser aproveitados em favor de algum arrojo. A Vida de Pi é uma experiência positiva (especialmente a nível visual), mas que facilmente se esgota na sua tendência moralizante.
Classificação:
Era o que eu temia. Ainda não vi o filme nem li o livro, mas as opiniões iniciais já indicavam um exagero da mensagem pró-crença. Se te pareceu assim tão tendencioso, ainda mais me vai incomodar. Mas mantenho a intenção de ir ver o filme, só posso esperar não sentir o mesmo senão saio de lá irritado com a mensagem em vez de maravilhado com a imagem.
ResponderEliminarNa vida, em geral, pegamos o que nos convém, e largamos
ResponderEliminaro que não encaixa na nossa vida. Simples como tal!!
Lindo filme, que deixou-me metade dele de boca
e olhos abertos!!!
E, no fim, cada um interpreta o todo como entender...
;-)