quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Guest, por Tiago Ramos


Título original: Guest (2010)
Realização: José Luis Guerín

Logo desde início não percebemos bem qual o objectivo deste documentário. Ou melhor, percebemos, mas não entendemos o porquê de o considerar justificativo para a realização deste Guest, que não mais é que um diário (com cerca de duas horas de duração) das viagens do jovem realizador espanhol pelo mundo, durante um ano, a promover o seu En la ciudad de Sylvia (2007). O realizador vagueia pelas diferentes localizações internacionais (entre Veneza, Bogotá, Havana, São Paulo, Macau, Nova Iorque ou Jerusalém) onde pára e mostra um pouco do movimento nas zonas de maior movimento, mostrando-se interessando em demonstrar a sua azáfama quotidiana, as suas expressões e as suas vidas. Mostra-as, mas quase nunca se preocupa com elas, raras vezes se interessa pelas suas vidas, pelo que fazem, porque ali estão. Com as excepções honrosas das vidas em Havana ou no Peru, que parece que interessaram mais ao realizador e que por isso assim mereceram maior destaque. Mas entre esses pequenos breves momentos, parece que não são as personalidades e vivências daquelas pessoas que interessam a José Luis Guerin. Não lhe interessa um documentário dessas vidas, interessa-lhe sim um ensaio, meio lírico, meio confuso entre objectivos e métodos (qual a razão daquele preto e branco?) que nunca chega a descolar, porque nunca se percebe bem a sua intenção.

Os únicos pontos recorrentes que conseguimos encontrar entre grande parte das imagens daquelas paragens - e que nem sabemos bem se são intencionais ou não - são a forma como os espanhóis são vistos fora do seu país, a ligação das pessoas à religião (frequentes aquelas imagens em praças movimentadas de grandes cidades, onde a câmara dá destaque a pessoas que apregoam a salvação ou a destruição de almas) ou a frequente referência entre o conceito híbrido de documentário e ficção (mais referenciado pela presença de Chantal Akerman em Veneza). Não que nada disto não cative o espectador em alguns momentos. Há beleza estética, há histórias interessantes, há alguma estranheza ou exotismo em alguns momentos, mas há também algum tédio, uma inocuidade no trabalho daquela câmara que mais é um registo repleto de memórias pessoais que um filme de público. E qual é o objectivo de um filme para o umbigo do seu realizador? Não sabemos bem, daí a estranheza.


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