segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

La chispa de la vida, por Tiago Ramos


Título original: La chispa de la vida (2011)
Realização: Álex de la Iglesia
Argumento: Randy Feldman
Elenco: José Mota, Salma Hayek, Blanca Portillo, Fernando Tejero, Juan Luis Galiardo, Manuel Tallafé, Antonio Garrido, Carolina Bang, Eduardo Casanova, Nerea Camacho e Antonio de la Torre

O cinema pode e deve ser também atento às mudanças dos tempos. Daí que não é de estranhar que muitas das produções cinematográficas recentes abordem temas como o desemprego ou a crise económica, cujo flagelo é mundial. O espanhol Álex de la Iglesia, habituado a fazer críticas severas a vários aspectos da sociedade, foca-se agora no desemprego, na falta de moral dos bancos, das grandes empresas e da televisão através de uma sátira severa, mas também menos mordaz e gráfica que títulos anteriores. A premissa bastante simples e linear permite focar-se no desempenho do protagonista - o actor José Mota - fazendo valer-se do seu súbito desejo por vingança e da tentativa de garantir a subsistência da sua família, para fazer desfilar uma série de arquétipos que resultam na crítica social desejada. Só Salma Hayek é que se destaca, no entanto, da linearidade das personagens, sendo a única a apresentar um verdadeiro dilema moral enquanto mãe de família. Pena que o argumento de Randy Felman não lhe permita desenvolver-se ainda mais, preferindo em oscilar a história oscila entre drama e comédia negra, com breves momentos de diálogos ácidos.

Visualmente, La chispa de la vida destaca-se pela fotografia elegante e de cores escuras e fortes de Kiko de la Rica, habitual colaborador do cineasta espanhol. A acção consegue manter-se ritmada e constante, graças à curta duração do filme, mas também devido à acidez de alguns momentos de humor negro que bem satirizam o absurdo da situação actual do mundo. É verdade porém que os arquétipos da história não são também mais que apenas meros estereótipos, sem direito a desenvolvimento de personagem, o que prejudica o filme em se recusar a ir mais além do que a mera crítica superficial. Parece-nos que no fundo, La chispa de la vida sofre por vezes do mesmo mal que aquela televisão supérflua que critica. Não o impede porém de ser uma pequena, mas importante sátira dos dias de hoje e por isso merecedora da nossa atenção.


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