Realização: Bruno de Almeida
Argumento: Bruno de Almeida, Frederico Delgado Rosa e John Frey
Elenco: John Ventimiglia, Diogo Dória, Nuno Lopes, Carlos Santos, Marcello Urgeghe, Pedro Efe, José Nascimento, Adriano Carvalho, Ana Padrão, Camané, Cleia Almeida, Carla Chambel e Renata Batista
O que ressalta na mais recente incursão de Bruno de Almeida no cinema é a importância do assunto que trata. A responsabilidade cívica que decidiu ter nas suas mãos em trazer ao cinema um filme que denuncia publicamente aquilo que outrora a justiça não o fez. Tenta contar a verdade da operação da PIDE que levou à morte do General Humberto Delgado, fazendo-o de uma forma que o torna quase num documento histórico. Isso acontece com uma divisão lógica e exacta dos acontecimentos, que permitem uma recriação quase exacta e rigorosa dos acontecimentos, de uma forma bastante clínica e quase documental. Mas esse tom - bem captado por uma estética de cores saturadas e outonais - acaba por ser ultrapassado quando o filme ganha finalmente ritmo como thriller político. Pena que esse tom seja difícil de alcançar, especialmente nas cenas iniciais com a presença de John Ventimiglia como Humberto Delgado. A sua escolha dá origem a um dos maiores erros de casting dos últimos anos: principalmente porque reduz a personagem a uma caricatura, cheias de tiques expressivos e maneirismos extravagantes, mas também porque necessita de uma dobragem portuguesa que, além de quase nunca estar sincronizada com o movimento dos lábios, nunca acompanha a expressividade corporal da personagem. Esse factor dá origem a uma sensação de estranheza inequívoca, como se aquele corpo fosse estranho àquele ambiente. E se esse defeito podia ter sido aproveitado em termos estéticos para criar precisamente essa sensação propositada, isso nunca é feito, criando sim uma enorme fraqueza ao filme.
Esse defeito, que muito incomoda, enfraquece a estrutura narrativa dos eventos. O que é uma pena, até porque há dados bem curiosos no filme e que também a muito se devem por interpretações curiosas - caso do fadista Camané ou do realizador José Nascimento, que até não se safam mal - ou desempenhos consistentes e que muito ajudam a criar consistência ao filme - Diogo Dória e o seu fabuloso monólogo ao espelho, Nuno Lopes com a sua habitual competência e especialmente um genial Carlos Santos como um tenebroso Rosa Casaco. Mas onde perde na parte inicial enquanto ficção, ou pelo tom clínico e descritivo ou pela estranheza de um erro de casting, Bruno de Almeida redime-se numa fase mais tardia da história, onde há espaço para, já em tribunal, as personagens reunirem-se à vez para relato dos factos que levaram à morte de Humberto Delgado, nunca coincidentes uns com os outros. Uma opção formalmente interessante e que em muito ajuda a perceber o que fez com que a lei nunca tenha de facto agido, de facto, com a justiça devida. E mesmo que opte por um final redentor, apercebemo-nos aí que apesar de não ter sido o excelente filme que poderia ter sido, Operação Outono é realmente um filme que precisava ter sido feito e merece ser visto.
Elenco: John Ventimiglia, Diogo Dória, Nuno Lopes, Carlos Santos, Marcello Urgeghe, Pedro Efe, José Nascimento, Adriano Carvalho, Ana Padrão, Camané, Cleia Almeida, Carla Chambel e Renata Batista
O que ressalta na mais recente incursão de Bruno de Almeida no cinema é a importância do assunto que trata. A responsabilidade cívica que decidiu ter nas suas mãos em trazer ao cinema um filme que denuncia publicamente aquilo que outrora a justiça não o fez. Tenta contar a verdade da operação da PIDE que levou à morte do General Humberto Delgado, fazendo-o de uma forma que o torna quase num documento histórico. Isso acontece com uma divisão lógica e exacta dos acontecimentos, que permitem uma recriação quase exacta e rigorosa dos acontecimentos, de uma forma bastante clínica e quase documental. Mas esse tom - bem captado por uma estética de cores saturadas e outonais - acaba por ser ultrapassado quando o filme ganha finalmente ritmo como thriller político. Pena que esse tom seja difícil de alcançar, especialmente nas cenas iniciais com a presença de John Ventimiglia como Humberto Delgado. A sua escolha dá origem a um dos maiores erros de casting dos últimos anos: principalmente porque reduz a personagem a uma caricatura, cheias de tiques expressivos e maneirismos extravagantes, mas também porque necessita de uma dobragem portuguesa que, além de quase nunca estar sincronizada com o movimento dos lábios, nunca acompanha a expressividade corporal da personagem. Esse factor dá origem a uma sensação de estranheza inequívoca, como se aquele corpo fosse estranho àquele ambiente. E se esse defeito podia ter sido aproveitado em termos estéticos para criar precisamente essa sensação propositada, isso nunca é feito, criando sim uma enorme fraqueza ao filme.
Esse defeito, que muito incomoda, enfraquece a estrutura narrativa dos eventos. O que é uma pena, até porque há dados bem curiosos no filme e que também a muito se devem por interpretações curiosas - caso do fadista Camané ou do realizador José Nascimento, que até não se safam mal - ou desempenhos consistentes e que muito ajudam a criar consistência ao filme - Diogo Dória e o seu fabuloso monólogo ao espelho, Nuno Lopes com a sua habitual competência e especialmente um genial Carlos Santos como um tenebroso Rosa Casaco. Mas onde perde na parte inicial enquanto ficção, ou pelo tom clínico e descritivo ou pela estranheza de um erro de casting, Bruno de Almeida redime-se numa fase mais tardia da história, onde há espaço para, já em tribunal, as personagens reunirem-se à vez para relato dos factos que levaram à morte de Humberto Delgado, nunca coincidentes uns com os outros. Uma opção formalmente interessante e que em muito ajuda a perceber o que fez com que a lei nunca tenha de facto agido, de facto, com a justiça devida. E mesmo que opte por um final redentor, apercebemo-nos aí que apesar de não ter sido o excelente filme que poderia ter sido, Operação Outono é realmente um filme que precisava ter sido feito e merece ser visto.
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