quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

The Imposter, por Tiago Ramos


Título original: The Imposter (2012)
Realização: Bart Layton

Para quem já tenha assistido ao filme de ficção The Chameleon (2010) - estreado em Portugal no Fantasporto 2011, a história de The Imposter não lhe parecerá estranha. Afinal são ambos sobre o mesmo assunto: a história mediática do francês Frédéric Bourdin e o roubo da identidade de Nicholas Barclay, que desapareceu do Texas, com apenas treze anos. Utilizando testemunhos de intervenientes da história (especialmente eficazes os depoimentos sentidos dos familiares enganados), o documentário surpreende pela utilização da reencenação dos acontecimentos para ilustrar a situação. Se tal método poderia ter resultado mal, contribui afinal para cativar o espectador, utilizando o suspense e a tensão para surpreender o espectador, à medida que o próprio Frédéric Bourdin (hábil no roubo de identidades, de uma forma absolutamente surreal) narra os acontecimentos - por vezes, com uma aparente e bizarra satisfação. O realizador Bart Layton sabe ir mantendo a tensão na história, introduzindo gradualmente novos elementos na história, que se vai revelando cada vez mais surpreendente. O filme levanta questões importantes como o roubo de identidades, a patologia de Frédéric e a dor daquela família norte-americana, convencida que aquele adolescente regressou a casa, passados tantos anos desaparecido. Esta é a história da forma como as pessoas reagem face ao luto, sofrimento e ansiedade permanentes; sendo por vezes levadas ao extremo de acreditar em algo absolutamente improvável. De como alguém mesmo consegue ludibriar a polícia em dois países tão distintos como Espanha e Estados Unidos (e outros locais não abordados) e ainda fazer crer uma mãe e outros familiares (e ainda uma nação inteira) que é o filho desaparecido - mesmo sendo fisicamente tão diferente.

Além da óbvia bizarria da situação e dos dados surpreendentes que vai revelando ao espectador, o documentário utiliza de forma equilibrada a tensão e a emoção, fazendo uso de um bom trabalho de montagem (do montador de Control) e de uma fotografia intensa e brilhante (do director de fotografia de Submarine), de uma forma bastante cinematográfica (também no uso das reencenações num estilo neo-noir), mas ao mesmo tempo absolutamente cativante, na forma como explora os limites entre a realidade e a ficção. Na pré-lista dos candidatos ao Óscar 2013 de Melhor Documentário, é um dos mais fortes candidatos a melhor do ano.

*Crítica possível através de um award screener gentilmente cedido pela Indomina Releasing.

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