Título original: The Paperboy (2012)
Realização: Lee Daniels
Argumento: Lee Daniels e Peter Dexter
Elenco: Matthew McConaughey, Nicole Kidman, John Cusack, Zac Efron, David Oyelowo, Scott Glenn, Ned Bellamy, Nealla Gordon e Macy Gray
Depois de Precious (2009), já por si difícil de definir, Lee Daniels regressa à realização com um objecto bastante próximo do cinema pulp fiction. The Paperboy - Uma Rapaz do Sul é um filme completamente trashy - como o ambiente que recria - sujo, suado, sexual, arrojado, ousado e de mau-gosto. Ou seja, completamente digno do legado que o realizador norte-americano parece querer criar. Se isso é bom? Pode ser, mas com reservas. Dentro do hiper-realismo habitualmente impresso pelo realizador, toda a história emerge naquela Flórida quente, visceral e pantanosa, aproximada do cinema trash dos anos 70 (um dos seus mais flagrantes exemplares?), com uma fotografia saturada e um guarda-roupa e maquilhagem vulgares. Porém, dentro do seu estilo degradante e de mau-gosto (não é necessariamente uma crítica, o filme é mesmo assim) há espaço para abordar temas transversais ao cinema de Lee Daniels: questões étnico-raciais, sexualidade, justiça e degradação - sem nunca porém se aproximar do cinema-denúncia ou propagandista (que já em Precious não existia directamente). É essa irreverência do realizador tão ambígua quanto de profundo mau-gosto (há necessidade de termos cenas de sexo intercaladas com imagens de porcos em lamaçais ou ratos estripados?) que faz de The Paperboy tão peculiar quanto interessante. E sobretudo tão diferente, mesmo dentro do seu sensacionalismo.
Mas nada disto seria de destaque individualmente falando, se não contássemos com um trabalho de actores tão rico quanto este. Mesmo Zac Efron (os seus tempos de High School Musical já ficaram, felizmente, para trás) tem um desempenho seguro e merecedor de destaque, num filme onde Matthew McConaughey se destaca mais uma vez como o comeback do ano, num estrondoso trabalho na recriação de personagens complexas e desviantes (recentemente evidencia-se ainda em Bernie, Killer Joe e Magic Mike). Mas a estrela de The Paperboy é Nicole Kidman, que parece nos últimos anos mais segura do seu trabalho e sobretudo menos insonsa, com uma entrega absolutamente surpreendente e sem excessivo desejo de agradar ao seu público. A sua Charlotte Bless é uma das mais fascinantes personagens que já interpretou: white trash, vulgar, Barbie sexual, mas simultaneamente tão extravagante quanto genuína. Destaque também para o desempenho de Macy Gray (Lee Daniels volta a entregar papéis de destaque a não-actores depois de Lenny Kravitz, Mariah Carey e em breve Oprah Winfrey, num regresso ao cinema), numa composição com evocações de The Help (2011), mas claramente diferente desse carácter mais romantizado do filme de Tate Taylor.
A história de The Paperboy, enquanto thriller é cativante, impregnado com algum espírito do movimento cinematográfico blaxploitation - brilhante cena num ar ao som de um trio feminino que canta "That man is dangerous" - com momentos de absoluta tensão e sempre uma atmosfera húmida, pantanosa e vulgar. Tão vulgar quanto o filme, o que o torna difícil de catalogar. E repetimos: nem sabemos bem se essa vulgaridade e mau-gosto são motivo para crítica ou não. Mas a vulgaridade existe e entre aquele rol de personagens degradantes e suadas, é por vezes difícil de enxergar - mas é sem dúvidas um dos filmes mais incómodos do ano: para o bem e para o mal.
Depois de Precious (2009), já por si difícil de definir, Lee Daniels regressa à realização com um objecto bastante próximo do cinema pulp fiction. The Paperboy - Uma Rapaz do Sul é um filme completamente trashy - como o ambiente que recria - sujo, suado, sexual, arrojado, ousado e de mau-gosto. Ou seja, completamente digno do legado que o realizador norte-americano parece querer criar. Se isso é bom? Pode ser, mas com reservas. Dentro do hiper-realismo habitualmente impresso pelo realizador, toda a história emerge naquela Flórida quente, visceral e pantanosa, aproximada do cinema trash dos anos 70 (um dos seus mais flagrantes exemplares?), com uma fotografia saturada e um guarda-roupa e maquilhagem vulgares. Porém, dentro do seu estilo degradante e de mau-gosto (não é necessariamente uma crítica, o filme é mesmo assim) há espaço para abordar temas transversais ao cinema de Lee Daniels: questões étnico-raciais, sexualidade, justiça e degradação - sem nunca porém se aproximar do cinema-denúncia ou propagandista (que já em Precious não existia directamente). É essa irreverência do realizador tão ambígua quanto de profundo mau-gosto (há necessidade de termos cenas de sexo intercaladas com imagens de porcos em lamaçais ou ratos estripados?) que faz de The Paperboy tão peculiar quanto interessante. E sobretudo tão diferente, mesmo dentro do seu sensacionalismo.
Mas nada disto seria de destaque individualmente falando, se não contássemos com um trabalho de actores tão rico quanto este. Mesmo Zac Efron (os seus tempos de High School Musical já ficaram, felizmente, para trás) tem um desempenho seguro e merecedor de destaque, num filme onde Matthew McConaughey se destaca mais uma vez como o comeback do ano, num estrondoso trabalho na recriação de personagens complexas e desviantes (recentemente evidencia-se ainda em Bernie, Killer Joe e Magic Mike). Mas a estrela de The Paperboy é Nicole Kidman, que parece nos últimos anos mais segura do seu trabalho e sobretudo menos insonsa, com uma entrega absolutamente surpreendente e sem excessivo desejo de agradar ao seu público. A sua Charlotte Bless é uma das mais fascinantes personagens que já interpretou: white trash, vulgar, Barbie sexual, mas simultaneamente tão extravagante quanto genuína. Destaque também para o desempenho de Macy Gray (Lee Daniels volta a entregar papéis de destaque a não-actores depois de Lenny Kravitz, Mariah Carey e em breve Oprah Winfrey, num regresso ao cinema), numa composição com evocações de The Help (2011), mas claramente diferente desse carácter mais romantizado do filme de Tate Taylor.
A história de The Paperboy, enquanto thriller é cativante, impregnado com algum espírito do movimento cinematográfico blaxploitation - brilhante cena num ar ao som de um trio feminino que canta "That man is dangerous" - com momentos de absoluta tensão e sempre uma atmosfera húmida, pantanosa e vulgar. Tão vulgar quanto o filme, o que o torna difícil de catalogar. E repetimos: nem sabemos bem se essa vulgaridade e mau-gosto são motivo para crítica ou não. Mas a vulgaridade existe e entre aquele rol de personagens degradantes e suadas, é por vezes difícil de enxergar - mas é sem dúvidas um dos filmes mais incómodos do ano: para o bem e para o mal.
Classificação:
Fiquei definitivamente interessado. Hei-de ver.
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