Realização: Lauren Greenfield
Fora dos pré-candidatos ao Óscar 2013 de Melhor Documentário, The Queen of Versailles não deixa de ser um dos mais fortes trabalhos documentais do ano. Começando com aquilo que parece inicialmente tratar-se de um programa trash TV, o filme é muito mais que a caricatura que aparenta ser, seguindo a história do multimilionário David Siegel e da sua esposa Jackie, ex-Miss Flórida, centrando-se especialmente no momento em que encetam um projecto ambicioso: a construção de uma mansão inspirada no Palácio de Versailles, conhecida como a maior casa de sempre nos Estados Unidos, com mais de 90 mil metros quadrados. Especialmente para quem não conhece a história, a realizadora Lauren Greenfield começa por manobrar as expectativas do espectador, revelando aquilo que parece apenas ser um documentário sobre personagens excêntricas com comportamentos bizarros, introduzindo de seguida um revés na narrativa: a crise do mercado imobiliário. A mesma crise que afecta grande parte da população mundial, mas especialmente nos Estados Unidos e também esta família multimilionária que se vê perante um decisão muito cruel para os seus padrões de vida: a paragem da construção da sua mansão e a redução do seu estilo de vida. Embora muitos possam olhar para este The Queen of Versailles como um filme insensível e não consciente de realidades mais comuns (como o facto de milhões de pessoas viverem no limiar da pobreza ou mesmo abaixo dele), na verdade é muito mais que isso. Estamos perante um interessante retrato da crise económica mundial, mas também um retrato sociológico muito curioso e uma interessante alegoria sobre aquilo que é conhecido como american dream.
Gradualmente, a lente de Lauren Greenfield vai captando um lado humano naquelas personagens, especialmente a de Jacqueline Siegel, com noções absolutamente deturpadas da realidade, mas por quem inevitavelmente o espectador consegue compadecer-se. Mais que uma mulher caprichosa e excêntrica, vemos uma excelente mãe e um carinhoso ser humano que o filme vai revelando. Fá-lo ao evoluir gradualmente do seu tom comicamente bizarro e surreal (mesmo de libertar gargalhadas) para uma estranha consciência da realidade, perante a ascensão e queda de uma família norte-americana (obscenamente) rica. O íntimo acesso da realizadora ao seio desta família é o que mais impressionante, oferecendo detalhes complexos da personalidade das suas personagens, capazes de comover. Mais que um mero e estranho fascínio pelo obscenidade daquela riqueza, The Queen Versailles oferece um vislumbre cruel (mas magnificamente construído) da realidade da crise económica, com uma lição humana e moral.
*Crítica possível através de um award screener gentilmente cedido pela Magnolia Pictures.
Fora dos pré-candidatos ao Óscar 2013 de Melhor Documentário, The Queen of Versailles não deixa de ser um dos mais fortes trabalhos documentais do ano. Começando com aquilo que parece inicialmente tratar-se de um programa trash TV, o filme é muito mais que a caricatura que aparenta ser, seguindo a história do multimilionário David Siegel e da sua esposa Jackie, ex-Miss Flórida, centrando-se especialmente no momento em que encetam um projecto ambicioso: a construção de uma mansão inspirada no Palácio de Versailles, conhecida como a maior casa de sempre nos Estados Unidos, com mais de 90 mil metros quadrados. Especialmente para quem não conhece a história, a realizadora Lauren Greenfield começa por manobrar as expectativas do espectador, revelando aquilo que parece apenas ser um documentário sobre personagens excêntricas com comportamentos bizarros, introduzindo de seguida um revés na narrativa: a crise do mercado imobiliário. A mesma crise que afecta grande parte da população mundial, mas especialmente nos Estados Unidos e também esta família multimilionária que se vê perante um decisão muito cruel para os seus padrões de vida: a paragem da construção da sua mansão e a redução do seu estilo de vida. Embora muitos possam olhar para este The Queen of Versailles como um filme insensível e não consciente de realidades mais comuns (como o facto de milhões de pessoas viverem no limiar da pobreza ou mesmo abaixo dele), na verdade é muito mais que isso. Estamos perante um interessante retrato da crise económica mundial, mas também um retrato sociológico muito curioso e uma interessante alegoria sobre aquilo que é conhecido como american dream.
Gradualmente, a lente de Lauren Greenfield vai captando um lado humano naquelas personagens, especialmente a de Jacqueline Siegel, com noções absolutamente deturpadas da realidade, mas por quem inevitavelmente o espectador consegue compadecer-se. Mais que uma mulher caprichosa e excêntrica, vemos uma excelente mãe e um carinhoso ser humano que o filme vai revelando. Fá-lo ao evoluir gradualmente do seu tom comicamente bizarro e surreal (mesmo de libertar gargalhadas) para uma estranha consciência da realidade, perante a ascensão e queda de uma família norte-americana (obscenamente) rica. O íntimo acesso da realizadora ao seio desta família é o que mais impressionante, oferecendo detalhes complexos da personalidade das suas personagens, capazes de comover. Mais que um mero e estranho fascínio pelo obscenidade daquela riqueza, The Queen Versailles oferece um vislumbre cruel (mas magnificamente construído) da realidade da crise económica, com uma lição humana e moral.
*Crítica possível através de um award screener gentilmente cedido pela Magnolia Pictures.
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