quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Django Libertado, por Tiago Ramos


Título original: Django Unchained (2012)
Realização: Quentin Tarantino
Argumento: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington e Samuel L. Jackson

Após a morte de Sally Menke especulou-se, de certo modo, até que ponto a ausência da colaboradora de longo termo de Quentin Tarantino (foi a responsável pela montagem de  todos os seus filmes até à data) poderia afectar os seus filmes vindouros. Coincidência ou não, Django Libertado é o seu filme de maior duração - embora apenas cerca de dez minutos a mais que Pulp Fiction (1994), Jackie Brown (1997) e Inglourious Basterds (2009) - mas também aquele que é talvez mais prejudicado por isso, tornando-se de certa forma redundante, especialmente na recta final da sua narrativa. Não nos precipitemos porém. Mesmo um filme menor do cineasta norte-americano (não que seja o caso deste) é habitualmente superior ao da grande maioria dos filmes produzidos anualmente, de uma riqueza profunda e repleta de momentos memoráveis para os cinéfilos. Mas em Django Libertado nota-se, em mais momentos do que o espectador poderia desejar, uma falta de timing em certas cenas, provocando aquela sensação de redundância e repetição que falava acima. Aliás, embora tenha diversos momentos magníficos, falta aqui muitos dos momentos vibrantes e realmente únicos que eram evidentes em anteriores trabalhos do cineasta, num argumento com algumas cenas de um humor que parece até forçado.

Contudo, em Django Libertado o cineasta brinca com os westerns e o movimento blaxploitation, e mesmo não sendo a homenagem ao género anunciado, garante vários momentos eye candy ao espectador, com pequenos cameos, frequentes snap zooms, cenários e guarda-roupa que o homenageiam. Aqui recupera ainda a mestria técnica da sua obra, incluindo uma fantástica fotografia de Robert Richardson, bem como um dos seus melhores trabalhos a nível da edição sonora. Destaque ainda para a brilhante banda sonora, a recuperar vários temas dos spaghetti western, conciliando-os com canções contemporâneas e que se enquadram maravilhosamente na estética do cineasta. Mas é verdadeiramente nas suas interpretações que o filme se destaca. O destaque óbvio vai para Christoph Waltz que recupera parte do papel que o lançou para o estrelato em Inglourious Basterds e cuja narrativa lhe oferece grande parte dos melhores momentos e cenas, o que ajuda até ao desempenho de Jamie Foxx. Samuel L. Jackson e Leonardo DiCaprio também comprovam o seu talento (duas das melhores interpretações do ano), especialmente surpreendente no caso deste último, num registo invulgar, apesar do argumento não lhes reservar tanto tempo como aos restantes actores e por isso não lhes permitindo explorar o completo potencial das suas personagens.

Pena que apesar de tudo, a narrativa demore a avançar até o seu clímax que explora todas as potencialidades da temática de vingança que Quentin Tarantino traz de volta depois do seu anterior filme. O tempo sente-se a passar (algo que não é comum nos seus filmes) e a frequente sensação de falsos fins, contribuem para que o espectador não se extasie tanto como em outros dos seus filmes. Já para não falar no medíocre cameo final do cineasta, absolutamente desnecessário e que apenas desilude, prejudicando até a narrativa. Não me interpretem mal, porém. Django Libertado é um bom filme, divertido, sangrento, provocador e repleto de referências como seria de se esperar. Mas falta-lhe o toque de ouro final, que não sabemos bem qual é, mas que pode muito bem ser a sua montadora de sempre, Sally Menke.


Classificação:

2 comentários:

  1. É também o 1º filme do Tarantino que não tenho desejo nenhum de ir ver e não percebo bem porquê. Não há nada que me cative nele, nem esta tua crítica tão simpática.

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    1. Aconteceu-me o mesmo e achei que o material promocional não ajudou. Mas para mim já nem os trailers e posters de "Inglourious Basterds" me deram vontade de ver, mas quando vi gostei bastante. Mas este filme é bastante bom, apenas me desiludiu um bocadinho e senti demasiadas vezes o tempo a passar.

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