Título original: Manolete
Realização: Menno Meyjes
Argumento: Menno Meyje
Elenco: Adrien Brody e Penélope Cruz
Um filme praticamente perdido em atrasos de produção e, depois, de distribuição, apareceu e desapareceu das salas portuguesas com a rapidez que, realmente, merece.
Não passa de um ajuntar de lugares-comuns que até poderão ter alguma dose de verdade, mas parecem colhidos a (mau) gosto de livros de psicologia vendidos em aeroportos. Enumero-os.
Jovem profundamente ingénuo que se perderia de amores por uma mulher de vida duvidosa.
Génio das arenas com negros vícios secretos que equilibrassem a luz que dele emanava.
Dançava de perto com a Morte porque esse era o seu desejo mais íntimo, compensado nos momentos fora da arena por todas as outras "drogas" a que se dedicava.
Só era feliz com a mulher que contrariasse o sufoco que a mãe lhe causava por tanto lhe querer bem.
Amava tão ferozmente como toureava, para se castigar dos desejos incestuosos que tinha.
O filme corre-os em hora e meia, tendo ainda de dar tempo à tourada e ao romance. Daí que, por exemplo, os desejos Freudianos nunca resolvidos de Manolete tenham de ser evidenciados num único grito orgásmico do protagonista.
Convenientemente, o Manolete de Adrien Brody parece estar sempre em sofrimento, uma emoção que o rosto do actor sempre parece cavar mais fundo. E a origem tem de estar, de facto, no actor para quem dar corpo a um papel tão ridículo terá sido uma verdadeira moléstia.
Para Penélope Cruz sobra-lhe fazer da encarnação da sensualidade e da fogosidade feminina espanhola. Mais ou menos o que já fez um incontável número de vezes - e que é verdade - pelo que o realizador só tem o trabalho de apontar a câmara, sem tentar dar um traço à personagem que não seja o de apêndice do protagonista.
As cenas de toureio são aquelas que dão algum descanso ao olhar. Não porque sejam diferentes do resto do tratamento despersonalizado do filme, mas porque a sua cor e a emoção (mesmo que falsa) do público dão sempre vida que não se apaga.
Claro que são as mesmas cenas que dão um tom ainda mais absurdo - para não dizer apenas perverso - ao filme, quando uma cena de cama é intercalada com a última lide de Manolete.
A sugestão imediata de que o sexo era um paralelo total da tourada, não apenas a nível emocional mas também num nível físico de domínio e carinho - uma mão acaricia o touro dominado, uma mão acaricia Lupe nua com Manolete em cima de si -, dá ideia de uma misoginia castigadora.
Isso deveria revoltar alguém, já que a sugestão de tal passa de Manolete para todos os toureiros. E deles para todos os povos latinos ligados a esta tradição.
Se estas fossem - não creio - as banalidades toscas e ofensivas que caracterizavam Manolete, realmente esta tentativa de biopic devia ter ficado num limbo permanente de atrasos.
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