domingo, 24 de fevereiro de 2013

Middle of Nowhere, por Tiago Ramos


Título original: Middle of Nowhere (2012)
Realização: Ava DuVernay
Argumento: Ava DuVernay
Elenco: Emayatzy Corinealdi, David Oyelowo e Lorraine Toussaint

Middle of Nowhere nasceu no seio do sub-género black movie, fruto de uma discriminação positiva que frequentemente fornece obras cinematográficas bastante interessantes (e infelizmente bem abaixo do radar), como o caso de Pariah (2011) há dois anos atrás. Ava DuVernay, vencedora do prémio de Melhor Realizador no Festival de Sundance 2012, tornou-se a primeira afro-americana (homem ou mulher) a vencer tal prémio com este filme, um marco que num mundo ideal seria irrelevante, mas que merece atenção actualmente. O filme é um delicado retrato da luta de uma mulher para manter o seu casamento e a sua família, enquanto o marido se encontra preso. Com um argumento escrito de uma forma bastante simples - às vezes excessivamente niilista até - grande parte da força da história vem através do visual subtil, lento e emotivo (de certo modo conseguido em muito pela banda sonora de Kathryn Bostic e pela direcção de fotografia de Bradford Young). A narrativa segue o quotidiano da protagonista, da forma mais mundana possível, para mostrar os sacrifícios que enfrenta e como oferece mais ao seu marido preso que a si própria. Uma história simples mas que aborda temas emocionalmente poderosos, de uma forma competente, como a lealdade e a solidão, através do arquétipo da figura feminina, de raça negra e forte. Um tema já bastante abordado, a grande maioria das vezes repleto de clichés que, mesmo não estando ausentes em Middle of Nowehre, são combatidos pela força da interpretação de Emayatzy Corinealdi que luta pela sua definição própria, enquanto personagem e actriz.

Mesmo que não evite alguns clichés dos dramas indie norte-americanos, Middle of Nowhere não cai nunca na tendência do sensacionalismo através do drama social, abordando um lado humano importante e delicado. Ava DuVernay que actua aqui como produtora, argumentista e realizadora, consegue criar um modelo feminino bastante interessante numa altura em que o cinema parece ainda contaminado por uma figura feminina bastante estereotipada (especialmente a negra). Traz um senso de autenticidade e romantismo bastante delicados e faz sobretudo dela e da sua actriz principal, duas personalidades a ter em atenção no futuro do black movie ou simplesmente do cinema independente norte-americano.

*Crítica possível através de uma cópia online oficial gentilmente cedida pela AaFFRM.

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