Realização: Paul Thomas Anderson
Argumento: Paul Thomas Anderson
Elenco: Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Amy Adams e Laura Dern
Quando o filme começa com aquele plano sobre a água agitada e partimos depois para conhecer uma personagem tão bizarra quanto o Freddie, facilmente nos apercebemos que The Master - O Mentor parte dos mesmos princípios de agitação. Aquela música, desconcertante e perturbadora, um som constante, um batuque cortado com o som do violoncelo, uma espécie de desafinação sonora que incomoda tanto quanto as imagens que se nos apresentam. E o espectador começa a perceber que o caminho de Paul Thomas Anderson é também ele uma agitação, uma espécie de percurso sem rumo, numa América pós-Guerra, numa desorientação social e pessoal. E a nós resta reagir de uma de duas formas: ou negarmos essa perturbação ou aproveitarmos essa desorientação incómoda para nos deixarmos levar por uma narrativa que não sabe onde nos leva, especialmente porque também não é isso que almeja. Aqui temos um trabalho obsessivo e desorientado que deambula por um caminho perturbador para o espectador que esperava uma estrutura de narrativa clássica (e que aqui é completamente oposta ao seu anterior e maravilhoso trabalho, There Will Be Blood). E isso pode ser tão incómodo quanto refrescante, num filme que é tão pouco são quanto o protagonista e quanto a história que revela. The Master não é tanto sobre um culto religioso (a que não faltam comparações com a Cientologia), como é sobre personagens desorientadas, em busca de uma definição e sobre o controlo e dependência do Homem sobre outros.
Paul Thomas Anderson continua obsessivo no nível de detalhe, na forma irrepreensível com que a sua câmara aproveita o contexto de uma época (tecnicamente perfeito, desde a montagem, à fotografia de Mihai Malaimare Jr., passando pelo design de produção, até à banda sonora de Jonny Greenwood), mas dando espaço e foco aos seus actores e personagens. The Master é sobre elas, o seu percurso ou falta dele, a busca pela orientação. O filme é aquele conjunto de actores que brilha mais que qualquer outro este ano. Sobre aquela dinâmica dependente e tempestuosa entre as personagens de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman (provavelmente os seus melhores trabalhos) que se ofuscam continuamente, mas que também trabalham harmoniosamente em conjunto (maravilhosa cena aquela do questionário), num misto de tensão, solidão, criatividade e loucura. É através deles que a câmara do cineasta norte-americano deambula por um dos seus mais divergentes e incertos trabalhos, incrivelmente contraditório e perturbador, incómodo e marcante. Amy Adams incrível na sua subtileza controlada, com uma Laura Dern a marcar ainda a narrativa com uns meros dez minutos de presença, mas a definir tão bem o rumo que a história toma e a merecer certamente mais crédito por aí.
The Master é por isso também o caminho de um dos grandes cineastas vivos, sem medo de dar ao cinema mais do que entretenimento. Sem dar espaço a concessões e por isso também que menos se importa em desorientar o espectador. É afinal isso que quer, porque também ele vive assim, uma angústia e solidão, com temas familiares tão marcantes, uma divergência de pensamento. E é por isso que, a acompanhar a narrativa, temos aquela música perturbadora e constante. Irritante, às vezes. Que nos deixa indispostos. Porque a sua intenção é não ter caminho e objectivo visível, mas sim a de vislumbrar uma sociedade ansiosa, desgastada e perturbada. Talvez tão louca quanto Freddie Quell, aquela loucura controlada que todos nós temos, mas ansiamos esconder. E talvez vivamos todos assim tão à beira do precipício.
Quando o filme começa com aquele plano sobre a água agitada e partimos depois para conhecer uma personagem tão bizarra quanto o Freddie, facilmente nos apercebemos que The Master - O Mentor parte dos mesmos princípios de agitação. Aquela música, desconcertante e perturbadora, um som constante, um batuque cortado com o som do violoncelo, uma espécie de desafinação sonora que incomoda tanto quanto as imagens que se nos apresentam. E o espectador começa a perceber que o caminho de Paul Thomas Anderson é também ele uma agitação, uma espécie de percurso sem rumo, numa América pós-Guerra, numa desorientação social e pessoal. E a nós resta reagir de uma de duas formas: ou negarmos essa perturbação ou aproveitarmos essa desorientação incómoda para nos deixarmos levar por uma narrativa que não sabe onde nos leva, especialmente porque também não é isso que almeja. Aqui temos um trabalho obsessivo e desorientado que deambula por um caminho perturbador para o espectador que esperava uma estrutura de narrativa clássica (e que aqui é completamente oposta ao seu anterior e maravilhoso trabalho, There Will Be Blood). E isso pode ser tão incómodo quanto refrescante, num filme que é tão pouco são quanto o protagonista e quanto a história que revela. The Master não é tanto sobre um culto religioso (a que não faltam comparações com a Cientologia), como é sobre personagens desorientadas, em busca de uma definição e sobre o controlo e dependência do Homem sobre outros.
Paul Thomas Anderson continua obsessivo no nível de detalhe, na forma irrepreensível com que a sua câmara aproveita o contexto de uma época (tecnicamente perfeito, desde a montagem, à fotografia de Mihai Malaimare Jr., passando pelo design de produção, até à banda sonora de Jonny Greenwood), mas dando espaço e foco aos seus actores e personagens. The Master é sobre elas, o seu percurso ou falta dele, a busca pela orientação. O filme é aquele conjunto de actores que brilha mais que qualquer outro este ano. Sobre aquela dinâmica dependente e tempestuosa entre as personagens de Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman (provavelmente os seus melhores trabalhos) que se ofuscam continuamente, mas que também trabalham harmoniosamente em conjunto (maravilhosa cena aquela do questionário), num misto de tensão, solidão, criatividade e loucura. É através deles que a câmara do cineasta norte-americano deambula por um dos seus mais divergentes e incertos trabalhos, incrivelmente contraditório e perturbador, incómodo e marcante. Amy Adams incrível na sua subtileza controlada, com uma Laura Dern a marcar ainda a narrativa com uns meros dez minutos de presença, mas a definir tão bem o rumo que a história toma e a merecer certamente mais crédito por aí.
The Master é por isso também o caminho de um dos grandes cineastas vivos, sem medo de dar ao cinema mais do que entretenimento. Sem dar espaço a concessões e por isso também que menos se importa em desorientar o espectador. É afinal isso que quer, porque também ele vive assim, uma angústia e solidão, com temas familiares tão marcantes, uma divergência de pensamento. E é por isso que, a acompanhar a narrativa, temos aquela música perturbadora e constante. Irritante, às vezes. Que nos deixa indispostos. Porque a sua intenção é não ter caminho e objectivo visível, mas sim a de vislumbrar uma sociedade ansiosa, desgastada e perturbada. Talvez tão louca quanto Freddie Quell, aquela loucura controlada que todos nós temos, mas ansiamos esconder. E talvez vivamos todos assim tão à beira do precipício.
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