O quinto dia desde que começou o Fantasporto 2013 marcou também o início oficial da secção competitiva, com a sessão de abertura a decorrer com lotação esgotada e a exibição de Mama (que estreará nas salas de cinema portuguesas já no próximo dia 7 de Março), na presença do seu realizador, Andrés Muschietti e a produtora, Barbara Muschietti. A segunda sessão da noite fez-se também com uma sala bastante completa e com a celebração dos 65 anos desde a estreia do clássico The Red Shoes, em homenagem a Michael Powell, com a exibição de uma cópia restaurada do filme.
Mama (2013), de Andrés Muschietti
Produção de terror bastante satisfatória, Mama não deixa de seguir as normas habituais dos filmes do género e recorrendo a esses mecanismos (mudanças de som abruptas, uma fotografia escura que faz bom uso das sombras, sustos, crianças e uma história com elementos sobrenaturais) para cumprir o seu objectivo. Apesar disso, fá-lo sempre de forma bastante competente, especialmente porque consegue frequentemente criar um ambiente tenso e de grande expectativa. O realizador espanhol recupera a sua curta-metragem homónima (e que chegou a competir no Fantasporto 2009) e em determinada parte da história reconstitui-a, mas melhora-a fornecendo um contexto que ajuda a criar o ambiente certo para a narrativa. O elenco é bastante competente, com Jessica Chastain a protagonizar (mesmo que a sua personagem não se livre de uma certa dose de clichés dispensáveis), mas onde as crianças têm um papel essencial e Isabelle Nélisse como Lilly consegue ser bastante assustadora. Megan Charpentier e Nikolaj Coster-Waldau são bastante credíveis no seu desempenho também. Pena que no final e apesar de uma solução narrativamente interessante e de certo modo rara, Mama chega quase a deitar grande parte do trabalho a perder, quando recorre a uma sequência repleta de CGI para dar visão a algo que era maioritariamente sugerido durante a trama. Bem sabemos que o poder de sugestão é bem mais forte que o resto e aqui não foi excepção, daí que o facto de tornarem tudo muito visível e real, faz perder grande parte da piada.
A oportunidade única de ver em grande ecrã este clássico do cinema britânico não podia ser desperdiçada e o filme não desiludiu. De uma narrativa clássica e apaixonante e como um dos melhores e mais enigmáticos filmes feitos acerca de ballet, The Red Shoes beneficia e muito a partir de uma direcção artística excelente e uma fotografia em technicolor bastante envolvente. De uma história comum, de amor e ambição, o filme baseia-se no conto homónimo de Hans Christian Andersen para o adaptar em duas frentes (como peça de ballet e como filme) que acabam por se fundir numa só. Bastante convincente na forma como recria o profissionalismo e impiedade das companhias de ballet, o filme consegue manter uma tensão durante bastante parte do tempo (as cenas de ballet estão maravilhosamente filmadas), muito bem rematada na parte final da trama. Entre o sofrimento da indecisão da protagonista (uma belíssima Moira Shearer) entre escolher o amor ou o trabalho, destaca-se o fantástico desempenho de Anton Walbrook. Visualmente esplendoroso, The Red Shoes é um clássico que utiliza soluções criativas bastante originais e imponentes, para recriar um poético dilema e uma obra de arte bastante expressiva.
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