As sessões da tarde durante os dias de semana são sempre com menos pessoas, mas felizmente a noite compensou com as duas sessões do Grande Auditório bastante completas. Como nota, em vista ao nosso comentário de ontem sobre os vários problemas técnicos ocorridos nas sessões de Sábado: a partir da sessão das 19h do Grande Auditório, antes de cada filme, foi emitido um aviso para a eventualidade de existências de problemas de ordem técnica, devido aos diferentes formatos exibidos. Felizmente não ocorreu qualquer problema durante o dia de hoje, mas fica sempre bom saber que pelo menos os espectadores ficam de sobreaviso na eventualidade de tal acontecer e é a prova que pelo menos o Fantasporto está atento às críticas negativas também.
Delirium (2013), de Ihor Podolchak
Um dos piores filmes do certame até ao momento, Delirium parte de uma premissa potencialmente interessante, para uma má concretização. Com um argumento praticamente inexistente e com a "acção" a decorrer apenas partindo do conceito de "delírio", é apenas um desenrolar de cenas desconexas que tentam criar a dúvida entre delírio/realidade, mas que apenas resultam num produto moroso e aborrecido para o espectador. Uma tentativa desinspirada de cinema art house que pensa que para tal basta utilizar planos de câmara invulgares.
Durante grande parte da trama, parece-nos que estamos perante mais um filme de terror sobrenatural. Formulaico no modo como introduz esses conceitos, é verdade, mas sobretudo competente a maioria do tempo. Mas na verdade, o filme revelou-se uma das maiores surpresas do certame deste ano. Isto porque Forgotten induz o espectador em erro durante grande parte do tempo, conseguindo manter o mistério quase até ao fim, a partir do momento em que a trama segue um caminho completamente diferente e se revela um género completamente oposto. Com um argumento bem conseguido (mesmo que rebuscado e que por vezes parece esticar demasiado a linha), o filme conta com duas excelentes interpretações que esperemos que não sejam ignoradas nos palmarés: Mina Tander e Laura de Boer.
A Beautiful Mistake (2010), de Hui Zhou Lu
Sólido drama passado na China dos anos 70, surpreende sobretudo pela excelente realização e pela magnífica direcção de fotografia. A narrativa é particularmente cativante quando se foca num jovem rapaz como protagonista, a sua forma ingénua de ver o mundo e a sua relação com um homem idoso. Mas quando essa relação funciona como um catalisador para uma história trágica, perde qualidades por não conseguir manter o mesmo nível de interesse, tornando-se por vezes redundante. De qualquer modo, é um filme com uma excelente construção de personagens e uma competente recriação de época, social e culturalmente falando.
Numa acção que se desenrola numa morgue, com corpos sem vida, não deixa de ser interessante estarmos perante a história de duas pessoas presas aos seus próprios corpos indesejados. Com uma mensagem geral de amor e aceitação, recriando um microcosmos de infelicidade e desolação, o filme revela um fascínio estético pelo terror gótico. Fascínio esse, visível na forma como a realização e a fotografia (bastante competentes) trabalham para criar uma interessante imagética que se complementa com as próprias personagens, solidamente interpretadas, num drama maioritariamente sólido. Lamentavelmente, especialmente na fase final, o filme acaba por perder a força narrativa, caindo na tendência excessiva de tornar tudo demasiado poético (o uso do CGI era desnecessário), não sabendo inclusive finalizar a trama, arrastando-a para além do desejado.
O realizador japonês Takashi Miike comprova mais uma vez o seu talento e versatilidade, ao adaptar um videojogo ao cinema. Surpreende precisamente pela frescura com que o faz, mantendo um formato, gráfica e narrativamente semelhante ao do jogo. Com uma acção estilizada, o filme revela-se bastante divertido, mesmo quando o argumento vai se tornando excessivo (por vezes até demasiado absurdo, mesmo no género em que se insere) e o final da trama teima em chegar. Mesmo que o filme possa ser mais apelativo para quem conhece o jogo (mantém o espírito original, com gags visuais agradavelmente inspirados), Ace Attorney revela-se um excelente produto final para todos, conseguindo manter o espectador animado e interessado durante grande parte do tempo.
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