Em cópia de qualidade irrepreensível, uma aclamada visão crítica da América feita dentro do seu sistema de estúdios. O Exército, uma instituição representativa da própria nação dentro (e à volta) do qual a procura por uma identidade - entre as muitas lá assumidas ou fingidas - percorre caminhos de orgulho e honra, violência e afecto. Uma deriva contra os inimigos internos das personagens e da nação que se ameaça resolver, mas também recomeçar, quando um inimigo externo surge. A guerra - aquela e as próximas - surge como salvação, explicando muito do porquê de se ver os EUA sempre em conflito. Uma magnífica recuperação pela sua actualidade renovada que mostrará que há mais neste filme do que a sua tão mítica cena de praia, mas sobretudo pelo notável leque de estrelas a darem interpretações acima de qualquer reparo. Um luxo a ver em sala. Carlos Antunes
Os Estagiários (2013), de Shawn Levy
É difícil perceber se a análise (?) a fazer perante este filme, envolve explicar os níveis a que chegou o product placement no cinema contemporâneo ou como uma empresa como a Google se tornou tão intrínseca nas nossas vidas. Mas adiante, já que honestamente soarão forçadas as ilações a retirar daqui. Na verdade, este Os Estagiários é precisamente aquilo que aparenta: entretenimento inofensivo, sem nada demais a acrescentar. Da narrativa formulaica, retiram-se meia dúzia de gags bem sucedidos e uma moral de superação e união, já milhares de vezes vista. Owen Wilson e Vince Vaughn entregam-se aos seus papéis e nem sempre lhes corre bem (há uma dose de piadas forçadas às quais nem a química dos actores lhes vale), mas quando resulta, resulta a sério. Lá para o final e com a (interessante) dinâmica com as restantes personagens secundárias começamos a acomodar-nos à história e a esboçar alguns sorrisos sinceros, mas não é suficiente para salvar o filme como um todo. Tiago Ramos
Headhunters - Caçadores de Cabeças (2011), de Morten Tyldum
Se há pontos a dar a Grandes e Lindas será certamente o carisma e honestidade com que entrega a narrativa, algo muito típico neste género de comédias francesas. A história não adianta muito mais que a sinopse, mas o à-vontade em falar do excesso de peso e dos "gordos" em jeito de piada, mas com moral incluído, é francamente simpático. Tão simpático como o elenco reunido, não dando especialmente para desconsiderar, a revelação que é a actriz Lola Dewaere (recebeu até uma nomeação aos prémios César 2013). Pena que o papel não lhe dê mais que isto. ½ Tiago Ramos
Mestres da Ilusão (2013), de Louis Leterrier
Um argumento esforçado a partir de uma boa premissa consegue domar até a alarvidade com que Leterrier se costuma lançar à realização dos seus filmes. Só depois de dois actos já concluídos é que descobrimos porque é este o realizador encarregado de um filme que promete usar a demistificação da magia a favor de um filme de assalto (com alguma consciência social) para acabar a tentar iludir os espectadores com um thriller no caminho habitual: um final banal servido com exagero visual para desviar a atenção. O problema é que não há nenhum verdadeiro truque de magia para redimir o desperdício de vários bons actores. Carlos Antunes
Confessemos que este é daqueles casos em que queríamos ter gostado mais do filme. Isto porque é impossível ignorar o carisma e talento dos actores envolvidos, mas a dada altura não vai além do mero aspecto bonitinho (tecnicamente está lá toda a atenção aos detalhes, direcção artística, guarda-roupa, fotografia e maquilhagem), assumindo um tom de quase telefilme e sem grandes ambições. O retrato de uma época e da vivência entre britânicos e norte-americanos é curioso, mas nem Bill Murray - com o seu talento - foge ao estereótipo da representação de uma figura como o Presidente Roosevelt, nem Laura Linney consegue salvar a honra, dada a pouca espessura da sua personagem. Vale-lhe alguns momentos e uma interpretação de Bertie (o Rei George VI) e Elizabeth, por Samuel West e Olivia Colman, bem mais interessantes que os de The King's Speech. Tiago Ramos
Bill Murray faz um Roosevelt muito convincente numa interpretação que se acarinha pela falta de esforço demonstra (contra um Lincoln de Daniel Day-Lewis em que o esforço está carregado no ecrã). Como se entrasse na personagem apenas quando lhe é dito "acção" e logo acertasse o tom. Pena que não lha digam vezes suficientes, tendo de partilhar o ecrã com as muitas intrigas de quartos de dormir: ousadas quando focam a realeza e a angústia simultaneamente pessoal e política a cargo de Samuel West e Olivia Colman; falhadas quando têm de seguir a patética rapariguinha apaixonada pelo presidente. Dos diários dessa miúda tola só deveriam ter passado a filme aqueles detalhes sobre os quais os historiadores apenas podem conjecturar. Ela devia ter ficado esquecida como a personagem sem graça que aqui mostraram que foi. Carlos Antunes
Vida Selvagem - O Filme (2011), de Michael Gunton e Martha Holmes
Vistas num ecrã de dignas proporções, as magníficas imagens (ou não fossem de David Attenborough) chegam mesmo a merecer o epíteto de "de cortar a respiração". Já a fragmentada narrativa humanizante - paternidade, independência e amor - tem uma abordagem infatilizante que só os momentos sobre o engenho animal para a caça conseguem contrariar. Despojado do didactismo científico de Attenborough, o texto limita-se a ser uma monótona tentativa de prosa edificante lida por Daniel Craig, que pode ser um excelente nome para colocar no cartaz do filme, mas cuja voz não tem personalidade para a tarefa. Carlos Antunes
Bem sabemos que a intenção de A Casa de Mi Padre está em parodiar o típico exagero do cinema sul-americano, talvez mais o mexicano. Mas o problema e o que torna este filme tão cansativo como tão pouco engraçado é que em vez de tentar efectivamente brincar (como fazia Machete, por exemplo), limita-se apenas a reunir os peculiares elementos desse cinema (as falhas de raccord, os cenários de estúdio e lá está, os excessos), como se por si só valessem a piada por cerca de uma hora e meia. Will Ferrell tem o seu boneco, sem graça na maioria das vezes, porque limita-se a ser um veículo dessas formas, nem sempre escondendo o retrato misógino e racista através do comentário satírico. Tiago Ramos
Sem comentários:
Enviar um comentário