Um filme sobre o apocalipse zombie em estilo indie, ou seja, do ponto de vista de um par de sobreviventes que estão tanto um contra o outro como estão contra o mundo à sua volta. São várias as boas ideias que permitem ao filme ser um drama íntimo sem deixar de criar um mundo digno dos filmes de terror. Ou, se quisermos fazer a leitura ao contrário, excelente ideias em que o papel do dramatismo se substitui à falta de meios para cenas de espectáculo. Tal só deixa de se verificar quando o filme já vai a caminho do fim e insiste em demasiada na ideia de claustrofobia com que se encerra ao invés de resolver o conflito aberto pelo cruzamento com outros seres humanos. Prejudica o filme mas não chega a estragar a boa impressão que provoca. Carlos Antunes
Abductee (2013), de Yudai Yamaguchi
Não se esperava que o realizador de Meatball Machine e Deadball pudesse realizar um filme tão cheio de controlo: estilístico, dramático e espacial. Como na importância que o som tem para a compreensão da realidade do lado de fora do contentor em que encontramos o nosso protagonista, evitando que se tenha de sair daquele ambiente cerrado. Pelo menos até aos momentos finais em que o movimento exterior termina e se começa a conhecer algo mais do que o interior daquele espaço, no momento em que se reconhecem os gostos temáticos de Yudai Yamaguchi. Muitos saíram do filme desconcertados com aquele final extravagante, mas apenas porque não estarão habituados a encontrar numa parte da cultura nipónica este excesso pop que torna as obras bizarras aos olhos ocidentais. Até porque o final estava em acordo, temático e dramático, com o que vimos antes, não importa quão mais espalhafatoso do que o filme tenha sido. ½ Carlos Antunes
You're Next (2011), de Adam Wingard
Não há outra maneira de o dizer: não dava nada por You're Next. Além dos dois responsáveis apenas terem mostrado uma boa ideia (levada para lá do que devia) nos seus segmentos das antologias que o MOTELx também foi mostrando, havia também os dois anos perdidos até que a distribuição do filme acontecesse. Isso certamente ajudou à surpresa, mas o trabalho do realizador e do argumentista também não deixam de ter o mérito de pegar numa boa ideia e conseguir aguentá-la durante uma hora e meia com algumas reviravoltas bem pensadas - e outras exageradas, verdade seja dita. Mas, sobretudo, conseguem fazer um thriller escrito com boas doses de humor negro. Infelizmente não tem terror suficiente, mesmo se tem muitas referências a filmes do género. Os autores são, sobretudo, criativos, faltando-lhes agora o domínio sobre como construir uma estrutura transversalmente sólida em torno das suas ideias. Carlos Antunes
John Dies at the End (2012), de Don Coscarelli
Paul Giamatti não é mais garantia de qualidade, mas antes garantia de um prestígio "à margem" que chamará a atenção para um filme. Neste caso merece-o, um filme que se joga na fronteira do abismo da comédia negra tresloucada e que consegue lá fincar a sua posição num crescendo de um imaginário que só se mostra absurdo porque assim o entende, pois as muitos excelentes ideias que tem - e que Douglas Adams teria aprovado - poderiam e deveriam ser momentos clássicos ou do cinema de aventuras ou da comédia. No meio de um filme de horror que não leva nada a sério e é assumidamente louco só poderão vir a criar um fenómeno de culto. Carlos Antunes
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