segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Review: Submersos - Temporada 1

Uma grande maioria das séries portuguesas que chegam à nossa televisão têm quase sempre o principal defeito de serem telenovelas (mal) disfarçadas. Desde o elenco escolhido, aos níveis de produção, até à própria estrutura narrativa que abusa do melodramatismo, a verdade é que raras vezes temos efectivamente boas produções nacionais a esse nível. É óbvio que existem algumas honrosas excepções, como o caso deste Submersos (exibido no Canal Q), série de nove episódios, criada por Filipe Homem Fonseca e protagonizada por Maria Rueff e Claúdio da Silva (Filme do Desassossego).

Comédia dramática sobre um casal divorciado que continua a viver na mesma casa após mais de seis meses de separação, a verdade é que o primeiro episódio não me causou uma impressão assim tão positiva. Não que o identificasse como um produto mau, mas a dose de humor bizarro, assim como a introdução de uma personagem incomum (interpretada por Carloto Cotta), nem sempre resultou da melhor forma, até porque faltava alguma química entre os actores e algumas das situações soavam forçadas. Mesmo assim foi suficiente para o identificar como um projecto ambicioso e com elevado potencial.

Ao longo da temporada o que me surpreendeu foi que o potencial cómico revelado no primeiro episódio era facilmente diminuído pelo poder dramático das situações. E esse é o ponto forte deste Submersos, o retrato do quotidiano de um casal separado por diversas incompatibilidades pessoais (e não só), mas que nutrem ainda algum carinho um pelo outro - nem que seja pelos factores "habituação" e "dependência". Os arcos narrativos gerados ao longo da série são dotados de um humor negro, desconcertante e um poder fortemente dramático e devastador, que surpreende pela profundidade dos diálogos e pela dinâmica dos actores. Sobretudo, a série confirma Maria Rueff como uma actriz profundamente talentosa, mesmo no espectro dramático, onde consegue surpreender o espectador pela veracidade e intensidade que emprega nas cenas mais fortes. A depressão e a solidão espelhadas naquele olhar são absolutamente memoráveis. Entre todos os episódios que estabelecem um elevado nível de coerência narrativa e técnica, há sobretudo um a destacar (que é o meu preferido da série): o episódio 5, "O Abismo". Esse episódio revela toda a premissa e competência da série: comicamente desconcertante, poderoso, profundo, intenso e dramático. 

Já a nível técnico e principalmente para uma produção televisiva com um orçamento  e meios altamente reduzidos, Submersos surpreende pela qualidade, com uma direcção de fotografia talentosa, assim como um trabalho sonoro (também a banda sonora) de forte impacto também na narrativa. Resta esperar que Filipe Homem Fonseca possa continuar em breve esta parceria com Maria Rueff para uma segunda temporada, porque a produção (e nós espectadores) merece! 

Como nota, a série (com os seus nove episódios) encontra-se disponível no Youtube. Fica a sugestão e a oportunidade de mais pessoas conhecerem este maravilhoso trabalho nacional!




Submersos (2013)
De Filipe Homem Fonseca
Canal Q


Temporada 1

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