sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Semana em Crítica - 29 de Agosto

Noiva Prometida (2012), de Rama Burshtein


Noiva Prometida é uma visão profunda e íntima da comunidade ultra-ortodoxa em Israel, com a câmara de Rama Burshtein a nunca assumir um ponto de vista voyeurista, com um olhar nunca intrusivo. É dotado sobretudo de um olhar inclusivo e absolutamente natural, explorando a cultura e os rituais da família e da comunidade de um modo sensível e emocionalmente complexo - sempre atento aos pormenores e aos enquadramentos. Focada nas individualidades de cada personagem, de um ponto de vista comum, a narrativa beneficia-se em muito pela qualidade do elenco, sobretudo a soberba Hadas Yaron que entrega toda a complexidade da sua personagem. Tem, porém, alguns problemas de ritmo e uma trama que se desenvolve de uma forma previsível (e por vezes demasiado melodramática).  Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



Eu Venho Com a Chuva (2009), de Tran Anh Hung


Tentar encontra ligações entre este Eu Venho Com a Chuva - que chega a Portugal com quatro anos de atraso - e os trabalhos anteriores do vietnamita Tran Anh Hung parece difícil. Isto porque do exotismo e das riquezas das histórias que conhecemos em The Scent of Green Papaya (1993) ou The Vertical Ray of the Sun (2000) parece sobrar muito pouco, com este filme a marcar um ponto de viragem no realizador e uma tentativa de se aproximar de um cinema mainstream para o qual tem pouco olhar. Isto porque a sua definição de mainstream é repleta de lugares-comuns, com anti-heróis emocionalmente torturados e um thriller policial francamente incoerente em alguns momentos. Convenhamos também que Josh Hartnett como protagonista pouco ou nada convence e que a fraqueza do argumento também não ajuda, com apenas o sul-coreano Byung-hun Lee a conseguir roubar todas as cenas em que surge. Vale-lhe o estilo e ambiente negro que já havíamos conhecido em Cyclo (1995). Uma estrelaUma estrela Tiago Ramos





O principal problema desta sequela é o facto de lhe faltar a frescura e originalidade do filme original. Do mal o menos, ou não fosse esse uma das principais consequências das sequelas, mas nota-se no olhar de Jeff Wadlow uma visão muito mais gratuita da história e bem menos importada com o que realmente interessava em Kick-Ass (2010): a desconstrução do mito do super-herói, o espírito subversivo e a crítica à sociedade contemporânea obcecada pela popularidade. Aqui é tudo bem mais gratuito, faltando-lhe ainda o factor surpresa que o original tinha conseguido empregar - especialmente quando falamos na personagem Hit-Girl. Emprega o estilo violento e subversivo de uma forma bem mais óbvia, mas que convenhamos, não é por isso menos divertido - o factor coolness garante boa parte da diversão - mesmo quando o humor é menos inteligente. Chloë Grace Moretz continua a ser a estrela. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos



Trip de Família (2013), de Rawson Marshall Thurber


Não há grande surpresa em Trip de Família: há o humor vulgar, os lugares-comuns da narrativa, os actores habituais nos papéis comuns, que culmina no mesmo sentido final da descoberta do humor e da redenção, o "tudo está bem quando acaba bem". Mas curiosamente tudo isso resulta bem e o filme consegue ser um bom objecto de entretenimento, especialmente se atentarmos ao género, divertido, com interpretações capazes (a dupla de secundários Kathryn Hahn e Nick Offerman é magnífica), com Jennifer Aniston e Jason Sudeikis a transmitirem uma boa química - e com a primeira a confirmar que consegue fugir às óbvias comédias românticas, como fez em Horrible Bosses (2011). É efectivamente o que parece, mas tem a sua graça. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



A Vida de Outra Mulher (2012), de Sylvie Testud


Embora baseada num romance de relativo sucesso da francesa Frédérique Deghelt, a realização de Sylvie Testude revela que em A Vida de Outra Mulher pouco há mais que uma tentativa de replicar uma fórmula muito hollywoodesca e já conhecida em filmes como 13 Going on 30 (2004) ou 17 Again (2009). Formatado pelas típicas produções norte-americanas (um fenómeno a que o cinema francês se tem tornado particularmente afecto nos últimos anos), vale-lhe algum carisma de Juliette Binoche como protagonista. Uma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos



Fuga do Planeta Terra (2013), de Cal Brunker


Obviamente direccionado a um público mais infantil, Fuga do Planeta Terra não deixa de ter algumas piadas dedicadas também aos mais adultos e que revelam alguma competência e vontade de divertir («James, Cameron, get the aliens» é uma das que fica na memória). O problema é que a história é um conjunto de retalhos de vários outros filmes (de animação e não só), com o mesmo tipo de personagens e eventos vistos e revistos vezes sem conta. É suficientemente divertido para se tornar meramente simpático. Uma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos

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