Foi a obra destacada do festival ou não fosse a obra de um cineasta destacado que, malgrado um ou outro filme menor, tem sido capaz de criar filmes de todos os géneros e sensibilidades para todo o tipo de públicos. Mas se será sempre mais citado - não necessariamente lembrado - por um filme de vampiros, eis outro e magnífico. Explorando bases bem distintas e muito originais para um mito que tende a ser repetido com base numa única origem, Neil Jordan cria um luxuriante universo visual cujo tom moderno integra sem defeitos os laivos de conto gótico - é ouvir os diálogos de qualidade inestimável. O filme é ainda mais do que isso, uma reflexão sobre a arte da narrativa e a verdade, além de um drama entre mãe e filha que explora com inteligência o peso da eternidade sobre tal relação. Verdade que não é um filme que se cristalize numa obra imaculada, mas a sua ambição não o faz perder a coerência. Um destaque final para Gemma Arterton cuja sensualidade ainda não tinha sido assim (bem) explorada pelo cinema e que, tirando em Tamara Drewe, ainda não tinha podido mostrar o seu talento de actriz. Carlos Antunes
Countdown (2012), de Nattawut Poonpiriya
É possível fazer um filme de terror que mantém a tensão do princípio ao fim, que esboça o carácter das suas personagens com dois ou três traços mas que logo se tornam essenciais à história, e mesmo assim fazer com que ele seja divertido durante o tempo todo de acordo com o estilo cómico com o qual se iniciou. Countdown é esse filme e foi um dos objectos mais distintivos do MOTELx, criando uma verdadeira satisfação perante o "prato completo" que oferece e que é tanto capaz de deixar um comentário à sociedade jovem-adulta contemporânea como de criar uma memorável personagem chamada Jesus - e David Asavanond deixa vontade de o ver mais vezes nas nossas salas. ½ Carlos Antunes
The Conjuring - A Evocação (2013), de James Wan
A James Wan deveremos sempre culpar pelo legado que Saw foi impondo ao cinema de terror actual. E, no entanto, tem sido ele o primeiro a tentar distanciar-se de tal, perseguindo uma composição cinematográfica que vá além da exibição gráfica. Já tinha estado perto de o conseguir com Insidious, mas acabando por quebrar com o que vinha criando. Agora, com The Conjuring, criou uma obra que valoriza os elementos narrativos e, sobretudo, os elementos dramáticos que fazem valer as personagens mais do que os efeitos. Efeitos esses que recuperam a eficácia discreta, criando o ambiente, sugerindo hipóteses e concretizando apenas os sustos que devem mesmo acontecer em frente à câmara. Certamente que tratar-se de uma história real ajudou a todo este resultado e é uma pena que os dois projectos anunciados em nome de James Wan ameacem desviá-lo daquilo em que ele se poderia recuperar para o Horror futuro. ½ Carlos Antunes
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