Título original: Grace of Monaco
Realização: Olivier Dahan
Elenco: Nicole Kidman, Tim Roth, André Penvern, Paz Vega, Milo Ventimiglia, Parker Posey e Frank Langella
A ideia de que Grace Kelly ao tornar-se Grace do Mónaco teve de continuar a ser uma actriz em palcos diferentes não é rejeitada pelo público como parte importante de um carácter mais amplo.
Que essa ideia seja o traço maior - quase único - da personalidade de uma mulher que marcou o século XX e que continua no imaginário global até hoje já o é. Sobretudo da maneira como essa ideia é forçada sobre público.
Esperar que um episódio isolado defina uma personagem - e uma personagem real, ainda para mais - na sua natural complexidade é um exercício fútil que fica a cargo dos criadores do filme e não do público.
A ânsia de voltar a actuar manifesta-se em Grace Kelly quando Hitchcock lhe oferece o papel em Marnie, num momento em que uma crise política evidencia o afastamento que se criou entre ela e Rainier, o que a tornou numa mulher negligenciada e infeliz.
O filme poderia ter aproveitado para reflectir na mais dura das realidades, que até uma mulher de extraordinária beleza e talento, uma mulher que se tornou Princesa, sofre o mesmo drama mundano de todos os outros casamentos.
Em vez disso, limita-se a afirmar que, contra esse desejo, o Amor fala mais alto e inspira nela um o Sentido de Estado que interrompe o projecto apenas para que se revele que a sua performance maior haveria de ser a de Princesa.
Um conto de fadas dentro do conto de fadas. O amor tudo conquista... excepto o público.
O público já apresentava desconfiança da hipótese de ser olhado como limitado na sua relação com a história e vai vendo esta confirmada a cada cena do filme.
De todas as abordagens que poderiam ser usadas pelo filme, esta em que os problemas só podem desaguar num final feliz é a mais insignificante.
A Grace Kelly do filme tenta assegurar o filme e garantir o restauro de um hospital. Isto até que descobre uma intriga palaciana e logo se decide a enfrentá-la.
A desesperada mulher que tentava ter algum projecto seu lança-se na vertigem da arte da política e não só salva o marido como salva o país.
Decide-se a ter lições sobre o Mónaco e o seu papel político e no intervalo de uma semana consegue transformar-se na Princesa que o povo crê que ela deve ser. A Princesa que salvará o reino com um plano secreto que comove os líderes de todo o mundo.
A conveniência que deveria ser usada meramente como ferramenta de síntese torna-se na única solução do argumento, reduzindo-o a um simplismo confrangedor.
Só que ainda mais absurdo - e ridículo - é que essa semana de lições de etiqueta , o professor tem a arrogância de tentar ensinar a Grace Kelly o ofício da representação. São cenas de um pretenso simbolismo e que sem subtileza obrigam (ou tentam) o público a engolir o único argumento que o filme tem sobre quem foi Grace Kelly: uma actriz num papel "maior que vida" mas absolutamente real.
A escolha de Olivier Dahan para este filme justifica-se amplamente pelo seu currículo. Já havia tornado ridícula a vida de Edith Piaf e garantido a Marion Cottillard um Oscar por isso, porque não haveria de fazer o mesmo com Grace Kelly e Nicole Kidman?
A sua abordagem é a de envolver a actriz na mais precisa reprodução de época. Tão precisa que transmite quase sempre a sensação de artificialidade. Uma verdadeira casa de bonecas em estilo opulento.
E o seu tratamento da actriz passa por lhe filmar pormenores do rosto (veja-se o poster!) na esperança de que consigamos confundir Nicole Kidman com Grace Kelly - impossível em absoluto.
Olivier Dahan estava, provavelmente, a tentar disfarçar o facto de Nicole Kidman estar a fazer de Nicole Kidman e nada mais...
Mas é irónico que num filme em que Hitchcock recomenda a Grace Kelly que não se deixe ficar demasiado perto do limite do enquadramento essa seja a única das soluções do seu realizador.
A haver algo de menos mau no filme, será Tim Roth, que dá vida a um Príncipe Rainier algo misterioso. Isso se quisermos ver num homem reservado e hesitante uma forma de mistério por desvendar. Caso contrário é mais um papel pouco trabalhado a quem Tim Roth concede o seu enorme talento até disfarçar tal vazio.
Como o vazio é a condição que se estende a todo o filme, apesar das revelações que tenta apresentar, o público pode sair da sala ainda com a garantia de que o mistério de Grace Kelly permanece intacto e que a podemos apreciar cada vez mais por isso.
Que essa ideia seja o traço maior - quase único - da personalidade de uma mulher que marcou o século XX e que continua no imaginário global até hoje já o é. Sobretudo da maneira como essa ideia é forçada sobre público.
Esperar que um episódio isolado defina uma personagem - e uma personagem real, ainda para mais - na sua natural complexidade é um exercício fútil que fica a cargo dos criadores do filme e não do público.
A ânsia de voltar a actuar manifesta-se em Grace Kelly quando Hitchcock lhe oferece o papel em Marnie, num momento em que uma crise política evidencia o afastamento que se criou entre ela e Rainier, o que a tornou numa mulher negligenciada e infeliz.
O filme poderia ter aproveitado para reflectir na mais dura das realidades, que até uma mulher de extraordinária beleza e talento, uma mulher que se tornou Princesa, sofre o mesmo drama mundano de todos os outros casamentos.
Em vez disso, limita-se a afirmar que, contra esse desejo, o Amor fala mais alto e inspira nela um o Sentido de Estado que interrompe o projecto apenas para que se revele que a sua performance maior haveria de ser a de Princesa.
Um conto de fadas dentro do conto de fadas. O amor tudo conquista... excepto o público.
O público já apresentava desconfiança da hipótese de ser olhado como limitado na sua relação com a história e vai vendo esta confirmada a cada cena do filme.
De todas as abordagens que poderiam ser usadas pelo filme, esta em que os problemas só podem desaguar num final feliz é a mais insignificante.
A Grace Kelly do filme tenta assegurar o filme e garantir o restauro de um hospital. Isto até que descobre uma intriga palaciana e logo se decide a enfrentá-la.
A desesperada mulher que tentava ter algum projecto seu lança-se na vertigem da arte da política e não só salva o marido como salva o país.
Decide-se a ter lições sobre o Mónaco e o seu papel político e no intervalo de uma semana consegue transformar-se na Princesa que o povo crê que ela deve ser. A Princesa que salvará o reino com um plano secreto que comove os líderes de todo o mundo.
A conveniência que deveria ser usada meramente como ferramenta de síntese torna-se na única solução do argumento, reduzindo-o a um simplismo confrangedor.
Só que ainda mais absurdo - e ridículo - é que essa semana de lições de etiqueta , o professor tem a arrogância de tentar ensinar a Grace Kelly o ofício da representação. São cenas de um pretenso simbolismo e que sem subtileza obrigam (ou tentam) o público a engolir o único argumento que o filme tem sobre quem foi Grace Kelly: uma actriz num papel "maior que vida" mas absolutamente real.
A escolha de Olivier Dahan para este filme justifica-se amplamente pelo seu currículo. Já havia tornado ridícula a vida de Edith Piaf e garantido a Marion Cottillard um Oscar por isso, porque não haveria de fazer o mesmo com Grace Kelly e Nicole Kidman?
A sua abordagem é a de envolver a actriz na mais precisa reprodução de época. Tão precisa que transmite quase sempre a sensação de artificialidade. Uma verdadeira casa de bonecas em estilo opulento.
E o seu tratamento da actriz passa por lhe filmar pormenores do rosto (veja-se o poster!) na esperança de que consigamos confundir Nicole Kidman com Grace Kelly - impossível em absoluto.
Olivier Dahan estava, provavelmente, a tentar disfarçar o facto de Nicole Kidman estar a fazer de Nicole Kidman e nada mais...
Mas é irónico que num filme em que Hitchcock recomenda a Grace Kelly que não se deixe ficar demasiado perto do limite do enquadramento essa seja a única das soluções do seu realizador.
A haver algo de menos mau no filme, será Tim Roth, que dá vida a um Príncipe Rainier algo misterioso. Isso se quisermos ver num homem reservado e hesitante uma forma de mistério por desvendar. Caso contrário é mais um papel pouco trabalhado a quem Tim Roth concede o seu enorme talento até disfarçar tal vazio.
Como o vazio é a condição que se estende a todo o filme, apesar das revelações que tenta apresentar, o público pode sair da sala ainda com a garantia de que o mistério de Grace Kelly permanece intacto e que a podemos apreciar cada vez mais por isso.
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