segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Bell e Sebastião, por Carlos Antunes



Título original: Belle et Sébastien
Realização: 
Argumento: Juliette SalesFabien SuarezNicolas Vanier
Elenco: 


Os Alpes sempre proporcionaram o cenário ideal para grandes aventuras de pequenos orfãos. Assim eram as séries de animação que nos anos 1980 se viam por cá.
A reinvenção japonesa dos clássicos infantis europeus, não importa as suas limitações, criou fãs cuja nostalgia não é fácil de apagar.
Bell e Sebastião (é bom ver que acertaram com o título que a série tinha por cá) poderia facilmente beneficiar desse fenómeno - embora não me pareça que tal tenha sido feito - a par de um certo vazio de filmes de imagem real a que os pais possam levar os seus filhos.
Só esse conjunto de público adulto poderia vir a encontrar motivos para ver este filme e nem sequer eles ficariam satisfeitos com o resultado.
O início do filme não é mau, aquilo que está mais perto de uma certa construção dramática (básica, mas funcional), onde uma criança a braços com um certo abandono amiga-se com uma cadela.
Nessa fase até a captura "bilhete-postal" do cenário das montanhas parece funcionar em favor da sugestão de liberdade e abandono simultâneos.
Com a adição de elementos de maior complexidade dramatúrgica - sobretudo a presença Nazi - vem aquilo que, quase por paradoxo, reduz o filme a uma caricatura.
Sob a aparência da maravilha quase mágica que é uma dupla aventureira nos Alpes, o filme opta por situações facilitistas que coloquem os protagonistas no caminho dessa aventura de atravessar os Alpes.
Mais do que a conveniência com que a história avança, é no uso de clichés ridículos que o filme mais se vai tornando insustentado, sobretudo porque estes chegam a causar contradições de lógica interna.
Nem mesmo um olhar benevolente de emoção pode resistir ao que essa inépcia narrativa vai fazendo ao filme, mas o mal não termina aí.
O lado infantil(izado) do filme inspira-se na degeneração do modelo Disney, querendo isso dizer que há uma inclusão de interlúdios musicais injustificados que não compensam nenhuma sensação de tristeza ou terror - não é por acaso que o MOTELx este ano passo um trio de clássicos Disney - já que essas foram arredadas por completo.
Nem mesmo no momento em que Bell e Sebastião são perseguidos por Nazis por escarpas geladas tal se sente.
Esses minutos finais são mal conduzidos pelo realizador, incapaz de lhes dar qualquer vislumbre de tensão, nem mesmo quando Bell fica suspensa de uma corda e tem de ser salva - o que, ainda para mais, é uma cena absurda quando o cão deveria ser o herói.
É uma evidência que o cenário dos Alpes em fundo e o protagonismo de um cão de bela presença podem ser suficientes para trazer o filme ao nosso país.
Mais difícil é perceber o que justifica a estreia deste filme por cá em detrimento de outros cujo modelo é em tudo igual com resultados melhores.
Penso especificamente em Tainá – A Origem que passou no mais recente FESTin e que, além de ser em Língua Portuguesa, tem uma consciência ambiental que está totalmente ausente deste filme - algo estranho tendo em consideração que o seu realizador é o mesmo de O Último Caçador.
A isso somaria ainda o cenário tropical mais propício a uma estreia por esta época do ano. Não será por acaso que Bell e Sebastião se tornou num enorme sucesso comercial no seu país de origem tendo estreado por altura do Natal...




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