sábado, 18 de outubro de 2014

Heimat: Crónica de Uma Nostalgia, por Tiago Ramos

Realização: Edgar Reitz
Elenco: Jan Dieter Schneider, Antonia Bill, Maximilian Scheidt, Marita Breuer, Rüdiger Kriese

Na década de oitenta, o cineasta alemão Edgar Reitz iniciou o fascinante projecto de, numa minissérie de mais de cinquenta horas, seguir a jornada de uma família alemã pelo período convulsivo do século XX no país. Cerca de vinte anos depois do início desse projecto, o cineasta volta a recuperar a história daquela família, mas no século anterior, numa altura em que a pobreza severa no ambiente rural da Alemanha levou muitos a procurar melhores condições em países como o Brasil. Mais do que fazer analogias irónicas com a condição actual da Alemanha, há que destacar a vontade de Edgar Reitz (nos seus 82 anos) em tornar transversais os modelos de produção de cinema e televisão e ter a noção que estes não são estanques, mas sim em constante mutação.

Dividido em duas partes (apenas por uma questão logística, dados os seus 225 minutos de duração), Heimat: Crónica de Uma Nostalgia é a epopeia de uma família, mas também de um país que nos últimos anos vive uma história completamente oposta. Através de uma belíssima direcção de fotografia a preto e branco (apenas pontualmente colorida, quase sempre simbolicamente) e com o uso da steadycam, o filme rapidamente remete para o cinema de Béla Tarr, também pela forma franca, crua e rotineira com que segue esta família. A moral do retrato que se faz aqui é quase única e exclusivamente fruto da mente do espectador, já que Edgar Reitz apenas tenta assumir o lado quotidiano daquelas personagens, reconstituindo também uma visão de época, através das noções sociais e de trabalho naquela comunidade rural. Sobretudo nota-se a nostalgia do autor em recuperar um tempo perdido, em recordar um passado, onde se assumem razões mais facilmente sentimentais que sócio-políticas. Um evento cinematográfico, não só pela raridade de vermos produção cinematográfica alemã a chegar às nossas salas de cinema, mas também pela revisitação de uma memória rural que é também ela fascinante, pela reconstituição de um interessante período histórico.


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