Realização: Richard Linklater
Argumento: Richard Linklater
À medida que o passa-a-palavra em relação a Boyhood ia aumentando, crescia também com ele o epíteto de inovador. Foram doze anos a filmar pequenos excertos, uma vez por ano, com os mesmos actores. Sem grandes alaridos, sem pré-aviso. Apenas isso. Dois actores já reconhecidos (sem qualquer contrato assinado), duas crianças de sete anos, uma delas filha do próprio realizador, juntam-se todos os anos e filmam. Filma-se a vida daquelas personagens por doze anos, ficciona-se a sua história, mas simultaneamente assiste-se ao seu envelhecimento real, ao seu crescimento físico e às alterações da sociedade em que estes se inserem. Têm o seu quê de inovador, é verdade. Pouco usual, pelo menos. Mas é sobretudo comovente assistir ao compromisso e envolvimento desta equipa num projecto que poderia nunca ter visto a luz do dia. Comovente porque o que se filma ali não é nada de extraordinário, surpreendente ou original, não são grandes momentos ou eventos. O que se vê ali é a vida, a nossa vida, o espelho do vida, a passagem do tempo. São os pequenos momentos do crescimento de Mason, mas são também os nossos. É aquela conversa com a mãe, aquela brincadeira com amigos nas traseiras do quintal, a primeira cerveja, um banal pôr do sol, um ou outro conflito, alguma situação definidora da vida, um divórcio, um padrasto, a mãe empenhada, as brigas com a irmã, as próprias dúvidas, as mudanças.
Este cinema de Richard Linklater tem a mesma ligeireza e assombrosa banalidade com que nos presenteou na sua trilogia Before. São pedaços do crescimento, momentos de uma vida (como diz o subtítulo nacional) que nunca se absorvem em si mesmos, que conseguem também recuperar - mas sempre de uma forma suave e natural - temas filosóficos, sociais e políticos, alguns deles fracturantes, da mesma forma com que o comum mortal os aborda e os discute no seu dia a dia. Emocionalmente intuitivo, não necessita de se focar nos clichés do crescimento e do coming out, mesmo sendo curiosamente um filme sobre o tema. O que vemos ali é a actualidade do momento, referências que o espectador se recorda como tendo definido determinado ano, cultural ou politicamente, e que é apresentado delicadamente, sem o atirar ao espectador: desde o lançamento do livro Harry Potter and the Half-Blood Prince, à campanha do Obama, ao Dragon Ball Z, passando pela Nintendo Wii, pela banda sonora (desde Britney Spears, passando por Coldplay, até Vampire Weekend). Tudo ao ritmo da vida, com uma extraordinária montagem de Sandra Adair, que permite que um conjunto de episódios quotidianos soe extraordinariamente coeso.
Ellar Coltrane é o elemento que liga tudo isto. Uma criança que cresce perante os nossos olhos, de uma forma tão orgânica, um jovem que é mais apenas um jovem do que um actor. O seu trabalho é ímpar e natural, conjugado pela presença de dois veteranos como Patricia Arquette (provavelmente o melhor papel da sua carreira) e Ethan Hawke (um desempenho bastante maduro). São estes actores (ou é uma família real?) que fazem de Boyhood o filme que é: desarmante, emocional, natural. Tão honesto como a própria vida.
Ellar Coltrane é o elemento que liga tudo isto. Uma criança que cresce perante os nossos olhos, de uma forma tão orgânica, um jovem que é mais apenas um jovem do que um actor. O seu trabalho é ímpar e natural, conjugado pela presença de dois veteranos como Patricia Arquette (provavelmente o melhor papel da sua carreira) e Ethan Hawke (um desempenho bastante maduro). São estes actores (ou é uma família real?) que fazem de Boyhood o filme que é: desarmante, emocional, natural. Tão honesto como a própria vida.
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