Por Joaquim da Silva.
Todos procuramos alguma coisa. No fundo da nossa alma, no lugar mais recôndito do nosso ser mora a essência da nossa busca.
Looking é a história de três amigos. Homens, homossexuais, entre os 30 e os 40 anos, que vivem em São Francisco.
Patrick, o protagonista da série, é um video game developer; Agustín é um aspirante a artista e Dom um empreendedor que
sonha abrir o seu próprio restaurante.
Depois de uma aclamada primeira temporada, em que vemos as personagens desenvolverem o seu lado mais emocional, mais
pessoal, mais profundo, com uma brilhante desconstrução de estereótipos e preconceitos, o espectador é brindado com uma
das mais desapontantes continuações de que há memória.
A segunda temporada, pelo menos os três episódios já exibidos, traz uma série de lugares comuns, tão tristes quanto
desnecessários, àquilo que poderia um dos mais progressistas e modernos retratos dum segmento social já tão historicamente
perseguido como são os homossexuais.
Ora vejamos: Agustín (Frankie J. Álvarez), que apesar de ser a personagem mais unidimensional e emocionalmente perturbada, mantinha uma
relação estável com Frank (O. T. Fagbenle), mas pela sua "arte sexual", essa mesma relação terminou, e em termos desfavoráveis à convivência dos ex-parceiros. E se o terminar de uma relação é sempre algo destruidor, Agustín certamente esquece rápido, pois
não se faz nem se ouve mais alguma menção à dor ou ao desalento. Frank simplesmente desaparece e Agustín torna-se ainda
mais um estereotipado gay dos anos 90 - promíscuo, abusador de substâncias, desempregado, sem rumo, sem ambição.
Se já havia algum desinteresse por ele, então cada vez mais a personagem se torna aborrecida e previsível.
Na mesma linha de regresso ao cliché, existe agora Patrick (Jonathan Groff). Depois de no final da primeira temporada se envolver com o seu
patrão Kevin (how Lewinski of him), vemo-lo agora a fazer o papel de cego e apaixonado amante, a ter de ocultar, esconder
e mascarar aquilo que sente aos olhos do mundo, pois vive uma relação clandestina com um homem comprometido.
Assiste-se ainda a uma das cenas mais ridiculamente estereotípicas e marcadas de qualquer bom filme de adolescentes
americano: o beijo roubado debaixo da bancada de um jogo de rugby, poucos minutos depois de Kevin (Russell Tovey) desprezar qualquer
ligação entre eles e falar apaixonadamente do seu namorado Jon (Joseph Williamson).
No meio desta espiral descendente aparece Dom (Murray Bartlett), o único que parece coerente consigo próprio, que continua a lutar pelo seu
objectivo de abrir o seu negócio enquanto lida simultaneamente com a definição dos seus sentimentos e da sua relação com
Lynn (Scott Bakula). Doris (Lauren Weedman) continua a fornecer o alívio cómico situacional esporádico, e aqui acaba a acção.
Richie (Raúl Castillo), que é a ponta solta na vida de Patrick volta a aparecer na história,
e só nos resta esperar que seja ele o elemento que acabe com o marasmo que se assiste neste momento na trama.
Em suma, Looking tinha tudo para ser um sucesso. E ainda tem. Basta que se consiga voltar a escrever fora do quadrado.
Basta que a equipa de argumentistas queira voltar a tratar com seriedade um tema que nada menos que isso merece:
a afectividade entre seres humanos, independentemente do sexo, e a eterna busca. Seja pelo que for. O melhor da viagem
não é o destino, mas sim a peripécia que aparece no caminho.
P.S.: Parabéns a Murray Bartlett, não só pela incrível forma física, mas também pelo surpreendentemente desempenho, pela
profundidade, pela vida, pela energia, pelo carisma que dá a Dom, sem dúvida a melhor personagem da série.
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