Título original: Anderswo
Realização: Ester Amrami
Argumento: Momme Peters e Ester Amrami
Elenco: Neta Riskin, Golo Euler, Hana Laszlo
Será um acaso de leitura interessante que um filme em que a protagonista tem um projecto de um dicionário de palavras intraduzíveis não consiga traduzir para o público que diferença há entre uma família Israelita e as de outras partes do mundo.
Isso torna o filme mais facilmente "traduzível" para o público, seja ele de que parte do mundo for, mas retira à história a pertinência de se passar em Israel e, particularmente, com uma Israelita emigrada em Berlim.
Estamos perante uma pequena saga de reencontro familiar, despoletada por uma saudade - a primeira palavra do dicionário que ficamos a conhecer - que não permite a racionalização a que obriga a falta de dinheiro de Noa.
Uma saga cuja intensidade vem do matriarcado, com as relações com Noa a agravarem-se de geração em geração, do carinho da avó, à rabugice da mãe e ao confronto da irmã, nada de muito diferente do que costumam ser estes casos de regressos dos familiares que estão longe da casa-mãe.
A relação amorosa de Noa e a saúde débil da avó são os acontecimentos principais daquela visita que só se distingue como sendo a Israel devido ao dia de homenagem aos soldados caídos que antecede a celebração da formação do estado judaico.
Esse é, naturalmente, o período mais interessante do filme, sobretudo porque a aparição do namorado alemão de Noa acrescenta um elemento de desconforto e estranheza ao cenário.
Entre a piada sobre os nazis que o irmão (militar) de Noa faz e a perturbação de Jörg perante as homenagens que o faz sair do cemitério, o filme tenta aproximar-se do que parecia ser o seu tema inicial.
A impossibilidade de diálogo perfeitamente compreensível entre uma judia e um alemão devido aos passados dos respectivos povos. Ou, como diz Noa, o amor entre eles é intraduzível, para os que estão à volta deles depreende-se.
Essa questão do passado tem o potencial de criar sérios problemas na relação familiar, só que o filme não lida com isso.
Afinal de contas a avó de Noa perdeu o seu marido num campo de concentração e todos assumem que ela não aceitará aquele namorado simplesmente devido à sua nacionalidade.
O que o internamento da matriarca da família - e o seu estado de pouca consciência - permite é uma fuga em frente que evita essa complicação da história que, admita-se, mantém sempre um perfil emocional muito calmo.
Quando essa questão é levantada, a avó responde apenas com uma pergunta de ponderação sábia: Ele cuida de ti?
O filme acaba por contornar por completo o tema que o dicionário de Noa anunciava para ele, dos problemas de diálogo, para se mostrar como uma história de contornos universalmente entendíveis porque são genéricos e sem capitalizar na dose de diferenciação que tinham.
Desse projecto, condenado pelas mentes científicas alemãs que não lhe vêem lógica, vamos conhecendo algumas palavras explicadas por emigrantes na Alemanha.
O projecto não se liga à história central do filme senão assemelhando-se a epígrafes para uma suposta divisão em capítulos do filme.
Essa falha de ligação demonstra de forma conclusiva que Ester Amrami não tem ainda a mão experiente para destacar as boas ideias que o argumento tem e fazer valê-lo como filme em torno delas, sem deixar uma série de conclusões sem sustentação, como a tentativa de deserção do exército ou a deportação da empregada da família.
Ainda assim vale a pena destacar-lhe a sensibilidade, sobretudo sustentada pela interpretação de Neta Riskin que consegue traduzir - sem apoio suficiente, diria - a difícil fase de transição para uma idade adulta obrigada à auto-suficiência.
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