sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Review: Schitt's Creek - Temporada 1

Por Joaquim da Silva.

«With your kiss my life began.»


Premissa: uma família rica vê-se envolvida num escândalo financeiro e perde tudo, sendo forçada a reajustar-se à vida numa cidade de classe baixa nos arredores de algum sítio inóspito. Sem luxos, sem dinheiro, têm de sobreviver. Em treze episódios de mais ou menos vinte minutos. Não deve haver assim tantos lugares-comuns de televisão mais usados do que este que acabo de descrever. Especialmente nos anos mais recentes, com o crescendo de escândalos financeiros reais. Então, pergunte-se, o que me leva a ver Schitt's Creek? Provavelmente, nada. Devo sublinhar que eu mesmo só descobri esta série num golpe de acaso, quando procurava o que ver, no meio do tédio dos interregnos dos programas que acompanho. A começar pelo pobre trocadilho do nome da série, e olhando para o elenco, onde destaco Eugene Levy (o eterno pai do Jim da tão imortal como infame American Pie), não há assim nada de especial.

Contudo, já devíamos ter aprendido: "Não julgue o livro pela capa". Schitt's Creek não é uma inovação, não tem um texto genial, não possui um elenco de luxo, não é nada mais que um filler. Talvez por isso, por não haver pressão, se conseguiu um bom produto. Estes treze episódios não fogem a usar todos e mais alguns estereótipos que a sociedade tem sobre os "ricos", os "pobres", os "jovens", os "rednecks". Existe, porém, uma nuance bastante peculiar: todas as personagens parecem em sintonia consigo mesmas. São fiéis à sua origem, sem ser demarcadamente exageradas na colagem ao estereótipo. São uma representação a cores de ideias a preto e branco. Revelam-se profundamente emocionais, capazes de se auto-analisar, de se reinventar, de se adaptar. Desenvolvem-se laços, criam-se confianças, exprimem-se emoções.

Mais, Schitt's Creek não se esconde na comédia para fugir a iluminar levemente temas mais importantes e presentes na sociedade: o colapso do sistema financeiro, o gasto desmedido e impensado, a arrogância dos poderosos (a família Rose é dona da cidade, que compraram como presente jocoso ao filho mais velho). Explora-se ainda, de forma mais continuada, a montanha russa emocional de Moira (Catherine O'Hara) ao ver a sua vida colapsar, a sexualidade de David (Dan Levy) - rotule-se de não convencional, por agora - o desespero de Johnny (Eugene Levy) por não ser mais o "dono e senhor". Alexis Rose (Annie Murphy), a filha mais nova do casal, a menina mimada, é a primeira a aceitar a nova vida, alheada do facto de que essa sua visão é turvada pelo sentimento que a une a Mutt (Tim Rozon).

Apesar de parecer mais uma comédia, Schitt's Creek tem todo o potencial para ser uma série memorável, desde que se mantenha fiel a si mesma, numa perfeita sintonia com aquilo que faz dela aquilo que é: leve, jovem, atrevida, mas acima de tudo, independente. Sem stress, sem pressa, sem correria. Vejam-se, e façam com que não queiramos deixar de vos ver.


P.S.: David Rose é, sem dúvida, a mais interessante das personagens e a sua história exige desenvolvimento, exige interesse, urge ser contada. Não se pode perder esta tão necessária luz sobre a diversidade do comportamento sexual humano, sobre o afecto, sobre a introspecção de cada um de nós, vista nele e por ele.

CBC


Temporada 1

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