quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Inferno, por Carlos Antunes



Título original: Inferno
Realização: Ron Howard
Argumento: David Koepp
Elenco: Tom Hanks, Felicity Jones, Ben Foster, Omar Sy


A evolução nas adaptações que Ron Howard vem fazendo das aventuras de Robert Langdon não disfarça o pouco mérito que tal melhoria tem considerando o ponto de partida.
Até porque os créditos da melhoria não pertencem ao realizador que continua sem conseguir tornar orgânica a verbosidade de um thriller que depende da informação para manter o espectador a par do que se passa quando os personagens encontram um enigma.
Enigmas que estão sempre em pontos do mapa que atraem pela sua sumptuosidade e pela sua História. Infelizmente o filme não pode parar para observar a beleza à sua volta senão brevemente em Florença quando tudo ainda está no arranque. Quando se chega a Veneza ou Istambul a pressa é demasiada.
Os pontos do mapa são marcas onde os personagens têm de se apresentar como num peddy-paper que se espera que seja bigger than life. Como não é, sobra apenas a correria.
Langdon e a sua parceira sempre em fuga de uns e de outros e a serem incapazes de um eficaz secretismo que evite que venham na sua peugada.
Tanto correr não cansa só o espectador, cansou também o próprio Tom Hanks que nunca investiu tão pouco numa interpretação. Ao ponto de, quando questionado sobre a adaptação d'O Símbolo Perdido, ele dizer num tom de piada que não o é que "a boa notícia é que não está contratualmente obrigado a isso".
Em compensação Felicity Jones acrescenta qualidade e não se limita a ser uma parceira de circunstância como as outras mulheres que andaram nestas desventuras com Langdon. A substância é pouca mas a actriz tenta transformá-la em personalidade.
Ela contraria a anonímia a que é votado o elenco  - internacional e de prestígio só para que seja vistoso - somada a um Irrfan Khan que tem classe até sendo irónico com o papel.
Ainda assim não basta que incluam uma tirada de Khan a queixar-se ao subordinado por este lhe estar a explicar o que é evidente para compensar o facto do resto do filme assentar em explicações dadas a especialistas na matéria em causa.
Há que culpar o material de origem pelas maiores limitações deste - como dos anteriores - filmes.
Se o filme é um pouco melhor do que os anteriores é porque a história está mais perto do que a de um thriller deve ser.
Mais do que uma reviravolta acontece ao longo do filme, ainda que isso o torne apenas falsamente complexo.
Os acontecimentos internos são simplistas e o delírio da arquitectura do cenário global da aventura continua a desafiar a lógica (que desaparece quando o filme se encaminha para o final e precisa de começar a atar fios que não iam dar a lado nenhum).
A mecânica ficará sempre por afinar enquanto que a imaginação continuará sem estar ao serviço da narrativa.
Como já passou uma década desde The Da Vinci Code e Tom Hanks já não vai tendo idade para tanta correria, será razoável esperar que o tempo de Robert Langdon fique por aqui.
Não se vislumbra que a qualidade do material melhore e faltariam muitos filmes até que um deles atingisse o patamar da relevância.




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