Argumento: Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Taika Waititi, Archie Yates, Alfie Allen, Rebel Wilson
E é nas mínimas interacções de Rosie com o filho que sabe fanático mas se recusa a aceitar perdido, que vemos primeiramente o lado emotivo do filme transpirar. É quando Rosie se finge como o ausente marido para enfrentar o descontentamento de Jojo, para o fazer aperceber-se da imagem mais fragilizada do pai que julga epítemo da coragem e devoção que a tanto aspira, que nos fica clara a capacidade que o autor tem de fazer evoluir a sátira inicial para um verdadeiro drama ideológico e humano, sem uma única vez se precisar desculpar da mudança de tom, que tão naturalmente constrói.
Mas é verdadeiramente na relação entre Elsa e Jojo que toda a narrativa encontra o seu trunfo mais valoroso. Todo o real terror genialmente demonstrado no seu primeiro encontro, progredindo para a repugnância mútua, mas que consegue no final transpor Jojo para lá da sua mistificada visão do regime na forma de Adolf. Quando Elsa afirma o gosto dos judeus por coisas bonitas e Jojo questiona(-se) se também o terão por coisas feias, olhando sorrateiramente para o reflexo deformado da sua face, facilmente compreendemos a sua opinião renovada sobre uma pessoa e, mais, uma cultura que na verdade, não entende para além do seu assumido gosto por suásticas.
"You’re not a Nazi, Jojo. You’re a ten year-old kid, who likes dressing up in a funny uniform and wants to be part of a club". Servem estas palavras apenas para reiterar o que já Taika nos mostrou no seu belíssimo uso da cinematografia, cenários, música e, mais essencial, actores, para mostrar o desconhecimento, ingenuidade e inocência de um rapaz - e toda uma propaganda ideologicamente mesquinha mas tragicamente convincente - que, se já na altura se inteirou trágica, ainda hoje em dia faz sentir as suas repercurssões e contínuas réplicas.
Quando visualizamos a última dança de Elsa e Jojo, são as palavras do poeta Rainer Maria Rilke que precedem os créditos finais que nos ressoarão ao longo de "Helden" de Bowie e percorrerão cada lágrima que nos possibilitemos largar face uma narrativa tão bela, trágica, comovente e memorável, exemplo da humanidade que nos devemos possibilitar a demonstrar. Como Jojo se permitiu crescer, sejamos também nós heróis.
Hilariante, ternurento, dramático, comovente, o último filme de Taika Waititi não é de todo o filme que estejamos imediatamente à espera. Não é apenas o que esperamos já do realizador, no seu brilhante uso da comédia do absurdo que tanto o caracteriza. Suplanta as nossas superficiais expectativas para se tornar em algo verdadeiramente memorável e digno da maior das recomendações, em toda a honesta humanidade esparrameirada no argumento e encapsulada na caracterização dos seus protagonistas, de onde retiramos nós próprios o mais puro sentimento de afeição.
Será quase inútil referir a genialidade da sátira aqui empregada, que se inicia na utilização do propositado fraco sotaque germânico e se estende à utilização fatigável do cumprimento Nazi por cada pessoa na sala, até se tornar apenas uma sequência de sons quase incompreensível.
Não conseguimos deixar de soltar o maior e mais culpado sorriso face a apresentação de imagens de arquivo ao som de "Komm gib mir deine Hand" dos The Beatles, trazendo imediatamente à tona um cómico mas na sua base assustador paralelismo entre o fanatismo de ambas as partes, ao som dos exageradamente entusiastas gritos dos intermináveis seguidores de Hitler.
Se isso não fosse já suficiente, o Capitão Klenzendorf de Sam Rockwell surge em cena, qual falhado artista de Rock 'n' Roll - não deixando de parte sequer os óculos de sol -, necessitado de se expor no seu auge ao seu mais recentes grupo de jovens fãs, transcrevendo os remorsos nos seus falhanços. E no entanto, é a esse mesmo pretensioso e descuidado Klenzendorf que Taika irá oferecer os mínimos indícios de que este possa não ser o simples soldado frustrado que aparenta, incluindo na sua relação mais aproximada com Finkel, até à sua tão merecida redenção.
Entende-se, na verdade, que a verdadeira mestria do realizador não se esgota na comédia que incorpora naturalmente nas suas personagens e interacções. É antes na verdadeira mas algo inesperada dramatização da narrativa, que assim o pede, face as cirscuntâncias e certamente a própria base novelizada. Pois, se não duvidamos da cómica escrita (e actuação) do autor, patente mais obviamente na imaginada amizade do jovem protagonista com o Führer, é com as atitudes ingénuas de Jojo face o seu próprio desconhecimento da vida que ainda não viveu que nos permitimos reconhecer, nele espelhar, assim lembrar das nossas próprias falhas e preconceitos.
E é nas mínimas interacções de Rosie com o filho que sabe fanático mas se recusa a aceitar perdido, que vemos primeiramente o lado emotivo do filme transpirar. É quando Rosie se finge como o ausente marido para enfrentar o descontentamento de Jojo, para o fazer aperceber-se da imagem mais fragilizada do pai que julga epítemo da coragem e devoção que a tanto aspira, que nos fica clara a capacidade que o autor tem de fazer evoluir a sátira inicial para um verdadeiro drama ideológico e humano, sem uma única vez se precisar desculpar da mudança de tom, que tão naturalmente constrói.
Mas é verdadeiramente na relação entre Elsa e Jojo que toda a narrativa encontra o seu trunfo mais valoroso. Todo o real terror genialmente demonstrado no seu primeiro encontro, progredindo para a repugnância mútua, mas que consegue no final transpor Jojo para lá da sua mistificada visão do regime na forma de Adolf. Quando Elsa afirma o gosto dos judeus por coisas bonitas e Jojo questiona(-se) se também o terão por coisas feias, olhando sorrateiramente para o reflexo deformado da sua face, facilmente compreendemos a sua opinião renovada sobre uma pessoa e, mais, uma cultura que na verdade, não entende para além do seu assumido gosto por suásticas.
"You’re not a Nazi, Jojo. You’re a ten year-old kid, who likes dressing up in a funny uniform and wants to be part of a club". Servem estas palavras apenas para reiterar o que já Taika nos mostrou no seu belíssimo uso da cinematografia, cenários, música e, mais essencial, actores, para mostrar o desconhecimento, ingenuidade e inocência de um rapaz - e toda uma propaganda ideologicamente mesquinha mas tragicamente convincente - que, se já na altura se inteirou trágica, ainda hoje em dia faz sentir as suas repercurssões e contínuas réplicas.
Quando visualizamos a última dança de Elsa e Jojo, são as palavras do poeta Rainer Maria Rilke que precedem os créditos finais que nos ressoarão ao longo de "Helden" de Bowie e percorrerão cada lágrima que nos possibilitemos largar face uma narrativa tão bela, trágica, comovente e memorável, exemplo da humanidade que nos devemos possibilitar a demonstrar. Como Jojo se permitiu crescer, sejamos também nós heróis.
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