sábado, 21 de março de 2009

O Wrestler, por Tiago Ramos


Título Original: The Wrestler (2008)
Realização: Darren Aronofsky
Argumento: Robert D. Siegel
Elenco: Mickey Rourke, Marisa Tomei e Evan Rachel Wood

Mais que uma história do wrestler Randy "The Ram" Robinson, o filme de Darren Aronofsky é a história do renascimento de um herói, de uma figura icónica: Mickey Rourke. E o facto de o realizador de The Fountain ter tido a coragem necessária de convidar o actor para interpretar a personagem de uma estrela em decadência, merece ser destacado. A questão é: o que distingue a linha ténue entre o bom desempenho de um actor e a semelhança com a sua real história biográfica? A personagem e a interpretação de Mickey Rourke fundem-se numa absoluta verosimilhança com a realidade negra, subvertendo o conceito de interpretação.

No entanto a questão mais grave que se coloca em O Wrestler é a previsibilidade de todo o argumento. O filme é quase um documentário da América decaída, dos parques de roulottes, dos derrotados da sociedade, dos vencidos pelo American Dream, daqueles que vivem segundo as glórias de outrora e logo caem na realidade. Mas atenção, não é isso que tira o merecido destaque ao filme. É uma história previsivelmente solitária. Duas almas sozinhas, desiludidas num retrato básico da fraqueza humana em glorificar o regresso dos filhos pródigos, que se reflecte numa sensação de déjà vu.

Mas o que transparece grande noção de realismo e humanismo à trama é sobretudo a câmara de Darren Aronofsky, com planos simples, frios e crus, ao jeito documental, convertendo a história comum num filme relativamente indie. Quanto às interpretações, tanto Mickey Rourke como Marisa Tomei inspiram um regresso inadvertido à glória, tanto que receberam os dois nomeações para os Óscares 2009. Mas mais Rourke, que Tomei. Na interpretação do homem de Sete Semanas e Meia torna-se difícil compreender o que foi processo criativo ou apenas fruto de experiências reais, solário e extensões oxigenadas. Marisa Tomei entrega-nos uma excelente interpretação, mais genuína, mais dramática até que a própria vivência de Randy "The Ram" Robinson e que resulta muito bem quando contracena com o protagonista, mesmo que tenha de expor assim o seu corpo. Mais despercebida, mas igualmente competente foi o desempenho de Evan Rachel Wood. A jovem actriz de Thirteen é o verdadeiro retrato da desilusão, com momentos de grande realismo e emoção.

O que menos se compreende é a exclusão da música de Bruce Springsteen, que surge no genérico final, das nomeações para o Óscar de Melhor Canção Original. A música merecia, no mínimo, a vitória. Em suma, O Wrestler é um filme inspirador na sua realização, menos agraciado no seu argumento, que vive das interpretações e do realismo das câmaras.

Classificação:

2 comentários:

  1. !"Duas almas sozinhas, desiludidas num retrato básico da fraqueza humana em glorificar o regresso dos filhos pródigos, que se reflecte numa sensação de déjà vu."

    Concordo perfeitamente. Não posso deixar de pensar que já vi tudo isto em qualquer lado. Ainda assim, é um filme muito bom com pormenores deliciosos. 8 em 10.

    Abraço

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  2. !"Duas almas sozinhas, desiludidas num retrato básico da fraqueza humana em glorificar o regresso dos filhos pródigos, que se reflecte numa sensação de déjà vu."

    Concordo perfeitamente. Não posso deixar de pensar que já vi tudo isto em qualquer lado. Ainda assim, é um filme muito bom com pormenores deliciosos. 8 em 10.

    Abraço

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