segunda-feira, 11 de maio de 2009

O Lago Perfeito, por Tiago Ramos



Título original: Eden Lake (2008)
Realização: James Watkins
Argumento: James Watkins
Elenco: Jack O'Connell, Kelly Reilly, Michael Fassbender e Tara Ellis

O terror que se publicita ao longo de Eden Lake, mais que visual, é sobretudo psicológico. O filme assenta todo numa base coerente, realista e lógica, levando o espectador a temer mais que uma entidade abstracta, como é usual nos filmes do género.



E o interessante é que no filme não existem heróis nem vilões. A dada altura, acabamos por compreender as acções de ambas as facções e apesar de não as desculparmos, percebemos porque as fazem. Em Eden Lake, não heroísmo, há sobretudo um instinto selvagem de sobrevivência, que desde logo os primeiros minutos do filme vem sido inteligentemente despertado.

O jogo de sobrevivência que o novato James Watkins cria é competente, levando a uma noção claustrofóbica, com violência brutal e crua. O filme torna-se bastante gore, mas não gratuitamente (apesar de usar cenas cliché do género), acabando por revelar uma dimensão pedagógica imensa. Além de assistirmos à evolução da narrativa e das personagens, desde os primeiros comentários que passam na rádio, passando pela noção da professora com vocação, a mulher cobarde e a sobrevivente lutadora, indo até à convicção orgulhosa e amoral de um jovem líder.



Kelly Reilly tem uma excelente estreia no género horror movie, revelando uma capacidade de adaptação bastante positiva e uma enorme competência a nível de desempenho. Michael Fassbender, que de início não encontra o seu espaço, mas finalmente consegue revelar a degradação psicológica por que passam as personagens do filme.

Contudo, é o elenco mais jovem que merece grande parte dos louros, principalmente Jack O'Connell que nos oferece uma visão distinta, mas convergente, da vítima e do predador. E é sobretudo o olhar do jovem que causa ao espectador uma sensação sufocante, que nos apoquenta logo desde o início, que mais do que apenas uma vítima dos actos passados, revela-se um ser calculista e vingativo, que faz-nos temer as gerações mais jovens.



Geração Youtube, frutos de uma educação inconsistente, negligente e irresponsável por parte dos próprios pais que se justificam com um "são apenas crianças", Eden Lake conduz-nos a uma perturbante reflexão sobre os valores que transmitimos aos nossos descendentes. E tal como acontece muitas vezes com as personagens, o que passa para nós enquanto espectadores, é a mesma sensação enojada, próxima do vómito, ao perceber a impunidade com que muitas gerações jovens acabam por triunfar. E aquele olhar calculista de um jovem, por detrás de uns Ray Ban Aviators.

Classificação:

3 comentários:

  1. Vi-o ontem... Apesar de caminhar sobre alguns clichés do género, a imparcialidade e o realismo do argumento trazem uma enorme carga dramática e psicológica a este filme. Aquilo que poderia ser, e até parecia no começo que seria, um banal filme de terror com alguns sustos acabou por se tornar numa importante reflexão sobre vários aspectos relacionados com a forma como os pais educam e protegem os seus filhos...

    Eu gostei bastante de Kely Reilly, mas acima de tudo da alteração de comportamento revelado pela sua personagem ao longo do filme. Portanto, pontos não só para a actriz mas também para o argumentista. A construção da personagem de Fassbender pareceu-me bem feita: aquele começo de tolerância para depois o enervamento, seguido de atitudes irracionais. Faltou-lhe, porém, alguma chama nessa transformação mas depois agarra bem o seu papel e realiza uma performance sólida.

    Watkins está perfeito, enough said. Um olhar forte e um discurso autoritário na liderança de um grupo de jovens (que pretendem ser) rebeldes (como quem diz, aceites).

    Se a premissa inicial é banal e o desenvolvimento é bastante bem conseguido, o final é memorável!! Os ultimos 10 minutos são extraodinários. Sufocantes, desconcertantes, aterrorizantes. Tudo isto sem uma gota de sangue, sem uma morte explícita. Aquilo que era um filme de terror razoavelmente bom foi-se aos poucos tornando num thriller psicológico perturbador. E essa é a sua maior virtude.

    Sei que este texto já tem algum tempo mas pretendia apenas felicitar pela óptima crítica e também deixar as minhas ideias sobre esta surpresa muito agradável! :)

    ResponderEliminar
  2. Respeito demais a critica que li, mas parece q não foi o mesmo filme que vimos, o filme é ruim, inconstante e fica bem claro, mocinhos e vilões. Talvez apenas a personagem de Reilly seja melhor trabalhada, Michael Fassbender esta no piloto automático visto que é um dos melhores talentos da atualidade, não é de se admimirar, entrou numa roubada participando de um filme esquecível. Os garotos funcionam como terror, mas peca em falta de personalidade em cada um, motivações zero e faz parecer que assassinato pode ser cometido com tanta facilidade e diversão como atazanar o garota da bicicleta, seria até interessante se não fosse os vários furos de roteiro e a priguiça de resoluçõe que parecem duvidar da nossa inteligencia, é tão forçada as sequencias que a vítima cai nas mãos dos agressores que lembram uma telenovela. Como disse respeito demais as outras criticas, mas no final do filme é impossivel não segurar o riso tamanha falta de criatividade e a forçada de barra!

    ResponderEliminar