sexta-feira, 1 de outubro de 2010

FOX e as séries, ou como ver bons projectos cancelados antes do tempo


Quando em Agosto estava a escrever os posts sobre as novas séries, deparei-me com a enorme falta de informação por parte da FOX sobre os novos projectos. Ao pesquisar sobre Lone Star, deparei-me com um fórum americano onde um dos amigos do criador da série referia a sua reacção quando este lhe contou que a sua série tinha sido aceite pela FOX: "Lamento.". E na verdade ele tinha razão: após dois episódios, aquela que era considerada como a série que tinha maior potencial desta temporada viu-se cancelada após apenas dois episódios.

Quando já vimos isto acontecer?

Praticamente todos os anos. Nalguns casos as séries não passam do primeiro episódio, noutros são canceladas em temporadas mais avançadas (como o caso de 24), e na maioria dos casos a FOX não dá oportunidade aos criadores de darem um final digno à série. Poderíamos enumerar aqui diversos casos, mas deixamos apenas alguns relativamente recentes e dos quais eventualmente deverão lembrar-se:
  • Family Guy (cancelada em 2001, mas após reconsideração devido à compra dos DVD pelos fãs, a série regressou em 2004)
  • Futurama (recuperada este ano pela Comic Central, após ter sido cancelada pela FOX e terem sido feitas quatro longas metragens)
  • Arrested Development
  • Dark Angel
  • Firefly
  • Wonderfalls
  • 24
  • Dollhouse
  • The Tick
  • The Ben Stiller Show
  • John Doe
  • Terminator: the Sarah Connor Chronicles
  • Reunion
  • Drive
  • Tru Calling
  • Profit
A mais flagrante de todas é possivelmente Firefly, que conta com uma classificação de 9,5/10 no iMDB e foi aclamada pela crítica como a grande promessa de ficção científica. Contudo, dos 14 episódios gravados para a primeira temporada, a FOX exibiu apenas 11 (os quais chegaram a ser transmitidos fora de ordem). Em DVD a série tornou-se um êxito, e deu origem a uma longa metragem (Serenity). E apenas por curiosidade, deixo parte de um diálogo da série The Big Bang Theory (num episódio da terceira temporada onde temos alguns flashbacks):

Sheldon: Roommates agree that friday nights shall be reserved for watching Joss Whedon's brilliant new series Firefly.
Leonard: Does that really need to be in the agreement?
Sheldon: We might as well settle it now, it's gonna be on for years...


O marketing (ou a falta dele)

Tal como referi, a falta de informação fornecida pela FOX a respeito das suas novas apostas deste ano foi alarmante. Veja-se o caso de True Blood, série da HBO, que este ano criou um hype tão grande para a sua terceira temporada que os números de espectadores subiram exponencialmente. Isto é o que é suposto fazer-se para que uma série tenha procura.

Vamos então a uma série da FOX, Fringe. Há dois anos atrás, aquando da notícia da estreia da série, a FOX criou toda uma panóplia de sites virais relacionados com a série, que davam ao espectador a curiosidade certa sobre a série. Isto despoletou o interesse dos fãs de ficção científica mesmo antes da estreia, que permitiu à série estrear com números razoáveis. Depois disto, a FOX encostou Fringe às boxes e até hoje, na terceira temporada, continuamos à espera que a estação se lembre que existem fãs que gostariam de não se sentir abandonados.

A questão aqui é: como quer a FOX ter números aceitáveis de espectadores se não trabalha nesse sentido? Lone Star estreou com 78/100 no Metacritic, um número consideravelmente acima da média de outras séries (que têm uma média de cerca de 60/100), mas os espectadores não corresponderam às expectativas da estação e a série durou apenas dois episódios. O que fica por saber é o que fez a FOX para despertar a curiosidade nos espectadores para que estes ligassem a tv para assistir à série.


As expectativas erradas da FOX

Além de toda a questão do marketing, a FOX é conhecida por ter expectativas acima do que se pode considerar razoável. Algumas séries demoram o seu tempo a atingir o número certo de espectadores (veja-se Seinfeld, uma das maiores séries de sempre, que no início teve números baixíssimos), mas na FOX ou é um sucesso desde o primeiro episódio, ou a série é cancelada. Num presente em que existem tantas alternativas a nível de séries, seria de esperar que as estações apostassem em transmitir os episódios e aguardar pela reacção do público, e não cancelar séries antes que o público saiba que elas chegaram a existir.

Horários

Por fim, na longa lista de "coisas que a FOX faz para sabotar as próprias séries", temos os horários. Além de horários muitas vezes instáveis devido a transmissões de outros conteúdos, a estação tem o péssimo hábito de colocar séries que não atingiram os níveis certos de espectadores a competir com grandes apostas de outras estações (veja-se Fringe a competir com Grey's Anatomy, por exemplo). Em vez de tentarem manter a legião de fãs, obrigam-nos a optar entre séries, muitas vezes perdendo muitos espectadores.

Notas finais

A FOX consegue muitas vezes o contrato para as grandes ideias para novas séries. A seguir, pega no episódio piloto, disseca-o e ordena aos argumentistas que o refaçam (veja-se Dollhouse, em que o episódio piloto original dava um ritmo completamente diferente à série), não publicita devidamente a série, coloca-a num horário errado e a seguir cancela-a porque as audiências não corresponderam. E deixo a questão: não corresponderam exactamente a que esforços por parte da FOX?

13 comentários:

  1. Caneco, fiquei mesmo a detestar a estratégia da FOX.
    Se algum cliente me mandasse reescrever um episódio (ou série) a seu bel prazer e depois me dissesse que não resultou, espalhava um comunicado para evitar que se fizessem mas contratos com "ele".

    Bom, mas o que vale é que não é uma guerra nossa. Resta-nos a internet para acompanhar todas essas séries. Espero que a estreia quase simultânea de ‘The Walking Dead’ en vários países (incluindo PT)seja uma mudança na mentalidade da FOX.

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  2. Excelente o artigo de opinião. Importante até.
    A FOX e os outros canais americanos generalistas, vivem das audiências e não lhes faz diferença alguma se as séries têm valor ou não desde que garantam espectadores.
    Temos de entender que estes canais vivem de muitas conjecturas que são relacionadas.
    Um outro exemplo é que certas temáticas não as podem aprofundar se não são atingidos com queixas.
    Agora nada disto se passa com os canais de cabo privados, que esses sim podem se dar ao luxo de entrar por outras témáticas mais fortes (com cenas de sexo incluido) mas onde o factor de qualidade é sempre o mais importante para garantir clientes e subscrições dos canais. Não é à toa de Californication, True Blood, Big Love e tantas outras têm sucesso de critica e algumas audiências por passarem nos privados.

    Nos canais abertos, as séries (que são o nosso equivalente ás telenovelas) são produtos que têm de ser comerciais e garantir audiências. Estes canais até podem fazer exigências aos produtores das séries que exibem para abrirem concessões e repetirem alguma fórmula que tenha resultado audiências. Glee, Fringe, Lost, Dr.House, Desperate Housewives, Smallville, etc são alguns exemplos de séries desse regime.
    A Glee é até gritante do aplicar de fórmulas (ou não teriam episódios dedicados às vedetas pop com esse fim...)
    É mais ou menos isto que por lá sucede e que, em minha opinião, faltou também focar este ponto no artigo, que é o outro lado da situação.
    Eu fiquei totalmente triste quando a Dollhouse (e outras como a Terminator SCC) foi cancelada mas entendi. Por exemplo a excelente série Medium também havia sido riscada e safou-se ao ser adquirida num canal de cabo privado, facto que lhe tem mantido a longevidade...

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  3. A questão aqui é pensar que raio de estratégia usam eles, mais um pouco e quase estaria capaz de dizer que as séries da FOX que passaram da segunda temporada foram um mero golpe de sorte...

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  4. Muito bom,este artigo!
    Dessas que referiste tenho que admitir que arranjei de tudo para ver a Dollhouse completa e adorei a série...
    Tem ritmo,boas performances e a história por ser enigmática prende os espectadores ao écran...
    Como devorador de séries que sou este assunto interessa-me particularmente...
    Aguardo por novos artigos deste género...

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  5. Pois, as críticas apontadas à série é que os americanos não gostaram de ver alguém que estava casado com duas mulheres e vivia uma vida dupla, e por isso não aceitaram a série... Enfim.

    Quanto à cabo é a única esperança de muitas séries, mas neste caso não me parece que se vá aplicar. Ainda não posso dizer se é pena porque ainda não assisti aos episódios, mas tendo em conta as críticas parece-me que seria uma série no mínimo razoável.

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  6. Muito obrigada.

    De referir que este artigo é sobre a estação norte-americana FOX, não a nossa Fox.

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  7. Não gostaram de ver uma série em que um homem é casado com duas mulheres?
    Mas gostam de uma onde é casado com três...
    Enfim!
    Mentalidades!

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  8. É exatamente o que todos pensam mas muitos não dizem.
    A FOX é um problema sério. Desde o cancelamento da ótima Tru Calling que eu não confio mais no canal.

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  9. É verdade, e para mim é falta de respeito para com quem lhes paga os salários. Cancelar séries sem dar hipótese de dar um final é das piores coisas que pode acontecer aos fãs.

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  10. ADOREI que tenhas feito esse artigo, que ainda por cima é genial.

    Irrita-me tanto a falta de paciência de televisões generalistas que hoje em dia só consigo não dizer mal dos canais privados, que não sei se as TV públicas norte-americanas já repararam, são os canais que com menos audiências vão ganhando em séries de qualidade, em troféus e em carisma.

    Não é por nada que a HBO tem "True Blood", "Bored to Death", "Treme", "Entourage", "Boardwalk Empire", "Hung", "In Treatment", "Big Love" (aclamada pela crítica e que lida com 3 famílias mórmon, portanto um tema pior que este de "Lone Star") e "Curb Your Enthusiasm" ; a AMC tem "Mad Men", "Breaking Bad" e "Rubicon"; a Showtime tem "Weeds", "Nurse Jackie", "United States of Tara", "The Big C", "Dexter" e "Californication"; a FX tem "Justified", "Sons of Anarchy", "Rescue Me" e "It's Always Sunny in Philadelphia".

    Há anos que uma série dramática de uma TV pública não era nomeada para um Emmy, por exemplo. Teve que vir "The Good Wife" este ano da CBS, que ainda por cima nada tem a ver com o panorama restante de séries da CBS, que varia dos "CSI" para os "NCIS" e pelo meio tem sitcoms várias (da lame "Two and a Half Men" até à nerdy "The Big Bang Theory" passando pelo herdeiro de "Friends", "How I Met Your Mother"), para conseguir a nomeação (e desculpem-me, mas "The Good Wife" tem TODO o ar de uma série da Showtime).

    Enfim. Tudo isto para dizer que as TV públicas fartam-se de cancelar boa programação só porque não atingem os valores que desejam, ainda por cima muitas vezes por culpa deles, como bem disseste.

    Um exemplo gritante: a CBS e a FOX rejeitaram "Friends", na altura o piloto ainda era conhecido por "Insomnia Café", quando lhes foi proposta a ideia. Resultado: a NBC foi 10 anos seguida #1 em audiências devido ao combo Frasier + E.R. + Will & Grace + Seinfled + Friends. O mesmo "Friends" cujo final foi visto por 52,5 milhões de espectadores.

    Abraço,

    Jorge Rodrigues
    http://dialpforpopcorn.blogspot.com

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  11. Bom artigo! É realmente triste ver as séries que mais gostamos a ser canceladas de um dia para o outro. E acontece tanto mas tanto.... :(

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